"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No país onde os processos prescrevem aos milhares depois de se arrastarem anos e anos e anos a fio nos tribunais, por incompetência e falta de profissionalismo de alguns juízes, por manobras processuais, e por métodos de trabalho dignos dos finais do séc. XIX, apesar da informatização e da web [é só perder uns poucos minutos numa busca no Google para dar com eles], o Procurador-geral da República vem criticar a morosidade da justiça britânica.
Como na anedota, "chama-lhes, filha, antes que elas te chamem a ti".
O título é a recordação duma reportagem na tv sobre tocadores de bombo. Um dos elementos do grupo, um aprendiz de tocador para aí com 6 ou 7 anos, agarrado a um bombo com o dobro do seu tamanho dizia para o microfone “é um vício malhar nas péis” (peles).
As “péis” de tudo o que é crime económico, vigarice e trafulhice nos negócios em Portugal, são as “péis” do Vale e Azevedo, independentemente de ele colocar as suas “péis” a jeito. Independentemente de por vezes serem as “péis” de uma tarola promovidas a “péis” de bombo.
Foi no domingo que o ministro das Finanças nos interrompeu o almoço para, com ar grave, informar da nacionalização do BPN. Desde o almoço interrompido até há bocado, Oliveira e Costa continua ausente no estrangeiro incerto sem que se ouça falar de mandatos na Interpol ou na Europol, Dias Loureiro continua sentado à direita do Pai no Conselho de Estado, quiçá a alinhavar discursos sobre as boas e as más moedas, Vítor Constâncio já somou mais 4 dias aos dias que lhe faltam para a reforma. Mas afinal o Vale e Azevedoesse grande malandro, esse pulha!
Não sei se o verdadeiro significado de BPN era Banco Pêpêdê de Negociatas. Mas lá que parece, parece.
(E depois há aquela coisa muito portuguesa dos portugueses de 1.ª e 2.ª categoria. Todos os dias nos chegam notícias do encerramento de empresas e fábricas de norte a sul do país, sem que o Governo mostra a mais leve preocupação com a segurança dos trabalhadores. Sorte a destes.)
É o modo como o cidadão comum que não se enreda nos enredos do Direito vê o filme. E até dou de barato que esteja a escrever a maior das barbaridades.
Mas acontecem coisas nos tribunais; há com certeza razões que a razão do povo ignorante onde me incluo desconhece para, e por exemplo, o Vale e Azevedo que deu a banhada a uns milhões, mas de modo simpático, com um sorriso nos lábios e cheio de boas maneiras e vestindo um bom fato mais uma belíssima gravata pendurada no pescoço, tenha estado uma eternidade preso a aguardar julgamento e depois foi julgado e foi outra vez preso e quando ia a sair da prisão foi outra vez dentro assim que pisou o degrau da porta da rua, com direito a transmissão televisiva e tudo. Uma novela!
E dois “marmelos”, violentos como o caraças, e que só não mataram ninguém porque Deus não quis, como se costuma dizer nestas ocasiões, e que só ainda não foram mortos por um sniper da polícia, também porque Deus não quis, quiçá para poupar a tinta das canetas e o teclado dos computadores daqueles que passam a vida a malhar nos facínoras da polícia, são libertados com Termo de Identidade e Residência.
Como aqui escreve o camaradaDâmaso andam a brincar com coisas sérias.
Mas isto sou eu – que não percebo nada de direitos e justiças – a falar.