"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Os 42 anos de democracia também já têm um tempo e um passado, é o tempo passado da monarquia-republicana dos políticos que lutaram muito contra a ditadura e a opressão, que fizeram muito por Portugal e pelos portugueses, que se esforçaram muito pelo regime democrático e pela consolidação da democracia parlamentar partidária, que deram os melhores anos da vida pelo Estado de direito e por isso devem ser, monetariamente, recompensados e que quando a conversa não lhes interessa sacam do argumento do "populismo" e rematam com o da "demagogia", assim a modos que uma "Lei de Godwin" dos políticos pantomineiros-manhosos.
Ética republicana, eu é que sou a verdadeira socialista, doutrina social da igreja, recepções a chefes de Estado estrangeiros com repasto servido em depósitos de velhos, administrados pela indústria da engorda à custa da miséria alheia a expensas do Estado - IPSS's, servido em talheres de prata pagos pelos suspeitos do costume e discos do Frank Zappa.
É legal? É. É constitucional? É. É legal e constitucional mas "tem por base um mistério: quem foram os autores desse pedido de fiscalização?". Porque não basta ser legal e constitucional também é preciso que seja moral, o outro pilar, não escrito, da civilização no Estado de direito. E pior do que ser imoral é os requerentes beneficiários terem a consciência, acobardados no anonimato, do pedido que fizeram e das suas implicações presentes e futuras, no que refere ao capítulo em que todos ficámos catedráticos nestes últimos 4 anos - Economês Sem Mestre, por via do Orçamento do Estado suportado pelo bolso dos contribuintes, e na imagem e credibilidade dos partidos e do sistema parlamentar constitucional. É o triunfo dos porcos não no sentido orwelliano da expressão mas no sentido suíno da mesma.
Ou, como disse o vazio técnico que ocupa a cadeira da Presidência da República no dia 5 de Outubro que-já-foi-feriado-nacional, é urgente os partidos reflectirem sobre a realidade política nacional e que, urgentemente, cheguem a um consenso de modo a responder aos cada vez maiores níveis de abstenção causados pela insatisfação dos cidadãos com a classe política porque, caso contrário, o regime corre o risco de implodir. E tal. E até porque anda por aí o Marinho e Pinto e outros que tais e apesar de antes de haver o Marinho e Pinto ter havido, e há e se calhar vai continuar a haver, Paulo Portas, sem que ninguém alguma vez tenha mostrado preocupações com populismos [esta parte já disse eu].
Uma chico-espertice porque, como as vitalícias dos políticos acabaram em 2005, terá de ser um corte retroactivo, e como é retroactivo e os políticos dão o exemplo, o pagode cala, come, e leva pela medida grande mesma medida. Areia para os olhos duas vezes.
Tudo isto "a nível pessoal", claro. Paulo Portas salva sempre o coiro. Nunca subestimar os dotes do bailarino-contorcionista.
Adenda: Mais depressa se apanha um Portas que um coxo, e a medida de "contornos não delineados" num click passou a "fuga de informação".