"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Miguel Pinto Luz, o secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações que em 2015 vendeu a TAP a custo zero na vigésima quinta hora, aparece em 2025 como ministro das Infraestruturas e Habitação a afiançar que a TAP não vai ser vendida ao desbarato.
Quem vai decidir as matérias a integrar no "teste"? Quem vai avaliar as respostas dos candidatos? Quais os critérios para passar ou chumbar na avaliação? O que é "cultura portuguesa"?
Governo fecha as portas ainda mais à imigração. "Economia terá que se adaptar". TGV, terceira travessia do Tejo, novo aeroporto. Já faltam 100 mil, segundo os patrões, mas a "economia terá que se adaptar", e ainda nem começaram as obras do século. O Governo que não consegue fixar os indígenas altamente qualificados, que emigram por causa dos salários para países com a carga fiscal superior aquela que o Governo baixou para os reter por cá, é o mesmo Governo que quer receber menos imigrantes, dando preferência clara aos "altamente qualificados". TGV, terceira travessia do Tejo, novo aeroporto. Pedreiros, serralheiros, soldadores, carpinteiros, cofreiros, electricistas, pintores etc, etc, altamente qualificados, com doutoramento, mestrados e MBA, em empreitadas, sub empreitadas, e sub sub empreitadas. Há os patetas, e depois há os que gostam de ser tomados por patetas.
Um preto e uma entrapada, a imagem do imigrante, cliché e preconceito, o Governo a dar o exemplo. "Revisão da lei da nacionalidade", para todos os nacionais? "Descontrolo na imigração no passado", ainda faltam 100 mil, segundo os patrões, e ainda nem sequer começaram as obras do novo aeroporto, do TGV, da nova travessia do Tejo. "Limitação ao agrupamento familiar", o mecanismo que mais estabilidade dá, e mais contribui para a integração, até o João Félix levou a família com ele quando assinou pelo Atlético de Madrid. "Repatriamentos mais céleres", pena o desinvestimento na ferrovia, agora enviávamos vagões de gado cheios para a terra deles, já nem o trabalho liberta. Repressão e surfar a onda da ignorância e do instinto primário, ao invés da pedagogia. Entretanto o Governo apagou o tweet da vergonha, fica aqui para memória futura. A direita no poder, ódio, xenofobia, preconceito.
Pescar à linha meia dúzia de medidas, inócuas, indolores, incolores, nos programas dos diversos partidos, e que só não estão no programa do partido do Governo por esquecimento ou de propósito, para serem depois pescadas e mostradas como exemplo de abertura à negociação, como se o problema fosse esse e não o que não foi dito em campanha eleitoral, e que nem sequer constava no programa sufragado nas eleições.
Lembro-me de o meu pai ter uma semana de férias por ano, não retribuídas e quando o patrão achasse que as devia ter, e um dia de folga semanal. Era Portugal um país livre da rigidez laboral e Marcelo presidente, do Conselho. O Luís a trabalhar faz anunciar que os portugueses trabalhadores colaboradores podem ter mais que os 22 dias consagrados em lei, e que não são os 3 fanados no tempo da troika, quando o Luís fazia figura de ponto a Passos Coelho no Parlamento, e que o PS se recusou devolver, são férias compradas a expensas do trabalhador colaborador, que mexer na mais-valia do accionista e do patrão é assunto tabu, e se calhar o dinheiro recebido pelas férias compradas até vai ser reinvestido na economia para criar mais riqueza para o país e para o trabalhador colaborador e mais emprego, como aconteceu com a baixa do IRC pelo Luís quando começava a trabalhar, com o apoio do PS do esquerdista Pedro, e tudo. Imaginem o Luís a trabalhar no tempo em que se começou a lutar por um horário de trabalho que não fosse de sol-a-sol, que não podia ser, por causa da economia, do crescimento económico, da criação de riqueza e o caralho, queres horário de trabalho compras as horas até ao nascer e ao pôr do sol, e depois com os dois dias de folga e as férias pagas, e por aí. Diz o Luís a trabalhar que é para aliviar a rigidez da legislação laboral e para ser feito em concertação social, o que significa que isto já está mais que aprovado, como mostra desde 1978 o sindicalismo homenzinho e responsável empenhado em aliviar a rigidez laboral em prol da rigidez patronal, com mais ou menos cálices de Porto à mistura.
[Na imagem o alegado sindicalista, homenzinho e responsável, Torres Couto de cálice de Porto na mão brinda com Cavaco Silva o início do amaciamento da rigidez laboral, em troca dos amanhãs que cantavam para os trabalhadores antes de serem colaboradores]
E enquanto proferia esta genialidade era muito aplaudido no Parlamento pelas bancada do PSD e do partido que não existe enquanto o ministro da Habitação abanava a cabeça em sinal de concordância.
[Imagem poster de propaganda sovietico "Every kitchen-maid must learn how to rule a state (Lenin). Forget about your kitchen and join Soviet elections!"]
De presidente do conselho de administração de uma fundação privada, beneficiária da privatização de uma instituição pública - Oceanário de Lisboa, por quem o convidou para secretário de Estado - Passos Coelho, para ministro da "reforma do Estado" do primeiro-ministro que afirmou "o meu passado chama-se Passos". Preparem-se que não vão ser as 112 páginas de Portas em tamanho 36 e com duplo espaçamento.