"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Continuem a alimentar uma discussão feita à medida de chapulas, negacionistas, e anti-vaxxers, prontamente surfada por Ilusionistas Liberais, pelo oportunista do Chaga, albergue de fascistas, e pela direita populista, sobre uma questão que não existe nem se coloca: a vacinação das crianças, como se fosse obrigatória, como se fosse obrigatória qualquer que seja a faixa etária da população que, com os mais de 87% de vacinados, deu uma resposta que nos devia encher a todos de orgulho. Continuem com a conversa da treta que a gente diverte-se muito.
Se a "indignação" que por aí vai com a não divulgação do parecer da Direcção Geral de Saúde para a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos, como acontece com todos os pareceres para todas as vacinas, e prontamente cavalgada pela horda de chalupas, negacionistas, extrema-direita e liberais, fosse tão grande para com a falta de vacinas e vacinação em África, e no chamado 3.º mundo, já tinha aparecido um qualquer Geldof a arregimentar tropas para uma acção global Vaccine the World.
Do "caos no atendimento" e das "intermináveis horas de espera" para receber a vacina, nos idos de Fernando Medina, para "longas filas" e "algum constrangimento", agora, no tempo de Carlos Moedas. Agora que está a chegar a época se calhar recuperávamos a cantiga do spot "Para o Natal, o meu presente, eu quero que seja, A Minha Agenda, A Minha Agenda...".
No início da pandemia, e durante os confinamentos, volta e meia aparecia alguém "imaginem que isto acontecia durante o governo de Passos/ Portas...", depois Carlos Moedas é eleito presidente da câmara municipal e Lisboa e uma das primeiras medidas que toma é encerrar centros de vacinação para centralizar todo o processo, obrigando uma faixa da população, carenciada e sem meios de mobilidade, a deslocar-se para uma ponta da cidade, mal servida por transportes públicos, e a mega concentrações em filas de espera, após dois dias de suspensão da vacinação num período de corrida contra o tempo; tirar da cartola uma forma de transferir dinheiro do município para negócios privados, através do pagamento das deslocações em táxi. Agora já não é preciso imaginar o que seria o governo Passos/ Portas em situação de pandemia, têm o moço de fretes da troika a todo o gás à frente da maior câmara do país.
Todos vimos e ouvimos o vice-almirante Gouveia e Melo no telejornal da noite da televisão do militante n.º 1, SIC Notícias, depois de ser medalhado pelo Presidente da República, dizer que as metas da vacinação vão ser cumpridas, apesar do "Queimódromo" do Porto estar suspenso. Portanto esta privatização da vacinação é só uma questão ideológica e de amiguismo do presidente da câmara do Porto, com a cumplicidade e complacência do Governo PS. E isto tem um nome: liberalismo cultural, ou cegueira ideológica, ou com as calças do meu pai sou um homem, que é como quem diz o dinheiro do contribuinte é um poço sem fundo.
À direita, que no início da pandemia afiançava o Serviço Nacional de Saúde não ter capacidade para assumir a hercúlea missão de vacinar um país inteiro e que para tal era necessário privatizar a vacinação, cabe agora a tarefa de explicar ao país inteiro porque é que da única vez que a vacinação foi privatizada deu merda.
Depois do sucesso que foi a gestão da crise das dívidas soberanas, com contas de merceeiro a pensar nos "mercados", na salvação dos bancos e na nacionalização da dívida privada, ignorando que com pessoas empobrecidas e sem consumo não há capitalismo que resista, de onde nunca saíram regressam os mesmos de sempre com o sucesso anunciado da vacinação europeia, delineada a pensar nas multinacionais farmacêuticas, outra vez sem perceberem que se sem pessoas não há economia que resista e que as economias que primeiro conseguirem alcançar o objectivo imunidade de grupo são as que vão partir à frente na recuperação à escala global. São sempre os mesmos os mesmos de sempre, não é "a Europa", não é "a Comissão Europeia", nem tão pouco "os países do Norte" ou "os frugais", é o Partido Popular Europeu, desde 1999 à delinear os destinos da União Europeia. Até podíamos argumentar, como os minions da direita - PSD e CDS de plantão às "redes", que se fosse uma empresa privada a doutora Ursula Gertrud von der Leyen já há muito tinha sido despedida por incompetência, não se desse o caso de que a sua competência para governar para os grandes grupos económicos é que motivou a sua eleição e a mantém no cargo.