Covid 19, direita do tugão e propriedade privada
Vai grande alvoroço nas hostes da direita do tugão, por defeito beata e temente a Deus, aquela que qualquer que seja o evento - funeral, missa, casamento, investidura, baptizado, tem sempre lugar reservado na primeira fila das igrejas, mesmo que seja só essas as vezes que lá mete os chispes, com a possibilidade do Estado requisitar temporariamente, sublinhe-se temporariamente, um alojamento turístico em Longueira- Almograve para período de confinamento obrigatório e isolamento profilático dos trabalhadores agrícolas sazonais na região de Odemira, mesmo que os proprietários estejam em situação de falência e com dívidas de vários milhares de euros ao Estado, e apesar das culpas do PS na "institucionalização de uma espécie de “campos de refugiados” para trabalhadores agrícolas estrangeiros no Alentejo" nos concelhos de Odemira e Aljezur.
E o que diz a Igreja Católica à direita beata do tugão com lugar cativo nas primeiras filas das igrejas de boca aberta para receber o "Corpo de Deus"? Diz que a propriedade privada é um direito legitímo mas não absoluto.
Faço minhas e volto a propor a todos algumas palavras de São João Paulo II, cuja veemência talvez tenha passado despercebida: «Deus deu a terra a todo género humano, para que ela sustente todos os seus membros, sem excluir nem privilegiar ninguém». Nesta linha, lembro que «a tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de propriedade privada». O princípio do uso comum dos bens criados para todos é o «primeiro princípio de toda a ordem ético-social», é um direito natural, primordial e prioritário.Todos os outros direitos sobre os bens necessários para a realização integral das pessoas, quaisquer que sejam eles incluindo o da propriedade privada, «não devem – como afirmava São Paulo VI – impedir, mas, pelo contrário, facilitar a sua realização». O direito à propriedade privada só pode ser considerado como um direito natural secundário e derivado do princípio do destino universal dos bens criados, e isto tem consequências muito concretas que se devem refletir no funcionamento da sociedade. Mas acontece muitas vezes que os direitos secundários se sobrepõem aos prioritários e primordiais, deixando-os sem relevância prática.
Portanto o "amor ao próximo" e a "caridade cristã" não interessam para nada, eles que morram longe, ainda por cima são do outro lado do mundo, e o Estado que nos devolva o dnheiro que lhe devemos.
[Imagem de autor desconhecido]