"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E ainda no próprio dia, ideólogos, apóstolos e escudeiros do personagem que é o que escolheu ser, inundaram a rede, e no Twitter e no Facebook o ministro Centeno levou com o trocadilho e passou a ser o "ministro Semtino". E riram. Riram muito.
A direita filha da puta, habituada a fazer os outros à sua imagem, que no Twitter e no Facebook tratava, e trata, António Costa por "o monhé", "qué flô? qué flô?", sem argumentos arma um escarcéu onde não há nada, absolutamente nada mais do que mesmo que se herr Schäuble fosse de skate, de andas, de sandálias Birkenstock ou em tacões glam New York Dolls, o Governo da direita radical ajoelhoava-se sempre e, não só se ajoelhava, como também rezava.
E o mínimo que o Governo português podia fazer era chamar o embaixador alemão ao Palácio das Necessidades, para dar um sinal de que estamos vivos, de que temos dignidade, quase mil anos de história, e de que consideramos inaceitável que um qualquer badameco, ainda que investido nas funções de ministro das Finanças de um país da União Europeia, tome a liberdade de se pronunciar sobre a orientação política e económica de um Estado soberano, por um Governo legítimo, eleito em eleições livres e democráticas.
Já continuarmos todos a falar todos os dias dos países do sul da Europa, com Portugal e Grécia à cabeça, da dívida soberana e do cumprimento das metas do défice, puxados para qualquer conversa por dá cá aquela palha, nunca é demais.
Quando na Alemanha abordamos as políticas de combate à chamada crise europeia falamos sempre da história de sucesso de Portugal. Estamos muito confiantes e não há nenhum problema.
Portanto tem razão Maria Luís Albuquerque quando, sentada ao lado de Wolfgang Schauble para grego ver, diz que fosse ela ministra das Finanças e nada disto acontecia, com as metas sempre ajustadas de modo a que a realidade encaixasse na teoria. Na realidade são bombardeamentos preventivos, com o alvo aferido para não sair do caminho definido pelos representantes das Goldman Sachs na União Europeia, não com tanta intensidade como na Grécia porque, afinal de contas, o Partido Socialista é o campeão da Europa e da integração europeia e não uns syrizos-trotskistas quaisquer, ainda que os trotskistas estejam hoje exactamente no mesmo sítio onde estavam os partidos ditos do socialismo democrático na Europa dos anos 50/ 60 do século XX, tal foi a viragem à direita e a perda de identidade.
Também Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, em vésperas de se saber mais uma penhora às contas do clube ou mais um processo perdido para os credores, aparece nos media a falar do Benfica coisas que só ele sabe, que só ele é que ouviu, a que só ele teve acesso.
A independência do banco central, e do respectivo Governador, inimputável e isento de críticas – pressões inaceitáveis e inqualificáveis da 'esquerda totalitária', só se aplica a Carlos Costa, biombo da direita no Banco de Portugal, apesar das conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, renomeado pela direita para o Banco de Portugal, renomeação a pagar, com juros, pelos portugueses, durante os próximos muitos e bons anos. E a independência do Banco Central Europeu, e do seu Governador, também. Até ao dia em que o master fala e as voices escutam atentamente e dizem que sim e argumentam com o inevitável e insuspeito princípio do totalitarismo "manda quem pode" ler "manda quem paga" e a Alemanha é que paga pode.
No BCE a direita da 'escola alemã' não precisa de um biombo, precisa de um sniper.
E o day after ao se "atirar dinheiro para cima", para atender a um problema que inevitavelmente vai ser cultural e civilizacional? [E até porque já passámos da fase dos bairros periféricos de Paris a arder. Next level.]