"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Na melhor das hipóteses Carlos Moedas vai ficar para a história como o personagem que matou a galinha dos ovos de ouro, o grande destruidor de emprego e de riqueza em Lisboa, e por arrasto nas regiões adjacentes. Ninguém no seu perfeito juízo quer viver ou passar férias numa cidade cujo "mayor" constantemente a apresenta ao mundo como violenta e perigosa, uma terra sem lei "a oeste de Pecos", a necessitar de um patrulha da polícia em cada rua, de uma CCTV em cada esquina.
A violência no desporto é um problema. A violência no desporto é um problema. A violência no desporto é um problema. A violência no desporto é um problema. A violência no desporto é um problema.
"it’s a turbulent time for many people across the world, but in one fell swoop, a design can still inspire hope. this powerful installation, the bulletproof ‘pride shield’, symbolizes hope and tangibly reminds the world that together, we can stop violence"
O que vale é que o senhor é líder de uma claque, organizada e legalizada, que nas vésperas dos jogos faz visitas aos centros de treino da arbitragem para chamar os homens do apito à razão, com educação e boas maneiras. Ameaças, e isso, são os outros, adeptos das outras claques, legalizadas ou clandestinas, mascarados com camisolas e cachecóis do outro clube, vendem-se aí, as chinesas por metade do preço, só para incriminar a claque, organizada e legalizada, do clube rival, perdão, inimigo. Os maquiavélicos.
O que vale é que o senhor presidente da Federação Portuguesa de Futebol foi ao Parlamento, com o senhor doutor, com mestrado e tudo, explicar aos senhores deputados a liderança da claque, organizada e legalizada, de apoio à Selecção de Futebol, e apontar uma solução à inglesa para a violência nos estádios e os "sinais de alarme" decorrentes da "apologia do ódio" na modalidade do pontapé-na-bola - a erradicação dos macacos, macaquinhos e macacões, legalizadas, ilegalizados, clandestinos, organizados ou casuais, do clube amigo ou do clube inimigo, perdão, adversário.
Diz que 38 participações de violência em discoteca depois o Estado e o Estado de direito falharam numa das funções básicas, a segurança do cidadão. O Estado e o Estado de direito não falharam coisíssima nenhuma, o Estado e o Estado de direito só falharam até àquele ponto em que era de todo impossível o Estado e o Estado de direito continuarem a falhar, e que é uma conquista recente das sociedades liberais democráticas e fruto do capitalismo reprodutivo: a imagem, o direito à imagem e a massificação/ democratização das ferramentas que permitem captar imagem, por via da mais riqueza disponível no bolso das pessoas e que lhes proporciona também o acesso ao lazer e diversão, mesmo em locais sistematicamente reportados como violentos, porque não leva porrada quem quer, leva porrada quem pode, no microcosmo das tribos urbanas, das zonas delimitadas e nas hierarquias a ocupar.
Temos assim um ex hooligan ex activista de claques [segundo a página Wiki, depois da legitimação dinástica do longo rol de graus de parentesco e de sucessões] eleito presidente de um clube que, aquando de uma derrota ou de um resultado menos positivo da equipa de futebol, a primeira coisa que faz é atravessar o relvado em direcção à bancada para pedir desculpa aos hooligans à claque, a acusar o presidente de outro clube inimigo rival de ser refém de claques de futebol. Siga o circo.
Mário Soares também disse que "estamos a caminho de uma nova ditadura" mas, como pelo seu passado e pelo seu percurso político, era demasiado imbecil acusá-lo de estar a legitimar uma ditadura, e como tinham de reagir, de dizer qualquer coisa, invariavelmente na linha do ou entra mosca ou sai asneira, saiu asneira, e pegaram na legitimação da violência, um tema sempre caro à Direita, mui defensora da ordem e da legalidade e das hierarquias e de cada macaco no seu galho e expert em usar a violência legislativa do Estado sobre os cidadãos e a violência, legitima e legitimada, das polícias para a fazer acatar. Polícias que parece, agora, lhe estarem a fugir ao controlo, o que vem baralhar as contas e não deixa até de ter a sua piada.
Circulava há tempos pelo tubo um vídeo que dava conta de um fulano a receber sucessivas visitas da vizinhança que lhe tocava à campainha em protesto por estar à noite em casa a ouvir música em altos berros mas, quando resolveu colocar, também em altos berros, uma gravação de uma discussão entre um casal, com a mulher a ser agredida pelo marido, as reclamações da vizinhança pararam. Entre marido e mulher ninguém mete a colher, são casados é lá com eles, e assim.
Da mesma forma que o comandante do exército norte-americano obrigou a população da cidade vizinha ao campo de concentração libertado durante a II Guerra Mundial a visitá-lo para ver com os próprios olhos a barbárie e a selvajaria de que haviam sido cúmplices.
Ou mais recentemente o impulso que a causa da independência de Timor ganhou depois das imagens do massacre do cemitério de Santa Cruz começarem a circular pelas televisões de todo o mundo.
E ainda mais atrás, o Tomé que veio depois a ser santo, teve de ver para crer, e não consta que tenha sido «lateralmente, [e] com a cara coberta».
Em Espanha, e enquanto o cardeal Rouco Varela convoca uma manif contra o divórcio e a contracepção e o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a interrupção voluntária da gravidez e essas coisas todas que fazem perigar a nossa sociedade, no Brasil a revista gay “Junior” elege o Padre Fábio de Melo como um dos homens mais sexy do ano.
Não se sabe onde é. Também não interessa. Dizem que é por ser homossexual. Também não interessa nada. O mal.
«It's impossible for words to describe what is necessary to those who do not know what horror means. Horror... Horror has a face...», fala do Coronel Kurtz em Apocalipse Now.