Mudança de paradigma
Uma mulher, deputada, é substituída no Parlamento, por um deputado, homem, suspeito de violência doméstica e de perseguição à namorada. Isto sim, é uma mudança de paradigma.
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Uma mulher, deputada, é substituída no Parlamento, por um deputado, homem, suspeito de violência doméstica e de perseguição à namorada. Isto sim, é uma mudança de paradigma.
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Não deixa de ser verdade. Até porque não morreu ninguém, ao contrário da sentença de morte por lapidação, subjacente no douto acórdão do Venerando Desembargador, Meritíssimo Juiz Neto Moura. Há uma diferença fundamental entre um correctivo aplicado por dois homens com uma moca de pregos e uma turba em fúria à pedrada a uma mulher enterrada até à cintura. Ou a pulseira electrónica retirada ao homem que rebentou um tímpano à mulher ao murro. Também não morreu. Se fosse para ir ao funeral da ex ainda se compreendia a anilha no tornozelo, não fosse a sua presença chocar os familiares da vítima, agora com a vadia viva qual o argumento para limitar a liberdade de circulação a um cidadão?
A minha vizinha de baixo levava porrada do meu vizinho de baixo, o marido. Altas horas da madrugada e "pára! por favor!". Choro. E o som cá em cima "pam! pam! bam! catrapaz!", "por favor!" choro, gritos. Duas da manhã, agarro no telemóvel e ligo para a polícia "quero participar um caso de violência doméstica", relato da ocorrência, identificação, "vamos mandar já aí um carro patrulha", não demorou 5 minutos e tocam à campainha "polícia!", abro a porta e em alta voz escada acima "foi daqui que participaram um caso de violência doméstica?". "Sim". "Em que andar?" e lá vai o agente da autoridade escada abaixo. Toque de campainha "o seu vizinho do andar de cima participou um caso de violência doméstica...". O agressor "homessa! deve ser engano..." mais meia dúzia de palavras trocadas e ala que vai o carro da polícia, mais os polícias dentro, rua fora. De manhã, quando chego à garagem do condomínio, tenho dois pneus rasgados à navalha. 180 € e uma participação na PSP contra desconhecidos que acabou arquivada.
Depois disso continuaram a vidinha de pombinhos apaixonados a sair de braço dado como se nada fosse, ela de óculos escuros, muitos beijinhos e encosta a cabecinha no meu ombro. Uma vez cruzei-me com o macho man no elevador e levava uma chibata na mão. Juro.
Um mês e meio a dois meses depois, do andar de baixo, a altas horas da madrugada "pára! por favor!". Choro. E o som cá em cima "pam! pam! bam! catrapaz!", "por favor!" choro, gritos. O mesmo filme. Duas e meia, três da manhã, agarro no telemóvel e ligo para a polícia "quero participar um caso de violência doméstica", relato da ocorrência, identificação "vamos mandar já aí um carro patrulha", não demorou 5 minutos e tocam à campainha "polícia!". Falamos pelo intercomunicador, explico o acontecido, digo qual o andar, "abra-me a porta, sff, vou tocar à campainha no andar, o senhor não apareça para não ser identificado, vamos preserva-lo". "Agradeço, obrigado". E eu cá em cima a ouvir. "Tivemos uma participação anónima de um caso de violência doméstica neste andar". "Aqui?! Deve ser engano...". "Pois que seja engano. Se faz favor pode chamar a sua esposa para falarmos com ela?". "Ó fulana, chega aqui que a polícia quer falar contigo". [...]. "Está tudo bem com a senhora?". "Porque é que não havia de estar?!". "É que tivemos uma participação anónima de violência doméstica neste andar....". "Neste andar? Por amor de Deus, deve ser engano...". "E essas marcas na cara e no pescoço?". "Isto? Isto não é nada. Estava ali em cima de um banco a arrumar umas coisas no roupeiro e caí. Tive sorte, podia ter sido pior". "Boa noite". "Boa noite".
De manhã, quando chego à garagem do condomínio, tenho quatro - 4 - quatro pneus rasgados à navalha. 360 € e uma participação na PSP contra desconhecidos que acabou arquivada.
Entretanto venderam o andar, desabulharam daqui para fora e foram para onde Deus sabe. Sempre muito apaixonados e muitos beijinhos. A senhora continua viva, até quando não sei, que me tenho cruzado com ela na rua a espaços. "Bom dia vizinho, tudo bem?".
Entre marido e mulher ninguém mete a colher, vox pop. E eu gastei 540 € em borracha, mais uns trocos em calibragem e alinhamento de direcção, na minha vizinha que não queria ser salva.
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Quando uma classe privilegiada paga pela comunidade para viver acima das possibilidades da comunidade [o tal preço a pagar pela democracia e pelo Estado de direito] não percebe as dinâmicas da comunidade, e por isso não serve a comunidade, a comunidade tem um problema. "À Justiça o que é da justiça e à política o que é da política" mas quando o poder judicial não está ao serviço dos cidadãos o problema passa a ser do poder legislativo eleito, em eleições livres e democráticas, pelos cidadãos.
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Agora que a Conferência Episcopal já tomou posição sobre o juiz medieval ao afirmar que "a Bíblia foi usada de forma incorrecta" no acórdão do Tribunal da Relação do Porto sobre violência doméstica e, uma vez que o famigerado também faz referência à "sharia", aguardamos que o líder da Mesquita de Lisboa, David Munir, diga de sua justiça sobre apedrejamentos e justiças maritais de protecção divina sob a égide do poder judicial no Estado de direito democrático, a menos que faça tenção de um dia cair nas boas graças do meritíssimo juiz...
[Imagem de Shirin Neshat Fervor]
"If your partner turns out to be a tyrant
Every two weeks, a woman in Switzerland dies as a result of domestic violence"
Ficou célebre Pôncio Monteiro, o paineleiro-delegado do Fóculporto de serviço aos programas da doença do comentário futeboleiro, pela (re)interpretação da lei do penalty, ao defender que assinalar ou não o castigo máximo contra o seu [dele] Fóculporto dependia da intensidade da cacetada, do empurrão, da rasteira, or ever, se fosse uma cacetadinha, um empurrãozinho, uma rasteirinha, não justificava o apito do juiz da partida. Fez escola onde menos se esperava, no Tribunal da Relação de Évora:
[Imagem de autor desconhecido]
É o nome de uma campanha à escala global que está a decorrer no Facebook, e que há hora da publicação deste post já tinha 245 807 aderentes. Para que se saiba “fora de portas”.