"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A administração Trump deportou a mãe para a Venezuela, o pai para o Guantánamo de Bukele em El Salvador, e reteve a filha, de 2 anos, à guarda do Estado norte-americano.
Nicolás Maduro mandou a "primeira-dama", a sua mulher, ao aeroporto de Caracas receber a criança e reteve a mãe no palácio presidencial para um show de propaganda do regime, ao nível de um reality show roskofe.
Começou por aceitar a oferta do "avião de Troia" pela família real do Qatar, "seria estúpido não aceitar", disse. À chegada a Doha fez continência à guarda de honra nativa, o presidente da maior potência mundial a bater pala a tropa estrangeira, ninguém lhe explicou. Teve apogeu em Riade, onde subiu ao palco para discursar com a bandeira do verdadeiro Estado islâmico por fundo, se calhar é cenário, ou patrocínio de uma empresa qualquer, deve ter pensado. Nem o mais estúpido de todos os presidentes americanos, George W. Bush, alguma vez aceitava desempenhar o papel de bobo nesta encenação.
Andava o general Jaruzelski em cima do Solidariedade na Polónia, sempre com a memória dos tanques de Moscovo em Praga e em Budapeste, e o Vaticano escolhe um Papa polaco. A história conta o resto.
Temos Trump, Vance, e um bando de alucinados a cometerem as maiores barbaridades e atrocidades em nome de Deus, replicados por fotocópias em todas as partidas do mundo, e o Vaticano elege um Papa norte-americano, que fez a vida na América Latina, das ditaduras e dos governos corruptos com o apoio americano, que geram as hordas de migrantes que assolam a fronteira com o México.
Isto é um bocado como as votações do Festival Eurovisão da Canção, com as vitórias para Israel e Ucrânia em tempos diferentes.
A drone view of detainees forming the letters SOS with their bodies in the courtyard at the Bluebonnet Detention Facility, where Venezuelans at the center of a U.S. Supreme Court ruling are held, in Anson, Texas, U.S. April 28, 2025. Reuters/ Paul Ratje
Não sei se é para rir ou para chorar ver o estado de negação em que se encontram aqueles que durante décadas a única posição perante os Estados Unidos foi o abanar de rabo e o seguidismo acéfalo, escudados num alegado atlantismo, recusando admitir que agora a Europa está por conta própria, a NATO tem morte anunciada, vítima de homicídio às mãos de quem a criou e financiou, para gáudio de alguma esquerda anacrónica que ao longo de décadas pediu a sua extinção e invocou o seu anacronismo.
Horas a fio perdidas nas televisões, litros de tinta e resmas de papel nos jornais, com análises económicas e sociológicas sobre qual a ideia de Trump, quais os motivos, qual a fórmula económica, quais os objectivos por detrás do caos gerado e do desmantelamento do Estado norte-americano, sem a ninguém ocorrer que não há uma ideia, não há um motivo, não há uma fórmula económica, não há um objectivo, que Trump é simplesmente um imbecil, rodeado de imbecis, eleito por imbecis, na era de torrentes de informação ao alcance de um telemóvel, onde um gajo com um olho forma alcateias seguidas por manadas e rebanhos. Têm tudo o que é preciso, ali à frente do display, do monitor, do ecrã, não têm de sair de casa para ir à biblioteca, à livraria ou à banca dos jornais, mas abdicam do cérebro para seguir tipos que antes ficavam a falar sozinhos na rua, "tadinho, é maluco" ou "coitado, tá cus copos".
Trump anda sempre de sobretudo pelo meio da perna ou até ao tornozelo, como um personagem na Europa dos anos 30 do século passado. Os edifícios públicos americanos começaram a ser decorados com bandeiras enormes ao estilo pendões, como num determinado país da Europa nos anos 30.
Toda a gente repara no caricato da gravata, ninguém repara no padrão.
Descontando a imbecilidade, mais uma, que é as ilhas Heard e McDonald na lista, locais onde não reside absolutamente ninguém, só passarada e vulcões, a Rússia e a Bielorrússia são os únicos países que não constam na lista. Destruir a América por dentro e a partir de cima. Isto é genial.
Anúncio de página inteira no The New York Times, pago por Christy Ruth Walton, a mulher mais rica do mundo, segundo a revista Forbes. É nora do fundador da Walmart, Sam Walton. Com a morte do marido John T. Walton em Junho de 2005, herdou uma fortuna de 15,7 bilhões de dólares. Segundo dados de 2007 foi a 24.ª pessoa mais rica na lista da Forbes.