"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Sem perceber que, onde isso aconteceu, as Frentes Nacionais e outros fascismos ocuparam o espaço. "Sentido de Estado" e direitinh[a]o que nem um fuso, o leque é grande e vai desde Cavaco Silva aos homenzinhos responsáveis da UGT, de Paulo Portas a António José Seguro, passando por Maria de Belém Roseira, Pedro Mota Soares ou Francisco Assis e um poster de Tony Blair na parede do gabinete.
Quando o senhor voltar a aparecer nas televisões a largar bitaites sobre tudo o que respira na vida política portuguesa e a apelar à responsabilidade e ao sentido de Estado e às contas certas e à nossa imagem no exterior e à sustentabilidade do Estado social e à credibilidade e ao sacrifício dos portugueses e ainda mais as contas certas e Portugal na bancarota e o não haver dinheiro para pagar salários e pensões e a liderança do PSD contra a irresponsabilidade criminosa dos socialistas, lembrem-se disto:
«[...] uma das operações ruinosas: a transferência da posição da autarquia para a Águas de Gaia no contrato celebrado com o consórcio SUMA, liderado pela Mota Engil. O negócio revelou-se prejudicial para a empresa municipal e o erário público.»
«O documento, que entretanto já terá sido enviado aos visados para contraditório, é sobretudo cáustico em relação à forma como a cidade de Gaia foi gerida pela coligação PSD/CDS. Segundo o TC, que emitiu "um juízo desfavorável" sobre a situação financeira e patrimonial de Gaia, a totalidade dos passivos financeiros do município superava, em 2012, os 278 milhões de euros. A autarquia tinha ido muito "para além da sua capacidade financeira" em todo o período analisado, arriscando a rutura.»
«Um dos exemplos do descalabro detetado pela equipa de auditores é o facto de, entre 2008 e 2012, o executivo camarário ter assumido, no global, mais de 450 milhões de euros de "despesas sem cobertura". Da "gestão pouco prudente" a violações sistemáticas da lei, a fotografia tirada pelo TC mostra uma autarquia onde imperou a "falta de sinceridade, transparência e fiabilidade na previsão de receitas", a "falta de racionalidade e prudência na efetivação dos gastos" e a "falta de cumprimento atempado dos compromissos assumidos, acumulando dívidas a fornecedores".»
«Para obter "liquidez imediata", a coligação PSD/CDS socorreu-se de todos os meios: transações fictícias, concessões a privados em prejuízo do erário público, criação de um fundo imobiliário que gerou "riscos adicionais" para as finanças da autarquia, "operações bancárias complexas" que oneraram ainda mais a edilidade e instrumentalização de empresas municipais para contrair empréstimos vedados por lei. Num caso, transformaram-se dívidas em ativos, contrariando assim "a mais elementar lógica económica, financeira e contabilística".»
«Ainda segundo o TC, a deficiente previsão orçamental nestes cinco anos de gestão por parte do executivo PSD/CDS levou o município "a incorrer em défices sucessivos", revelando uma "continuada ausência de sinceridade orçamental no cálculo da dotação previsional de receita, criando a ilusão de suficiência, estimulando a assunção de compromissos e aumentando as responsabilidades da autarquia sem a correspondente entrada de verbas".».
«Um dos "cancros" detetados pelo Tribunal de Contas na Câmara de Gaia, que iria minar ainda mais a fragilidade financeira da autarquia, começou bem lá atrás. Na verdade, entre 2006 e 2012, quatro empresas municipais (Águas de Gaia, Parque Biológico, Gaianima e Gaia Social) celebraram 13 contratos de permuta de taxa de juro (swaps) com três bancos, acumulando perdas superiores a 2,3 milhões de euros.»
«Segundo o TC, a maior parte dos contratos analisados revelou ter uma finalidade económica puramente "especulativa". Ou seja, "não foram concebidos ou desenhados para serem efetivos instrumentos financeiros de cobertura de risco", contrariando a justificação dada pelos decisores. Na prática, os responsáveis das referidas empresas municipais "atuaram como especuladores", expondo os recursos públicos "a novos riscos". Além disso, os diferentes conselhos de administração "não observaram os princípios básicos" do bom governo para o setor público, "designadamente em matéria de responsabilidade e transparência", tendo omitido informações acerca da contratação dos swaps e dos riscos inerentes aos mesmos. Resultado: "Todas as operações analisadas se revelaram tóxicas, dando lugar a avultadas perdas financeiras", espelhando assim uma "gestão imprudente de dinheiros públicos".»
O patrão/ accionista, num acto falhado de gestão, contrata um administrador para um departamento da empresa que, além de incompetente, é arrogante, conflituoso, por um complexo de superioridade desrespeitador da concorrência e sem um mínimo de humildade para reconhecer as suas incapacidades e limitações, falhando todas as metas e objectivos definidos pelo contratante, apesar de ter ao seu dispor os recursos técnicos e humanos exigidos e exigíveis, mas a turba, acéfala, é levada a canalizar a raiva e a direccionar a fúria e a frustração contra os meros trabalhadores colaboradores da empresa que se limitam a cumprir ordens [trabalhar mais horas, com mais empenho, menos folgas e feriados, redução salarial], ilibando com isso o topo da hierarquia – o patrão/ accionista das más decisões tomadas e dando-lhe um voto de confiança para continuar com o acto de gestão falhado.
O verdadeiro diagnóstico neoliberal aplicado ao futebol:
O partido de um só homem, um homem só. Tudo o resto é paisagem que compõe o quadro idílico e bucólico da liderança que repara no sorriso das vacas satisfeitíssimas enquanto trata das anonas. A coutada privada de "o doutor".
[Imagem "Puta de Mallorca, 1969", Christer Stromholm]
O Conselheiro de Estado, e futuro candidato autárquico fora-da-lei, depois de ter malbaratado 16 milhões de euros dos impostos dos contribuintes a patrocinar o futebol profissional com salários pagos a peso de ouro, continua embalado fora-da-lei como futuro ex-presidente.
Ao invés de responder que nem no Porto nem em Vila Nova de Gaia nem em outra cidade qualquer, a bem do rejuvenescimento e da transparência democrática, uma vez que já ocupa o lugar de presidente da Câmara desde 1997, que já anda na política desde os idos do PREC, e que já vai sendo mais que tempo de ceder o lugar a outra gente com outras ideias e outras visões para a cidade, para a região e para o país, interrogado se poderia ser ele o próximo a ocupar a cadeira do poder no Porto, Menezes escusou-se a comentar.
Parafraseando, Os cidadãos que todas as manhãs penam em intermináveis filas para pagar e passar a ponte 25 de Abril, depois de já terem pago a auto-estrada, deviam lembrar-se disto e rebelar-se contra esta situação.
O exemplo do Presidente da República: em tempo de crise e de contenção de despesa ir a Vila Nova de Gaia elogiar o dinamismo e o empreendedorismo da Câmara com o maior endividamento do país.
(Imagem Sego Shoshone Indian, half-length portrait, facing left. Photoprint by Rose & Hopkins photographers, Denver, ca. 1899)
Gaia quer tornar-se numa “pequena Londres do Mediterrâneo”. Título do Público, citando o vice-presidente da autarquia, numa apresentação em Londres do projecto de reabilitação do centro histórico gaiense a investidores.
Desculpem a minha ignorância, mas a geografia não é para aqui chamada?