"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O justiceiro, contra a bandidagem mão pesada da justiça, prisão perpétua, castração química, alcatrão e penas, falar verdade ao povo, nova República, Deus está lá em cima, do nosso lado cá em baixo, quando apanhado a mentir com quantos dentes tem na boca de cada vez que a abre, a liderar um partido fora-da-lei com um ror de ilegalidades a perder de vista atrás de si, emula o ídolo Trump e diz-se vítima de perseguição política e de uma caça às bruxas.
Tudo o que saiu do Chega desde a sua fundação, congressos, estatutos, órgãos, deliberações, votações, tudo foi declarado inconstitucional e inválido, segundo o Constitucional. Tudo. Mas o Chega continua constitucional e válido, segundo o Constitucional.
Orbán, o homem de mão de Putin dentro da União Europeia, crescido e engordado pelo Partido Popular Europeu, da direita dona da democracia. Anos a fio com o comunismo, Cuba e a Venezuela, o esquerdismo e o 25 de Novembro, o totalitarismo comunista, rebéubéu pardais ao ninho, enquanto engordavam Orbán. Agora estamos reféns do Putin, pelas posições do camarada húngaro, e os donos da democracia nem um pio.
Anos a fio com a independência da magistratura, a separação dos poderes, o primado do direito e o respeito pelos direitos humanos, enquanto na Hungria, mesmo debaixo dos doutos e democráticos narizes, Orbán limpava o rabo a isso tudo e ainda à independência da comunicação social, para agora se ensaiar dentro de portas uma "via GOP" na tomada por dentro do Constitucional, com a indicação, pelos pares da direita dona da democracia, de um fanático que defende a punição do mensageiro - a comunicação social, no caso de fugas ao segredo de justiça, e cita como fonte científica experiências levadas a cabo pelos nazis em campos de concentração, tudo isto explicável e desculpável ao abrigo do princípio da "liberdade de expressão".
A direita, dona da democracia, tem um problema com a democracia.
O prémio "Supremo Irresponsável da Nação", a atribuir ex aequo ao Partido Socialista, ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista, pelo fechar de olhos e encolher de ombros aos 157 205 votos do Círculo Eleitoral da Europa deitados para o lixo numa descarada falta de respeito pelos cidadãos portugueses a residir e a trabalhar no estrangeiro, fugidos de Portugal vítimas da política e acção governativa, para o caso dos vários governos PS, é atribuído no fechar da contagem ao candidato presidencial de António Costa, Ferro Rodrigues, e Partido Socialista, eleito Presidente da República, pelo aparte “É uma lição para os partidos”, que é como quem diz, esteve a chover e eu [ele], administrador do condomínio, passei pelos intervalos da chuva, porque “Parti do princípio que o Tribunal Constitucional não decidia anular as eleições” quando devia ter partido do princípio que em democracia todos os votos e todas as pessoas contam. “Está decidido! É a democracia a funcionar“, mesmo que tenha funcionado contra aminha [sua] vontade, por omissão e ausência.
Depois de descoberto, e com o nome na praça pública, depois de se saber que cometeu crime de falsas declarações, que dá pena de prisão, "Morais Sarmento, vice-presidente do PSD, corrige declaração de rendimentos e património no Tribunal Constitucional". Andava nas gavetas à procura de uma esferográfica Bic para assinar umas papeladas e foi dar com a escritura de um hotel e de uma escola de mergulho em Moçambique de que já nem se lembrava que era proprietário e, como uma coisa leva a outra, lembrou-se também de que era titular de uma conta offshore, o saldo vem por e-mail e foi parar à caixa Spam. Para limpar a imagem, e na contenção de danos, conta com os prestimosos serviços do grupo de imprensa do militante n.º 1, que ainda não encontrou a prometida lista de jornalistas avençados do BES de Ricardo Salgado nos papéis do Panamá, vai para 6 - seis - 6 anos. Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
Por exemplo, já um professor passar décadas com a casa às costas, todos os anos a saltitar de cidade em cidade ou de vila em vila, sem receber qualquer subsídio de habitação como os meritíssimoo juízes, é bastante prestigioso para a classe e para a educação no país, para não falar na estabilidade emocional e profissional e tudo o que vem por arresto, como, também por exemplo, a constituição de família.
Outra coisa bastante prestigiante, e que gera confiança na população, é um tribunal legalizar um partido pejado de fascistas com assinaturas falsas.
Desprestígio é numa democracia europeia do século XXI um tribunal ser alocado onde o povo, por interposta pessoa o poder político por si eleito, achar que ele deve estar.
Acordamos com as primeiras páginas "Costa enfrenta Marcelo", "Costa desafia Marcelo", lá dentro, no Público, "Costa não obedece a Marcelo" [verdade] quando, independentemente da urgência e da justeza dos apoios por que esperam 130 mil desesperados compatriotas nossos com a corda na garganta e um túnel ao fundo da luz, isso será julgado no dia das eleições, a verdade é que "Marcelo enfrentou a Constituição", "Marcelo desafiou a Constituição", "Marcelo não obedece à Constituição" que juro defender e fazer cumprir. Estas seriam as letras gordas, verdadeiras, a ilustrar primeiras páginas.
O Chaga convocou uma manif junto ao Tribunal Constitucional como forma de pressionar os juízes, zeladores da Constituição da República, caso sejam chamados a pronunciar-se sobre a ilegalização do partido à luz do livro. Nos fascismos, onde não há separação de poderes, estas questões não se colocam porque os juízes decidem o que convém ao regime, num Estado de direito democrático este tipo de coacção é inaceitável e se calhar até devia pesar na balança de uma eventual pronunciação.
O Parlamento bom, o que permitiu ao Partido Socialista tendo perdido as eleições governar durante toda uma legislatura, a mui famosa 'Geringonça', para grande espanto da direita que, em quarenta anos de democracia, foi obrigada a aprender um conceito novo: democracia parlamentar constitucional, é afinal o Parlamento mau, o que chumba as propostas do PS, sem maioria absoluta no hemiciclo, levadas a votação sem previamente falar com as outras forças parlamentares.