"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Democracia é desde que seja contra os 'amaricanos', mesmo nos sítios mais esdrúxulos como a Venezuela, Cuba, China e aquele sítio que não se sabe se é ou não é, a Coreia do Norte; autodeterminação e independência é desde que seja contra o imperialismo 'amaricano', sionista ou outro ista qualquer, tipo no Saara Ocidental ou na Palestina, ou no Afeganistão depois dos soviéticos terem sido derrotados se terem ido embora, todos os outros amocham porque está escrito na Acta que devem amochar. Democracia é quando o PCP decidir que é.
Mupis e outdoors de Moscovo começam a ser preenchidos com posters a identificar a Suécia como um país de nazis. "Desnazificar" a Suécia é a próxima "operação militar especial"?
Ainda que com outros predicados, a argumentação, na sua essência, é a mesma da dos carecas de Doc Martens, envolta num papel de embrulho neoliberal e respeitadora das instituições e da legalidade democrática. Há os ideólogos e há a tropa de choque. Sempre houve.
A imigração que contribuiu para que a Suécia fosse ultrapassada por Portugal no Pisa 2012 não é a mesma imigração, a do boom, que nos mesmíssimos anos Portugal recebeu, por via das obras públicas e dos estádios do Euro e das pontes e barragens e da Expo e etc., os tais empregos para moldavos e brasileiros de Manuela Ferreira Leite, e que contribui para que Portugal ultrapassasse a Suécia no Pisa 2012. Os nossos imigrantes não faziam filhos. Ou se os faziam não os punham na escola, vá lá. E os imigrantes dos suecos gastavam o cheque-ensino em bebedeiras e em luxo ocidental.
Arame farpado para os que chegam e um barco de volta para os que estão, na Brigada Helena.
À parte o confundir [deliberadamente?] a sustentabilidade da dívida com a "impossibilidade" do FMI e da Alemanha Comissão Europeia deixarem cair Portugal depois do exemplo Grécia, tudo normal, Cavaco Silva igual a si próprio.
Uma multinacional sueca comercializa refeições congeladas, cozinhadas por uma empresa francesa numa fábrica no Luxemburgo, que contratou uma empresa cipriota para comprar a carne que, por sua vez, subcontratou outra na Holanda que fez a encomenda na Roménia.
Há quem ache isto normal, é o mercado a funcionar, dizem. Descontando a novidade de acontecer na Europa [costumava ser no Sudoeste Asiático e na América Latina], e descontando a parte do "quem se lixa é o consumidor", nesta cadeia tudo funciona correctamente e na perfeição, desde a desresponsabilização social das empresas, até à inexistência de vínculos contratuais, passando pelo aumento das mais-valias e pelos respectivos baixos salários para horários de trabalho "alargados" e sete dias por semana, mais a ausência de direitos e garantias para quem está no fim da escala da cadeia de produção. Resumindo, uma major, sueca, europeia, da Europa do Estado social, do ramo da alimentação, com lucros fabulosos para distribuir pelos accionistas e que, para todos os efeitos, só tem "meia dúzia" de funcionários nos seus quadros…
A Naomi Klein, que explicou tudo isto há muitos anos, sofreu um ataque cerrado dos paladinos do neo-liberalismo e do capitalismo desregulado e foi dada como louca e ignorante.
Há quem ache isto normal. Desculpem, mas não acho nada disto normal.
Seria interessante saber quantos destes seis mil democratas e multiculturalistas levantaram o rabinho da cama ou do sofá no dia das eleições e foram exercer um direito fundamental d(n)as democracias: votar.
(Imagem August 8, 1925, Dr. H.W. Evans, Imperial Wizard via National Photo Company Collection)