"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Fugas cirúrgicas ao segredo de justiça. Gravações de audio e imagem dos inquéritos nas televisões e nas rádios. Primeiras páginas assassinas no Correio da Manha [sem til]. Promiscuidade total entre a justiça e os tablóides, escritos e televisivos. Tudo é sempre "o Ministério Público acredita" nunca há um "o Ministério Público tem provas". Para quê se o julgamento é feito na praça pública? Dito de outra forma, se é uma questão de fé, de acreditar, uma fezada sem provas, mais vale julgar e condenar na abertura do telejornal e na primeira página do jornal. Chama-se "assassinato de carácter". No faroeste metiam alcatrão e penas também.
«O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal não aceita que o primeiro-ministro deponha por escrito como testemunha do processo de Tancos e cita a lei: "As decisões dos tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas e privadas e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades."»
Tivesse a hombridade de pedir escusa por incompatibilidade, separação de poderes, transparência, o que quiserem, entre quem investiga e quem instrui o processo e podia ir "refeiçoar espartanamente" por a questão do sorteio e da suposta "manipulação" algorítmica já não se colocar. Não anda erecto quem pode, anda quem quer.
E depois temos pessoas que gastam a vida a apregoar o sistema judicial 'amaricano' e que ficam genuinamente indignadas com juízes que fazem as coisas à 'amaricna', by the book.
"Por questões de segurança" relacionadas com condenações saídas do martelinho de partir tenazes de sapateira, vulgo “malhete”, do meritíssimo juiz, não são de certeza.
"Por questões de segurança" relacionadas por mandar Ricardo Salgado tratar da vidinha a troco de uma caução paga com dinheiro que se calhar está a fazer falta noutro lado, nomeadamente no banco que já foi BES, também não deve ser. Nem o senhor doutor banqueiro é o Salvatore Riina no que à violência diz respeito.
"Por questões de segurança" relacionadas com a investigação ao caso submarinos também é de excluir porque isso são águas passadas.
"Por questões de segurança" relacionadas com o processo José Sócrates não são de certeza, nem o ex-primeiro-ministro é Mario Moretti ou Andreas Baader, nem o PS é a Fracção do Exército Vermelho ou as Brigadas Vermelhas.
Resta a hipótese das "questões de segurança" que pressionem o meritíssimo juiz a não fazer o seu trabalho como nos “bonecos", venda nos olhos, balança numa mão e espada na outra, ou "questões de segurança"-questões de segurança, daquelas comuns a todos os mortais, tipo cair o tecto ou abrir-se o chão debaixo dos pés, ou ainda "questões de segurança" relacionadas com o recato e a privacidade e não com o segredo de justiça, cirúrgico e a conta-gotas, na primeira página do Correio da Manha e do Sol.
O que me encaganita é a coincidência do alarde das "questões de segurança" no alarmismo da praça pública, agora, neste preciso momento e com este preciso juiz. Sublinho coincidência que não quero cá confusões, por questões de segurança.