"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Continuamos, União Europeia, a comprar gás e petróleo à Rússia - até há oligarcas russos do círculo de Putin a receberem milhões de euros em fundos comunitários para a produção e comercialização de vinho na Europa, e assim contornarem as sanções, como denunciou o Aftenposten, o diário de maior circulação na Noruega, mas por causa da transferência de um jogador manhoso qualquer de que não reza a história Rui Costa pode vir a ser arguido por violação de sanções à Rússia. Queremos ser levados a sério?
Hollywood foi fértil em produções cujo argumento girava à volta de famílias soviéticas introduzidas clandestinamente nos Estados Unidos e, com identidades falsas, aí constituíam família, faziam carreiras em todas as áreas da vida política e social norte americana, desde empresas privadas a departamento de Estado, à espera do click do Estado soviético para desempenharem uma qualquer tarefa de minagem e sabotagem da democracia, eram as chamadas "células adormecidas".
Este frenesim de Trump com as ordens executivas, o ataque aos departamentos de Estado e organizações de apoio humanitário, as taxas aplicadas aos até agora parceiros comerciais, a aproximação à ditadura russa, o apoio descarado à extrema-direita europeia, patrocinada por Putin, este afã em acabar com décadas de hegemonia americana no planeta, em destruir o denominado soft power, em reduzir os Estados Unidos à insignificância, faz lembrar as tais produções de Hollywood só que desta vez nem o FBI nem a CIA estão lá para pôr fim à conspiração, infiltrados e destruídos por dentro com as nomeações e ordens executivas. Make Russia Great Again é o que na realidade está escrito naqueles bonés de pala ridículos
Vladimir Putin diz que Deus lhe deu a missão de defender a Rússia. O Donaltim de Putin na Casa Branca diz que Deus o salvou para tornar a América grande outra vez. Francisco, Papa, o secretário de Deus no planeta Terra, está a morrer num hospital de Roma. Há aqui qualquer coisa que não bate certo...
Gajo que recusou reconhecer a derrota nas urnas e que patrocinou um motim com vista a impedir a tomada de posse do legitimo vencedor em eleições livre e democráticas, repete a conversa de gajo no poder há 26 anos, que alterou a constituição para por lá se manter até 2036, que é eleito por chapelada no país onde os opositores caem das varandas ou são assassinados, depois de prisão arbitrária ditada por tribunais subservientes ao poder político, sobre a ausência de legitimidade de um presidente de país em guerra, sob lei marcial, com milhões de deslocados - internos e externos, zonas desertificadas e outras em constante mutação fronteiriça. Que é um ditador que não vai a votos. Que não quer a paZ. Pela repetição da cassete, que ambos são leitores do órgão oficial do partido português que não é putinista [e agora nem trumpista] com saída periódica às quintas-feiras é a grande novidade nisto tudo.
"A culpa é do José Lensky". Não, não veio escrito pela enésima vez no Avante! desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, foi Donald Trump quem o disse a seguir à conferência de Riade onde Marco Rubio entregou tudo a Putin sem que Putin lhe tivesse pedido alguma coisa e onde acabou a impor condições e a definir linhas vermelhas.
Quem se interessa por estas coisas da história conhece os mecanismos que levaram à absorção pela Rússia dos sovietes daquelas que viriam a ser as futuras repúblicas socialistas soviéticas, mecanismos em tudo iguais ao usados por Putin na Arménia, na Bielorrússia, no Donbass, e em curso na Geórgia. Falhou na Ucrânia porque "o comediante", como lhe chama os minons do partido que não é putinista, disse que as suas costas era coisa que o ocupante russo não ia ver. E Putin sabe a história, por a ter estudado e por a ter ouvido contar na primeira pessoa ao seu avô, o cozinheiro de Estaline, o Estaline que ele anda há décadas a recuperar.
Disse Putin que o fim da URSS foi a maior catástrofe geopolítica, no mesmo discurso onde falou nos russos dos sudetos nas minorias russas. Estava tudo ali. Curiosamente o partido que não é putinista também afirma que a URSS não devia ter acabado, devia ter sido aperfeiçoada. A partir de que parte da história não esclarecem. Talvez Putin comece agora a esclarecer, se nos apanhar, Europa, cada um a falar para o seu lado e a olhar para o seu umbigo.
Na iminência que estamos de um novo Pacto Molotov-Ribbentrop, agora entre os Estados Unidos e a Rússia, vamos todos fazer de conta que o bem estar social, o desenvolvimento, a paz e a prosperidade em que a Europa vive desde o final da II Guerra Mundial - iniciada 86 anos depois da assinatura da partilha territorial, "lebensraum", sob o sorriso de Estaline, em fotografia para a posteridade - não foi tudo alcançado pela dissuasão, devido ao forte investimento militar na defesa das fronteiras da união a leste. Com "A paZ! A paZ! A paZ!" é que vamos lá.
E se o imbecil eleito presidente dos States ocupa mesmo a Gronelândia, inaugurando uma espécie de "Donroe Doctrine", como lhe chamou o New York Post, a que se seguirá o Panamá e a pressão sobre o Canadá, onde é que fica o artigo 5.º da NATO?
E se Putin, na alucinação da reencarnação imperialista de Estaline que o tomou, aproveita e ataca na outra frente, nos países bálticos, nas ex-repúblicas soviéticas, para que lado é que a União Europeia se vira?