"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Prioridade 1: cortar nas pensões e nas reformas, em nome da sustentabilidade da segurança social, enquanto se perdoam milhões à banca, por exemplo, ou se baixa o IRC às empresas e já se fala em baixar a TSU, também por exemplo, em nome do investimento e da criação de emprego que afinal é o aumento da mais-valia ao patrão e accionista, para depois se aumentar a comparticipação a pagar pelos idosos para ter acesso a cuidados.
Prioridade 2: desmantelar o Estado e o Estado social enquanto se cria um Estado paralelo, pago com o dinheiro dos impostos dos contribuinte, na sua quase totalidade pertença de organizações e instituições heterónimos da Igreja Católica e alimentando uma indústria à roda da miséria alheia.
A propina, paga em cash, em imóveis ou em propriedades para os mais ricos e para se ter acesso a um quarto ou a uma cama, as mensalidades para classe média e classe média alta em creches e infantários construídos para servir bairros sociais, e a sopinha dos pobres, rebaptizada de "cantina social", o estigma e a exclusão para os mais pobres e miseráveis.
A Igreja Católica de regresso 100 anos após instauração da República.
«As misericórdias atravessaram incólumes os últimos anos de crise económica. Apesar das persistentes queixas de falta de dinheiro, nenhuma fechou e o número de funcionários até aumentou. Actualmente são cerca de “75 mil” os colaboradores que prestam apoio a um universo da ordem das “150 mil pessoas por dia”, desde idosos em lares, crianças em creches, pessoas com deficiência e programas de apoio alimentar, como cantinas sociais»
O Governo não tem um modelo de baixos salários para o país e o Governo também não quer destruir o Estado social, só quer que ele chegue aos mais necessitados e que as instituições que estão no terreno e conhecem a realidade e as pessoas e blah blah blah sejam as intermediárias do Governo, mesmo que isso implique retroceder até à década de 50 do século passado.. Em Junho de 2011 os portugueses fizeram uma escolha. Allahu Akba.
[Imagem "A Devout Pilgrim Makes Her Devotions, Fátima, 1950" by George Pickow]
Estamos a destruir o Estado onde ele existe e é forte, cabendo-lhe unicamente a função de saque e de esbulho sob a forma de cobrança de impostos e taxas e "contribuições", e a criar uma espécie de Irmandade Muçulmana, para o caso Irmandade Católica, onde ela não existe nem ninguém dá pela sua falta. e que se vai substituir ao Estado naquelas que são as suas funções.
Está mau para o idoso porque está mau para o negócio à roda do idoso e porque está mau o dia-a-dia da descendência do idoso, vítima às mãos das políticas do Governo que transfere verbas para a área do negócio com o idoso, enquanto destrói a economia que sustenta a família do idoso e corta no salários e nos apoios sociais à família do idoso e que agora se prepara para esbulhar a pensão de reforma do idoso, sendo que o idoso é, simultaneamente, o que mais e o que menos importa nesta equação. E já aí vem lei para punir quem maltrate e abandone o idoso, lei do Governo que ignora haver uma lei que proíbe o Governo de maltratar e abandonar os cidadãos, de seu nome Constituição da República.
A hipocrisia da Igreja, e das IPSS da Igreja, não está só nas várias modalidades de idoso, do idoso de 1.ª, 2.ª e 3.ª categoria, o idoso à la carte, e no ter o lucro que supostamente não devia ter, podendo sempre argumentar, com ar misto incrédulo-idiota, como argumentam os liberais construtores do novo homem que vai nascer e do sol que brilhará para todos nós, "qual é mal em ter lucro?", mesmo que o lucro implique esbulhar o idoso ou vender a mãe e o pai. A hipocrisia da Igreja e das IPSS da Igreja está também nas duas caras e na ambiguidade do discurso de quem mama na teta do Orçamento do Estado, os descontos dos contribuintes familiares do idoso, do discurso à roda do idoso e à roda daqueles que já nem idoso têm para aguentar o negócio, familiar da família constituída ou familiar da família "somos todos irmãos".
Venha a nós o Vosso Reino.
[Imagem "October 1935 Scene in Jackson Square, New Orleans"by Ben Shahn for the Farm Security Administration]
Caridade versus ausência de Estado. Faz lembrar o Islão. Há que fazer a Europa laica regressar ao aconchego da Santa Madre Igreja. Allahu Akbar. Deus, O Misericordioso.
[Imagem "Toast From The Jesus Toaster" by Paul J. Richards]
Porque é preciso desalavancar para ajustar, fomentam-se políticas que promovem o desemprego, a exclusão e a miséria. De seguida diminuem-se e/ ou suprimem-se subsídios e apoios porque é urgente e imperativo cortar na despesa do Estado, e porque a Segurança Social corre riscos de descapitalização devido à economia que afunda pelas políticas de desalavancagem e ajustamento.
O dinheiro supostamente poupado à despesa do Estado, e à redistribuição por xis beneficiários cidadãos-contribuintes, é redistribuído pelos mesmos, agora já não beneficiários cidadãos-contribuintes mas renomeados como carenciados sociais e famílias em risco, em parcelas infimamente menores e em géneros, porque há que retirar a percentagem que é devida aos comerciantes da miséria alheia, vulgo terceiro sector, que ainda ficam bem na fotografia pelo altruísmo de acudir aos mais necessitados em situações de crise e por chegarem onde o Estado, convenientemente, se demitiu de chegar. É um guião perfeito.
Só não há a necessidade de acenar com as «sanções disciplinares em vigor» porque o novo Código do Trabalho é suficientemente abrangente, a bem da competitividade e do crescimento. E há a bolsa de desempregados lá fora, essa força de pressão, ou de bloqueio consoante o ponto de vista, disposta a tudo para arranjar um emprego, já se começa a pensar com o estômago. Além disso a novel língua das relações laborais diz tudo, trabalhador implica uma relação contratual, de responsabilidade mútua e recíproca entre quem dá trabalho e quem vende a força de trabalho, o colaborador está ali temporariamente, é descartável, como a pastilha elástica mastiga e deita fora.
«exigências e regra que o estado impõe hoje que são exageradas e que podem ser de alguma forma diminuídas no sentido de baixar os custos de funcionamento destas instituições»
Tipo, 10 velhos num quarto para 3, ou 500 crianças num infantário para 100. Temos homem: Marco António Costa.