"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
«Quando na televisão aparece um rosto extremamente jovem a falar com ar decidido ele tanto pode ser um dirigentes do CDS/PP como um "analista" de mercados. Ou seja: a possibilidade de haver uma crise de acne financeiro podia ter sido detectada a partir das nossas casas, bem portuguesas, sem termos necessitado de esperar pelas falências norte-americanas. Por isso, também temos responsabilidade na crise. Podíamos ter visto...»
Numa parede da minha rua, alguém pintou a azul em letras garrafais: Madonna (com dois énes), Depeche Mode, Glorioso SLB, e Marco Love (sem ésse) Carina, mais respectivo coração e seta, fora de esquadria.
Foda-se, que o mundo anda a ficar estranho! E não é por causa da sub-prime.
Não há cão nem gato que por tudo e por nada e por mais alguma coisa, e ultimamente com maior frequência por causa da sub-prime, não venha dizer que a morte das ideologias foi decretada depois da queda do Muro, mas que afinal não é bem assim, que elas aí estão, de regresso e em força, se é que alguma vez se ausentaram, e que agora os que decretaram a sua morte vão engolir sapos e o não sei quantos.
Eh pá desculpem lá: eu sempre habitei neste planeta; sempre li os jornais e sempre vi os telejornais, não só aqui os do rectângulo, mas também os dos arredores, e nunca dei fé de alguém ter decretado o Fim das Ideologias. Será que sou assim tão distraído?
Isto soa-me a conversa da treta. O que eu sempre ouvi sim, foram alguns comentadores-fazedores(?)-de-opinião dizer que tinha sido declarado O Fim. Se à época em que o boato foi lançado, alguém se tivesse lembrado de perguntar “oh meu amigo, o sôr fachavor importa-se de dizer onde é que ouviu isso; quem é que disse? Em que é que o sôr se fundamenta para dizer o que diz?” a coisa tinha ficado logo por ali. Assim, serve de argumento para fazer conversa. É o regaço onde todos se vão aconchegar: “ah e tal, afinal o Muro caiu mas como eu vos tinha dito…” Piss Off!
Eu que não gosto nada de saber que o dinheiro dos meus impostos é desbaratado a eito, ainda por cima para pagar as alarveirices de meia-dúzia de privilegiados, e principalmente quando não há dinheiro para nada, e quando o mais certo é que daqui por uns anos (aposto que não vão ser muitos) vai haver outra vez privatização dos bancos e que estes vão regressar às mãos dos ditos alarves, ou na pior das hipóteses acabar nos seus filhos ou familiares ou amigos, se fosse amaricano votava nos republicanos; naqueles que votaram contra o Plano Paulson?
Um cidadão anónimo, entrevistado pela SIC à porta da AIG na Avenida da Liberdade em Lisboa, após ter feito o resgate das suas poupanças:
«Não quis arriscar, mas vou informar-me se o Estado cobre este género de fundos»
Ora aqui está o espírito neo-liberal em todo o seu esplendor!
Os “burros” descontam para a Segurança Social e se quiserem uma consulta levantam o rabinho cedo da cama e vão para a bicha; se necessitarem duma intervenção cirúrgica vão para a lista de espera que pode levar anos; e andam “ó tio! ó tio!” com a corda na garganta porque não sabem se alguma vez vão usufruir duma reforma, apesar de descontarem uma vida inteira.
Os “espertos” têm seguros de saúde privados e são atendidos e tratados na hora, Planos Poupança Reforma, e se der para o torto, o «Estado cobre». Com o dinheiro que não se sabe se chega para pagar as reformas dos “burros”.
Daqui por uns anos as instituições hão-de vir a ser outra vez privatizadas. Volta tudo à estaca zero. Especulação à farta; novas fortunas na calha, os mesmos de sempre com a corda na garganta e os mesmos de sempre a saírem impunes (e ricos), porque há sempre alguém, perdão o Estado, perdão todos nós, que assume o risco e tapa os buracos.