"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A quantidade de jornalistas e analistas e comentadeiros e paineleiros em todas as rádios e televisões que no minuto seguinte ao bombardeamento cobarde e criminoso de um centro comercial se apressaram a desculpar e a arranjar justificação para o terrorismo programado de Putin, "foi um erro", "foi uma falha de cálculo", "alguma coisa deve ter acontecido", "as coordenadas do verdadeiro alvo estavam erradas", "ali a poucos metros há não sei o quê", "a fábrica ao lado trabalha para o exército", "rebeubeu, pardais ao ninho", seguido da mesma lengalenga na imprensa escrita um dia depois, depois de quatro meses a ver barbaridades a cores e em directo que só conhecíamos a preto-e-branco e em diferido dos documentários da II Guerra Mundial e a ver um boneco vestido de verde com uma ecrã atrás a debitar propaganda e a "alta precisão" dos mísseis russos. A papagaios deste calibre o Vladimir Vladimirovitch agradece.
Em cima o print screen da conta da superstar trauliteira do PCP no Twitter no elogio ao propagandista luso às ordens de Putin com a capa de "jornalista", aquele que acha, diz e escreve, que o 25 de Abril tem dono e que o PS é inimigo da revolução, seguido da notícia da execução a sangue-frio pelas tropas russas do fotojornalista Marks Levin. "a cobrir uma zona de guerra. Mas mesmo na zona de guerra". O PCP que diz não apoiar e invasão russa da Ucrânia, até porque não há invasão coisíssima nenhuma, é uma "operação", magister dixit pela boca de Jerónimo de Sousa, o PCP indignado com o ataque à liberdade de expressão e de imprensa que foi a proibição em espaço da União Europeia das agências de propaganda russas Sputnik e Russia Today, o PCP de onde não sai um pio sobre a proibição da Novaya Gazeta pelo regime de Putin nem sobre os jornalistas que caem como pardais a mando do Kremlin. É a diferença entre jornalismo e propaganda e propaganda e jornalismo numa zona de guerra. Mas mesmo na zona de guerra,
Resident Nataliia Prykhodko looks out from her burnt-out apartment in Irpin after coming back to Ukraine, which she and her 17-year-old daughter left as refugees in February, outside Kyiv, June 9. Reuters/ Marko Djurica
António Costa, aquele que ia ter uma carreira brilhante na Europa - "the future's so bright, i gotta wear shades", o que até mereceu raspanete de Marcelo, em tom de ameaça, no dia da tomada de posse do Governo, que anda desde a visita de Ursula von der Leyen a Kyiv a esvaziar expectativas ucranianas sobre a adesão à União Europeia, que não são favas contadas e coise, soube da visita de médico de Draghi, Macron e Scholz a Zelensky como todos os portugueses que vão a Bruxelas tirar fotos ao lado do Atomium, pela televisão, e pela televisão viu a presidente da Comissão Europeia dizer que a entrada da Ucrânia no clube é schnell, schnell. Agora só lhe resta ficar isolado no fica pé, ou engolir um sapo e dizer que o que disse não foi exactamente aquilo que toda a gente ouviu dizer. Como diria Mark Twain, "as notícias da importância europeia de António Costa eram manifestamente exageradas".
France's President Emmanuel Macron, Italian Prime Minister Mario Draghi and German Chancellor Olaf Scholz visit Irpin, Ukraine. Ludovic Marin/ Pool via Reuters
Local residents ride bicycles in front of the shelled building of the Kharkiv Region State Administration in Kharkiv, Ukraine, June 11, 2022. Reuters/ Ivan Alvarado
"a Ucrânia e o poder ali instalado" [...] que não pode ser dissociado "do golpe de Estado de 2014, protagonizado por grupos fascistas" julgou um soldado russo - a potência agressora e invasora, que confessou o assassínio de um cidadão ucraniano num julgamento aberto, assistido e acompanhado pelo media e organizações internacionais, de onde resultou uma condenação a prisão perpétua, decisão passível de recurso pelo condenado; por comparação com os três soldados - dois britânicos, casados com ucranianas, a viverem há décadas na Ucrânia, soldados do exército ucraniano, condenados à morte por atentarem contra a ordem constitucional de uma república separatista - fomentada e armada pela Rússia, que só a Rússia reconhece, a Rússia que invadiu a Ucrânia ao arrepio do direito internacional, num julgamento à porta fechada, do qual não se conhecem detalhes, com pena definitiva, sem direito a recurso, uma região onde desde 2014 se dão sucessivas "fracturas e divisões, por perseguições, pela discriminação e negação de direitos fundamentais e de cidadania de populações" pelas tropas pró Kremlin num regime imposto, cuja acção violenta tem sido sistematicamente denunciada por organizações não governamentais independentes e pela ONU.
O PCP não defende que a Rússia ponha fim à invasão da Ucrânia, retire para dentro de fronteiras e pare de desestabilizar a vizinhança com o fomento de pseudo repúblicas secessionistas no Donetsk e Lugansk, na Transnístria, na Abecásia e Ossétia do Sul, e no Nagorno-Karabakh, não. O PCP defende o fim das sanções à Rússia por estarem a castigar os portugueses, aplicadas por a Rússia, ao arrepio do direito internacional, ter invadido a Ucrânia e castigado os ucranianos, porque sim e por limpar o rabo a um ror de coisas que o PCP papagueia nas televisões, desde o direito dos povos à autodeterminação e independência à carta da ONU passando pela Acta Final de Helsínquia. O partido dos sonsos.