"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Se a remodelação abafou o Orçamento do Estado e o Orçamento do Estado já tinha abafado a demissão do ministro e a se amanhã há mais e a generalidade dos analistas e comentadores é unânime na avaliação a Marta Temido como a tentativa de acalmar a contestação e encontrar soluções, a manutenção de Tiago Brandão Rodrigues na Educação significa que a confrontação com a Fenprof é para levar até ao dia das eleições quando, pela primeira vez, começa a ser visível a hostilidade dos transeuntes no passeio, manifestada verbalmente às manifs dos profs que passam na avenida e que começam a perder a opinião pública?
[Imagem "Joseph Beuys, Portrait of the artist" by Robert Lebeck 1978]
Depois do circo "Abertura do Ano Judicial" vem a a parolice da propaganda mais básica que dá pelo nome de "assinalar a abertura do ano escolar", todos os anos, desde que me lembro, com o primeiro-ministro e o ministro da Educação numa escola qualquer, com uma trupe de emplastros atrás, este ano com um Governo de esquerda, suportado no Parlamento pela esquerda, toda, a fazer exactamente o mesmo número de agit-prop dos governos da direita e dos governos da marcha do balão do "arco da governação" em anos passados, sem perceber que as pessoas querem é os problemas do dia-a-dia resolvidos e não arraiais montados para as televisões, sem perceber que as pessoas sabem perfeitamente se a escola abriu a tempo e horas e com os profs todos, faça o Governo a propaganda que fizer, faça a oposição o barulho que fizer, façam as televisões o que muito bem entenderem fazer consoante a agenda de quem lhes paga.
Podia também o Governo, de esquerda, suportado no Parlamento pela esquerda, toda, assinalar o início do campeonato nacional de futebol, com o secretário de Estado do Desporto num estádio qualquer da primeira divisão, o início da faina da sardinha, com o ministro do Mar a bordo de uma traineira, ou o início da campanha do trigo, com o ministro da Agricultura em cima duma ceifeira-debulhadora numa herdade qualquer no Alentejo, para ficarmos todos de barriguinha cheia que circo é espectáculo a que o comum dos cidadãos só acede por alturas do Natal, ou então podia o Governo, de esquerda, suportado no Parlamento pela esquerda, toda, pura e simplesmente acabar com isto e optar pela sobriedade e pela governação e pouparem-se ambos, primeiro-ministro e ministro da Educação, a espectáculos tristes. Podia mas não era a mesma coisa.
- Um bando de palermas, acoitados debaixo de uma bandeira e de uma sigla política, porque têm uma vaga lembrança de umas bocas ouvidas da boca dos mais velhos, resolve comparar Mário Nogueira da Fenprof a Estaline, demonstrando desta forma a sua ignorância e a sua falta de cultura porque, se soubessem um mínimo dos mínimos sobre a história da Europa do século XX e sobre quem foi o 'Pai dos Povos', nem sequer pensavam duas vezes antes de chamar Estaline a alguém, não chamavam, ponto final. Os infantes da direita radical, escudeiros do estudioso de Salazar, têm dois defeitos: são burros e não querem aprender.
Ainda sou do tempo dos deputados do PSD na rotunda do Marquês de Pombal a aplaudir efusivamente a manif da Fenprof encabeçada por Mário Nogueira. Era o tempo em que dava jeito ao "sentido de Estado" e à "responsabilidade" do PSD que o Comissário Nogueira pusesse e dispusesse no Ministério da Educação, em defesa dos professores e da escola pública.
Ah e tal, nada de mal-entendidos, quem tem cu tem medo, nada de segundas intenções à roda de negócios e negociatas, que isso é com os contratos de associação do bloco central de interesses, era de Mário Nogueira e dos comunistas da Fenprof que se falava. Desconhecendo, na realidade paralela onde habitam, que quatro anos de Nuno Crato fizeram mais pela reabilitação do Comissário Nogueira aos olhos da opinião pública, das famílias, dos pais e encarregados de educação, dos professores, não necessariamente por esta ordem, que o tempo que tudo cura e o depois de mim virá quem de mim bom fará.