"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Eu sou muito patriota, muito muito muito, e muito respeitador, muito muito muito, e não recebo lições de ninguém, de ninguém de ninguém de ninguém, nem com um desenho, apesar de 5 – cinco – 5 meses depois das eleições continuar sem perceber o que aconteceu no dia 4 de Outubro do Ano da Graça de 2015. E, como não percebo, não percebo não percebo não percebo, apareço muito aflito, muito aflito muito aflito muito aflito, a dar a notícia em primeiríssima mão em Bruxelas, que eles não sabiam e as novas levam tempo a chegar, que o Governo português é apoiado por duas forças da esquerda radical, uma delas claramente anti-europeia – o PCP, e a outra – o Bloco, com concepções económicas incompatíveis com a economia social de mercado que está na base da União Europeia tal como a conhecemos, ao invés de me dedicar a estudar o sistema parlamentar constitucional português e tentar perceber porque é que o povo – os eleitores, os cidadãos, as pessoas anónimas, os que não escrevem nos jornais nem são pagos para dar bitaites em programas de televisão, depois de 4 – quatro – 4 anos Governo do meu partido, PSD – europeísta convicto, em coligação com um partido com concepções compatíveis com a economia de mercado – o CDS, sob a batuta da Europa do Partido Popular Europeu a que pertenço, decidiram com o seu voto, em eleições livres e democráticas, "engordar" as bancadas parlamentares dessas duas forças políticas, "anti-europeias" e "anti-economia social de mercado", se bem que nem eu saiba o que é que o "social" ali faz, mas que fica bem a enfeitar, fica, e ainda soa melhor quando dito. Esta é a versão bondosa que se espalha ao comprido na própria semântica e argumentação, já que continuo sem respeito nenhum, nenhum nenhum nenhum, pelo país, nem pelos cidadãos nem por quem, com o seu voto, decidiram colocar à frente do destino do país. Ai custa, custa, Dr. Rangel!
O país onde Pedro Passos Coelho, o líder do maior partido da oposição, ou o "primeiro-ministro no exílio", como preferirem, passa mais tempo nas televisões que António Costa, o primeiro-ministro de facto, e até mesmo do que quando era primeiro-ministro do Governo da coligação de direita, chegando a televisão generalista do militante n.º 1 a fazer aberturas de telejornal com 3 minutos de declarações do senhor, intercaladas por traduções e interpretações em voz-off às declarações. A preparação da opinião pública e do eleitorado é um trabalho nunca acabado.
Quando um caso de manifesta [in]competência e de gritante [i]responsabilidade, ainda para mais com reflexos directos na imagem de país, no Orçamento do Estado e no bolso dos portugueses, vai, invariavelmente, desaguar numa questão de "asfixia" e "claustrofobia" e de "jobs for the boys", estamos conversados sobre a qualidade e o nível da direita que temos e quem na realidade foi/ é o boy com job que urge preservar.
[Para bom entendedor uma imagem basta. O biombo foi encontrado aqui]
Pôr Cavaco Silva, na hora da abalada, a presidir aos Conselho de Ministros do Governo que fica e que ele não queria nem por nada e que só empossou porque a isso foi obrigado, ainda assim só passados 50 dias de audições a todas as colectividades e agremiações, com ou sem utilidade pública e isenção de imposto, e de um intervalo nas ilhas adjacentes para dar tempo aos "mercados" que não estavam para aí virados.
O sucesso do Governo que devolvia 0% de sobretaxa de IRS, simulada online a começar em 35%, enquanto cortava 600 milhões de euros em pensões a pagamento e mantinha temporárias cá dentro as medidas que assegurava definitivas em Bruxelas no lamento dos custos de trabalho elevados, "a reforma que ficou por fazer". Social-democracia, sempre!
"Fomos nós, ainda no ano passado, que gradualmente começámos a remover as medidas de austeridade. Esse processo de remoção de austeridade é uma espécie de prova dos nove de que fomos bem-sucedidos"
A ideia que passa é que pela primeira vez em 5 anos há alguém que efectivamente governa e que se preocupa com quem é governado, que apresenta propostas, que discute alternativas, que negoceia e regateia, faz valer o seu ponto de vista e não se limita a abanar a cabeça, dobrar a espinha e "Ja, Frau. Schnell, schnell".
O jornal do militante n.º 1 faz uma primeira página one size fitls all que vale para tudo e para todos em qualquer ocasião, passada, presente, ou futura, como se fosse um furo fantástico, conseguido por um acesso privilegiado a fontes muito bem colocadas em Bruxelas, sobre uma espada de Dâmocles sob a cabeça de António Costa e do XXI Governo constitucional para depois a televisão do militante n.º 1 passar o fim-de-semana a repetir, a todas as horas certas em todos os telejornais, o furo one size fits all conseguido pelo jornal do militante n.º 1. A agit-prop continua de vento em popa.
O wishful thinking da direita, ressabiada e analfabeta política, "vencedora" das eleições mas a continuar sem perceber o funcionamento do sistema parlamentar-constitucional, é que a derrota de Edgar Silva nas Presidenciais seja o empurrão para o PCP fazer cair o XXI Governo Constitucional, o do Costa, o do monhé [à boca pequena] e assim haver um regresso triunfante de Pedro Passos Coelho ao poder, agora em coligação com alguém que o CDS queira disponibilizar e que tenha coluna vertebral para pau-mandado [que Paulo Portas já viu o filme e saiu de mansinho antes que fosse tarde] e antes que comecem as manobras de bastidores dentro do PSD, que o "pote" já era. O PCP que se viu na obrigação de se chegar à frente no day after às legislativas de 2015, pressionado pelo resultado eleitoral do Bloco de Esquerda, ia agora chegar-se atrás e tirar o tapete a António Costa, ao PS e ao Bloco de Esquerda, pressionado pela "vitória" eleitoral de Marisa Matias. Que os comunistas são tudo e até malucos, sabem. Wishful thinking.
O velho CDS da direita radical com a capa de centro-direita está de regresso para onde sempre esteve e de onde nunca saiu, apodando de "destruição" os 50 dias que o XXI Governo Constitucional leva em trabalhos de reconstrução e restauro, depois de 4 anos de coligação PSD/ CDS, pedreiros e serventes de pedreiro, no desmantelamento do Estado, na supressão e eliminação das suas funções sociais, na criação de um Estado paralelo, pago pelo contribuinte e administrado por Misericórdias, IPSS’s várias e outras instituições ligadas à Igreja Católica [tag], privatizações opacas, desrespeito pelo ambiente, pela Reserva Agrícola Nacional e pelo ordenamento do território [7 posts], embaratecimento dos custos do trabalho w precarização laboral, tudo com a boca cheia de doutrina social da igreja, Papa Francisco, combate às desigualdades e "elevador social". Quem não os conhece que os compre, não tem direito a "estado de graça".
Curiosamente o partido que não precisava de programa de Governo porque o programa da troika era O Programa, o que tinha sido essencialmente influenciado pelo partido nas negociações com a troika, Catroga dixit, um rascunho que era mesmo preciso surpreender e ir mais além do acordado, no que tocava a cortes nas funções sociais do Estado, na redução dos custos do trabalho e na retirada de direitos e garantias, naquela parte que tocava ao financiamento do ensino privado «and reducing and rationalising transfers to private schools in association» nunca houve memorando a cumprir por causa da nossa imagem, nunca houve imposição dos credores nem mãos atadas no protectorado, antes pelo contrário.
Houve um tempo em que Cavaco Silva dizia que devíamos todos falar todos muito baixinho para não acordarmos os mercados. Agora que os mercados estão a dormir embalados pelo sucesso da execução do programa de ajustamento e nos emprestam dinheirinho para encher os cofres a taxas de juro muito favoráveis por causa da teimosia do senhor Draghi, Cavaco Silva diz, que é como quem diz, avisa, que devemos todos ter muito cuidado para não afugentarmos os investidores externos, cheios de pavor por as pessoas contarem mais uns eurinhos nos bolsos, depois de Cavaco Silva ter andado 50 dias a engonhar uma solução governativa enquanto gritava que vinha aí o comunismo e o Pacto de Varsóvia enquanto ouvia associações patronais que gritavam que vinha aí o comunismo e o Pacto de Varsóvia, sub associações patronais que gritavam que vinha aí o comunismo e o Pacto de Varsóvia, sub sub associações patronais que gritavam que vinha aí o comunismo e o Pacto de Varsóvia, banqueiros, por grosso e por atacado, que gritavam que vinha aí o Vasco Gonçalves e o Pacto de Varsóvia, depois de quatro de anos do Governo que já era e de 15 dias do Governo que não chegou a ser a esconder da troika, do contribuinte e do eleitor, não necessariamente por esta ordem, o descalabro do sistema bancário português - por causa da tal "saída de sucesso", e onde os grupos não eram os bancos e os bancos não eram os grupos, como Cavaco Silva também tinha avisado.