|| A coisa é simples de contar
Pedro Passos Coelho, que ultrapassou a troika logo no tiro de partida, deixando mais de metade do país, e respectivos filhos e avós, a chorar, tenta agora minimizar danos e, aconselhado pelo estado-maior, composto por personalidades tão distintas que vão desde Dias Loureiro, o tal, ao omnipresente e omnipotente e omnisciente braço direito e ministro da Propaganda, Miguel Relvas, veio tentar passar a imagem de humilde-cidadão-comum-a-viver-dentro-das-suas-parcas-possibilidades e, com a devida antecedência, avisou tudo o que era jornal, rádio e televisão onde, quando, e como ia fazer umas férias populares e económicas, de modo a que, no Dia D, um batalhão de jornalistas, fotógrafos e camera man's estivesse devidamente posicionado para cobrir a entrada do senhor primeiro-ministro no areal, acompanhado da esposa, e envergando uns calções de banho ainda da época balnear do tempo em que as velhas usavam sacos para fazer café. Os pormenores de poupança são importantes, nada é deixado ao acaso.
Só que a comunicação social, que vive disto para alimentar o espírito voyeurista da populaça, nem que para tal tenha de vender a alma ao Diabo fazer, consciente e amorfa, o papel de veiculo transmissor da propaganda governamental, mas que também se alimenta do barulho e do show off, marcou presença e cobriu os protestos de quem sente na pele a acção governativa do "mais além da troika", mais o "elevador social" do partner de coligação, o sempre eterno, renascido e imune, Paulo Portas.
As crianças, essas, não têm culpa. Pois não. Os filhos que choram, dos desempregados, dos desempregados sem subsídio de desemprego, dos miseráveis do RSI, dos salários drasticamente reduzidos dos pais que ainda têm trabalho, mais o mais tempo que passam no trabalho e as férias que não têm, das casas penhoradas e o tal do et caetera que nunca mais tem fim. Exactamente a mesma culpa que as filhas do senhor primeiro-ministro não têm, que o pai tenha convocado os media para um face lifting durante as férias, que têm. Vale o povo, ser educado, ter princípios morais, ter bom coração ou, como diria Pedro Passos Coelho, ser piegas, e comover-se facilmente com os filhos dos outros.
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