"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Há alturas em que os cidadãos estão mais despertos e sensibilizados para determinado tipo de temáticas, e aquelas alturas em que, pelo aumento do desemprego, pelos cortes no salário e nas prestações sociais, pelo aumento do preço dos serviços, dos bens de primeira necessidade, das taxas e da carga fiscal, o cidadão passa a adjectivo e é destronado pelo contribuinte, que passa a substantivo, no ranking do léxico do Estado, então são alturas terríveis.
Bastava ter estado, desde sempre, atento às letras pequeninas, que é como quem diz à ficha técnica que passa a correr no final dos programas, desde o telejornal aos programas infantis, passando pelas reportagens, séries de produção nacional, talk shows, meteorologia e et caetera e et caetera, para perceber, desde sempre, a importância da família e a frequência do nome de família na televisão pública.
A RTP, com redacção, estúdio e (excelentes) profissionais na Madeira, para assinalar um ano da tragédia das enxurradas, envia do Porto continente um jornalista para um fim-de-semana de férias fazer de pivot nos telejornais. Em tempo de crise e de contenção, a única economia conhecida à televisão do Estado foi ao nível ortográfico: retirar o pê a Egipto. Depois “oh da guarda!” que o “outro” quer privatizar acabar com o serviço público de televisão.
A RTP que tem delegação, produção própria, e jornalistas na Madeira, passa um atestado de incompetência aos profissionais que emprega e envia Luísa ‘aaa…’ Bastos para cobrir as visitas de Cavaco Silva e Manuel Alegre como nos tempos da televisão a preto-e-branco, ou a RTP que tem delegação, produção própria, e jornalistas na Madeira envia Luísa ‘aaa…’Bastos para umas mini férias no Condado Jardinense. Aaa… ainda não percebi aaa… qual.
Saímos à rua, às páginas dos jornais, aos blogues, ao Twitter, ao Facebook e ao mais que seja, em defesa dos estrangeiros pedintes das ex-repúblicas socialistas que estão em risco de expulsão; saímos em defesa dos PALOP’s desempregados que vieram trabalhar para o El Dorado das obras públicas e que, terminado o contrato, ficaram por cá ao Deus dará a construir uma cidade de lata à roda da cidade ou que fazem das montras da baixa motel por uma noite; saímos em defesa dos estrangeiros naturalizados na Selecção de Futebol como cidadãos de pleno direito. No fundo saímos para prevenir um Le Pen que por enquanto só temos em versão soft Paulo Portas e somos nós próprios um Le Pen ultra light que só vê ameaça estrangeira na cor do dinheiro, e mesmo assim nem em todo, porque empresas há que já passaram (e muitas mais programadas para passar) pelos intervalos da chuva, sem que tenham causado pruridos de perda de soberania. Arranjem outro argumento que esse até vos fica mal.