Fim-de-semana
Este fim-de-semana foi assim.
Gloria ~ U2
[7" vinyl]
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Este fim-de-semana foi assim.
Gloria ~ U2
[7" vinyl]
Ainda sou do tempo em que os U2 eram magros e genuínos e que foi mais ou menos por entre 1980 com Boy e 1983 com o inaudível War, quem disser que o conseguiu ouvir de seguida da primeira à última faixa está a mentir, passando por 1981 com October, no tempo de tocarem para umas quantas centenas em Vilar de Mouros, que na sua grande maioria nem sequer lá tinham ido por eles, e no tempo em que não faziam "grandes músicas" para a RFM passar e as que eram realmente grandes iam parar ao Index.
Depois veio a cedência comercial The Unforgettable Fire, que a vidinha custa a todos, e é legitímo e cada um escolhe o caminho que quer trilhar e, fezada, logo no ano seguinte, na embalagem do sucesso global (Feed The World) Do they Know It's Christmas Time pela Band Aid, vem o Live Aid, que cai que nem ginjas numa juventude globalizada, a ressacar da new wave e do pop manhoso dos 80s, sem choque de gerações e órfã de grandes causas. Alimentou-se África e o 'Virgin Prune" frontman Bono, que já tinha perdido a virgindade e que de ameixa não tinha nada, rapidamente percebeu que quanto mais aparecesse e quanto mais desse a cara ao manifesto mais pingava. E foi um fartote. ONU, presidentes, ministros, governos, era ir a todas e até a Davos, Mandela, meter umas imagens fortes nos ecrãs dos concertos ao vivo e umas palavras do Dr. King, beija-mão papal, o Papa a beijar a mão a Bono, e era o "nosso" homem global, a "nossa" voz, o "nosso" líder a bater o pé às corporações, às marcas, aos donos do mundo Nem sei se não ganharam um Nobel qualquer, os U2 por interposta pessoa, o vocalista.
Alimentaram-se assim e engordaram os U2 e, como diz o pagode, "dinheiro puxa dinheiro" e como o dinheiro é sempre pouco e um músico não dura sempre, vai de retirar o dinheirinho da querida Irlanda e depositá-lo na Holanda, que isto é tudo Europa e a carga fiscal é mais baixa. E, como diz o pagode "dinheiro puxa dinheiro" e como o dinheiro é sempre pouco e um músico não dura sempre, vai de investir através de paraísos fiscais, que é tudo legal, não há aqui qualquer espécie de crime, não há aqui nada para ver, é circular, é circular.
Mas, como já são muitos anos a virar palcos e a fazer depósitos bancários e África saiu da agenda mediática e o mainstream não importuna nem políticos nem multinacionais, há que inventar uma bandeira para enfeitar os concertos, e o nacionalismo e o autoritarismo e o Steve Bannon e o Orbán e o Salvini estão mesmo aqui à mão, mesmo que se alimentem de apontar à opinião pública dos respectivos países os ricos e os poderosos que fogem a pagar os impostos nos países de origem e investem o pecúlio amealhado pelos labirintícos paraísos fiscais, de bandeira da união Europeia na mão e na lapela do casaco.
Ainda sou do tempo em que os U2 eram magros. E genuínos.
Honesto só mesmo Frank Zappa que nunca escondeu ao que vinha, We're Only in It for the Money.
[Imagem]
Este fim-de-semana foi assim.
New Year’s Day – U2
(7” double vinyl)
Fico muito satisfeito por saber que, apesar de não ter posto os chispes no estádio, contribui com o dinheiro dos meus impostos, aquele dinheiro que não chega para pagar o abono de família e o subsídio de desemprego, para a fortuna pessoal de Bono & Cia Ldª:
«Turismo de Coimbra apoiou concerto dos U2 em 200 mil euros»
Para já não falar dos milhares que compraram, na net e ao balcão, bilhetes verdadeiros para ver uma banda falsa.
Este fim-de-semana foi assim.
Sunday Bloody Sunday – U2
(7”vinyl)
Aqueles que perdem uma noite numa fila à porta de um centro comercial na ganância ânsia de comprar um bilhete para um concerto dos U2 a acontecer daqui por um ano, são exactamente os mesmos que esgotam o mega pic-nic com Tony Carreira no Parque da Bela Vista. Por muito que lhes custe admitir.
(Imagem de autor desconhecido)