"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E depois? Vão daqui para o México meia dúzia de engenheiros de confiança da Mota-Engil tomar conta da obra e dos nativos - baratos, a empregar na obra que vai usar matéria-prima nativa - barata, e receber uma pipa da massa, não em MXN peso mexicano - barato, mas em USD dólares amaricanos - caros e bons, para distribuir pelo patrão e pelos accionistas, cá.
E depois desta ginga-joga toda e de saldadas estas contas e pagas as mais-valias o que é que sobra para a economia nacional, quais são as melhorias que os nativos, baratos, cá, vão sentir na seu dia-a-dia, cá?
E a menos que sejamos membros do Governo e que após terminada a [co]missão de serviço em 2015 ingressemos nos quadros da Mota-Engil como doutores e engenheiros especialistas e qualificados, o que é que a gente ganha com isso? O que é que a gente tem a ver com a Mota-Engil ter ganho uma obra não-sei-quantas no México ou na Patagónia ou fim do mundo?
Não é só a irrelevância do vice-pantomineiro, a saltitar de aeroporto em aeroporto, em bicos dos pés nos telejornais à frente de embaixadas à roda do mundo e até aos cus de Judas, a vender o país por atacado. Não. É a total irrelevância do poder político, subjugado ao poder económico. Como se um multimilionário, um dos homens mais ricos do planeta, precisasse de uma delegação governamental para comprar ou vender o que quer que fosse, dentro e fora de portas. O dinheiro que se poupava ao contribuinte se estas fantochadas fossem mais sóbrias e menos circo ou que se nem sequer acontecessem.
O orgulho do vice-pantomineiro por haver em Portugal 86% de miseráveis que não são taxados nem impostados pelo Governo. Um país com 86% de velhos a receberem uma pensão ou uma reforma que não dá para comprar um par de botões de punho daqueles que Paulo Portas exibe mas que dá e sobra para chamar a atenção e sublinhar.
O CDS, perdão, a ministra da agricultura Assunção Cristas, liberaliza o eucalipto, o CDS, perdão, o ministro da Economia, Pires de Lima, anuncia a "viragem económica" e a "captação de investimento", o CDS, perdão, o vice-primeiro-ministro, chama os jornais e as televisões para, sem aquele sorriso cínico de superioridade iluminada com que costuma pontuar as frase marteladas em modo Twitter, anunciar pela segunda vez em menos de um ano o mesmo investimento. A desertificação e o desordenamento do território, o envenenamento das albufeiras, a destruição da fauna, da flora e do ecossistema, o combate aos incêndios, as economias familiares e as vidas humanas destruídas ficam a cargo do erário público. Aumentem-se os impostos e reforce-se a rubrica do ministério para o combate aos incêndios..
"o trabalhador, sobretudo um jovem que está a entrar no mercado de trabalho, tenha um pouco mais de liberdade para proteger a sua poupança, para proteger o seu futuro e que não fique tão dependente dos ciclos financeiros, dos ciclos económicos ou dos ciclos políticos, chama-se a isso, tecnicamente, plafonamento parcial e voluntario do ponto de vista das contribuições" [a partir do minuto 0:30].
Porque, como é por todos sabido, os seguros, os fundos de pensões, privados, são imunes aos ciclos económicos ou aos ciclos financeiros [basta seguir com atenção as notícias d’ América e o calvário dos amaricanos] e que nunca ninguém vai ficar sem a sua reforma, sem a sua pensão, sem a sua assistência na saúde, porque, se tiver sorte com o ciclo político, pode ser que a falência da companhia de seguros ou do fundo de pensões, onde depositou todas as poupanças de uma vida, coincida com a chegada ao poder de alguns socialistas desmiolados, irresponsáveis e gastadores que obriguem o Estado a assumir o prejuízo para, noutro ciclo político, aparecer Paulo Portas, o líder partidário há mais tempo no activo, ou outro pantomineiro-trampolineiro qualquer da mesma espécie apostado em brilhar os botões de punho, a dizer que "o socialista é muito bom a gastar o dinheiro dos outros mas quando acaba o dinheiro chamam-nos a nosotros y a vosotros para compor as coisas".
Talvez inebriado pela 'Distinguished Public Service Award' que lhe foi atribuída por Donald Rumsfeld [vá-se lá saber porquê], não resistiu a vir proferir as mesmas palavras proferidas pelo criminoso de guerra George W. Bush depois de ter inventado uma guerra onde ela não existia e de ter deixado um país e um Estado soberano numa atoleiro de terrorismo islâmico e ódio sectário e religioso, até hoje. Faz todo o sentido o Mission Accomplished do campeão de ginástica olímpica e contorcionismo, depois de ter deixado a economia em tal estado que faz lembrar um país saído de uma guerra. Para o cenário ter sido perfeito era as palavras terem sido ditas em cima da proa de um submarino.
Paulo Portas, vice-trampolineiro, vai dizer que a troika queria aumentar o IVA para 23, 50% ele, Viriato 2014, é que bateu o pé aos ocupantes estrangeiros, não deixou, vai ficar nos 23, 25%.
Pires de Lima, o soldado disciplinado, está a puxar lustro às botas para a formatura.
Um sindicato que represente menos de 30% dos trabalhadores do sector pode assinar um contrato colectivo de trabalho que vai valer para todos os trabalhadores de todas as empresas, médias, pequenas ou grandes, desse mesmo sector.
Uma central sindical que represente 30%, ou se calhar ainda menos, dos trabalhadores e que é onde os sindicatos que assinaram o contrato colectivo de trabalho e que representam menos de 30% dos trabalhadores estão agregados, pode assinar, em sede de Concertação Social, um Código do Trabalho que vai servir de "Bíblia" a todos os trabalhadores, seus filiados ou não, sindicalizados ou não, filiados noutra central sindical ou não.
E também disse outras coisas bonitas de se dizer e de se ouvir como "muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático" e que "precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo" e reforçou "a pessoa humana tem de estar no centro da acção política. Os Portugueses não são uma estatística abstracta. Os Portugueses são pessoas que querem trabalhar, que aspiram a uma vida melhor para si e para os seus filhos. Numa República social e inclusiva, há que dar voz aos que não têm voz".
Mas isto foi em Março de 2011, com outro Governo, de outro partido, com outro primeiro-ministro, que urgia abater rapidamente e queimar na praça pública, nem que para isso se inventasse uma conspiração de escutas ao Palácio de Belém ou que em plena campanha eleitoral se atiçassem os colégios privados a sair para a rua em protesto, "um sinal de vitalidade da nossa sociedade civil", de forma a antecipar eleições e entregar o poder "a quem de direito", depois do eleitorado devidamente doutrinado por doses maciças de propaganda.
Depois disso foi o que se viu e o que se vê, e o que não se vê mas que se desconfia, quando as trapalhadas do Governo de iniciativa presidencial caem na praça pública pela boca dos ministros e secretários de Estado.
«Paulo Portas, disse que estava no papel do "oitavo marido de Zsa Zsa Gabor" (atriz que se radicou nos EUA e teve nove maridos): "Não sei como fazer isto de uma forma inédita e interessante"»