"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O treinador que nunca constrói uma equipa nem monta um sistema de jogo para se impor ao adversário mas sempre em função do que o adversário joga, do futebol mais feio que alguém alguma vez pudesse imaginar ser possível, e que ganha porque é melhor do mundo e arredores [desde que a bola rola sobre os relvados] e que até adivinha os resultados dos jogos, quando perde é porque o campo estava inclinado ou a relva estava molhada ou o árbitro era caseiro ou o calendário não era propício ou a bola era quadrada, ou tudo junto. Este ano foi um mau ano para a fanfarronice.
Apesar da aparente contradição quando se afirma que a penalização do FC Porto é prejudicial para o futebol português, para logo em seguida se afirmar que o Apito Dourado foi direccionado a uma única pessoa – Pinto da Costa – porque “é o que falta abater no Norte”; como se “O Norte” fosse outro país; como se já não bastasse haver uma região com estatuto de “Região-Independente-e-aparentemente-fora-da-Lei-da-República-e-que-dá-pelo-nome-de-Madeira” (e já agora, quem passou procuração ao presidente do FC Porto para falar em nome d’ “O Norte”?!?); apesar de tudo isto, ou por tudo isto, este caso é exemplar da mentalidade do legendário portuguesinho do Portugal dos Pequeninos.
Enquanto foi cá “entre a gente, entre a família”, tudo bem. Recorrer? Recorrer para quê, se eles falam, falam, falam, mas não dizem fazem nada?! O problema só surge quando “os vizinhos” começam a falar. Aí é que já não pode ser nada. Temos uma imagem a preservar. (“Nós”; Pinto da Costa; o FC Porto… ou “O Norte”?).
No fundo, no fundo, e por mais que custe a Pinto da Costa, ele é como o lisboeta quinhentista: deu três voltas ao mundo a bordo duma caravela, sabe Deus como, e a fazer sabe Deus o quê, mas na realidade nunca saiu de Xabregas.