"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A propósito da reedição da obra, se fosse hoje Zeca tinha escrito os Fantoches de Lavrov, com dedicatória aos partidos alegadamente de esquerda que só querem "a paZ! a paZ! e nada mais que a paZ!", enquanto repetem a propaganda de Putin. Ele que tinha como lema "sou o meu próprio comité central" e por isso era detestado pelos que agora não têm pejo em usar a sua música como banda sonora de festas e eventos.
Depois do José Saramaguismo aparece agora o José Afonsismo, pelas pitonisas do dogma, aqueles que sabem o que o Saramago, e o Zeca, pensavam sobre determinado assunto caso fossem vivos. Do Saramago é mais fácil, já que tinha comité central, ainda que com desvios [passiveis de auto-critica e punição à luz da realidade do "socialismo real"]. Em 1920 seriam desvios "trotsquistas". Do José Afonso a coisa fica mais complicada porque, segundo o próprio em entrevista ao defunto semanário Se7e, ele era o seu próprio comité central. Ainda assim vem a viúva e vem o filho e vem o editor e vem o PCP, que o Zeca não podia nem com molho de tomate, - "eu sou o meu próprio comité central", e só não vai à Festa do Avante! porque não ia se fosse vivo. Ainda assim "venham mais cinco".
Embalada pela vitória na aprovação da Lei da Cópia Privada, que lhe permite extorquir dinheiro aos cidadãos para distribuir pelos associados, a Sociedade Portuguesa de Autores acha-se agora no direito de poder retirar às famílias os cadáveres dos entes queridos, contra a sua vontade e contra a vontade do defunto, porque "representa 26 mil autores de todas as áreas e tem 93 anos de existência".
Logo "a matar". Logo para arranjar um ponto que permita uma identificação rápida com as gentes de Setúbal. Logo a "queimar etapas". Logo direitinho ao coração:
Muito antes de David Byrne ter descoberto as virtudes da World Music, de Paul Simon ter disparado nos tops com Graceland, ou mesmo dos The Clash terem ido até ao ghetto apanhar bebedeiras de reggae, já José Afonso misturava os sons e instrumentos africanos com os sons e os instrumentos da música popular portuguesa. É música de pretos, ouvia-se nas tabernas. Nunca fomos um povo racista. Ainda por cima é do reviralho. Azar. Sempre fomos muito pequeninos.
Na Adega dos Garrafões, ali mesmo a meio da Rua Arronches Junqueiro, antiga Rua de S. Sebastião, que Escandinávia Bar, como clip de apresentação de Galinhas do Mato, foi filmado.
Recordo hoje, aquela noite em que nós dois, fomos júris, na finalíssima de um concurso de música moderna portuguesa, nos saudosos claustros do Convento de Jesus em Setúbal.
(As bandas eram tão más - recordas-te? - que nem me consigo lembrar de uma só que seja!).