"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Passaram a sexta, o sábado, e o domingo até ao apito do árbitro, muito indignados nas redes porque a final da Taça de Portugal, por ser entre uma equipa dos cus de Judas e uma do Porto - o centralismo lisboeta, a Pintofobia e outras calimerices do género, não estava a ter na imprensa o mesmo destaque que habitualmente tem, ler: não estava a ser o circo imbecil montado pelas televisões nas portas dos centros de estágio, hotéis, motas atrás dos autocarros, directos de duas e três horas com entrevistas a cada palerma anónimo mais palerma que o entrevistado anterior, com as previsões mais estapafúrdias e os comentários mais alarves que nem o Freud conseguia explicar, quando o lamento e o protesto nas redes devia ser por as coisas não serem sempre assim, sejam as equipas quais forem na disputa - Benfica, Porto, Sporting, Braga, etc.
Quando em jogos decisivos se mete a equipa jogar contra natura, à defesa; quando se está a ganhar por um e se troca o avançado pelo defesa que nem sequer tem ritmo de jogo nas pernas; quando se adapta um defesa central a defesa esquerdo com defesas esquerdos no plantel que nem sequer são convocados; quando se tem um guarda-redes promessa e se faz uma época inteira com a baliza à guarda de um guarda-redes da loja do chinês; quando, em desespero de causa, se lançam foras de série nos últimos 10 minutos de jogo depois de uma época inteira no banco; quando Cardozo, el cepo, faz ao minuto 94 da final da Taça de Portugal a melhor jogada desde que está ao serviço do SL Benfica.
Estive a ver na TVI o Penafiel jogar para a Taça de Portugal contra uma equipa de que não me lembro agora do nome, e os comentadores que andaram duas semanas seguidas a malhar nos adeptos do Sporting por assobiarem o Paulo Bento e a equipa, eram os mesmos que levaram o jogo todo a dizer que os adeptos da equipa de que não me lembro agora do nome estavam a ser muito compreensivos porque não a assobiavam.
Estava para ali a arrumar uma pilha de papéis, brochuras, revistas e afins que fui acumulando num canto a sala, e fui dar com uma edição d’A Casa Grande de Romarigães, edição da Bertrand, que comprei recentemente por um euro e meio na Feira da Ladra em condições aceitáveis; e que já nem me lembrava que existia. Reza assim o primeiro parágrafo:
“Quando se procedeu ao restauro da Casa Grande, que foi solar dos Meneses e Montenegros, houve que demolir paredes de côvado e meio de bitola em que há um século lavrava a ruína, ocasionando-lhes fendas por onde entravam os andorinhões de asas abertas e desníveis com tal bojo que a derrocada parecia por horas.”
Tem a sua piada… Este escrito de Aquilino, mais o comentário “não dá jeito cabecear com o nariz, nem chutar com a canela”, dito por um cromo que acompanhava na SIC o Benfica – Paços de Ferreira para a Taça de Portugal, a propósito de um “parafuso” de Makukula; pelo caminho que as coisas levam, podem perfeitamente ser as cachas dos jornais no rescaldo aos resultados do PSD nas Legislativas de 2009.