"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Independentemente da baralhação, involuntária ou propositada, do médico que diz que nem por 500 €/ hora trabalhava na noite de Natal, da ministra que revela que não se consegue resolver o problema da falta de médicos por alturas das Festas quando são pedidos 500/ € hora, e do jornalista que publica que o Estado paga 500 €/ hora aos médicos, o que a senhora ministra devia explicar é a razão ou as razões para as contratações de médicos serem no valor de 39 €/ hora a entregar a uma empresa de trabalho temporário que fica com a parte de leão, sem se chatear nada nem sequer ter passado seis anos a estudar medicina, e não o hospital a contratar o médico directamente por esse valor. Entre este procedimento e os procedimentos nos idos do Governo da direita radical não há aqui grande diferença.
O Governo, que administra o Estado, cria legislação que permite ao Estado pagar com o dinheiro dos dias de trabalho do contribuinte, por via do Orçamento do Estado, a uma empresa privada que contrata médicos para, temporariamente, trabalharem num hospital público, do Estado, do contribuinte, do cidadão, ganhando tanto ou mais com cada médico contratado do que o médico contratado vai ganhar.
E depois há os que fazem contorcionismo, até espremer o osso [ortopedia em hospital público, do Estado, pago com o dinheiro dos dias de trabalho do cidadão] para conciliar Juramento de Hipócrates [descoberto na manhã da véspera de Natal] com contenção de custos na saúde, cortar gorduras e acabar com a má-despesa, rigor e exigência, até a culpa cair no médico.