"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Andaram o Tavares, o Raposo, o Fernandes e o painel todo do Observador, mais uns patetas avulso nas televisões, laboriosamente a construir uma narrativa em torno das transferências de votos do eleitorado, tradicionalmente PCP/ CDU/ comunista para o Chaga, no Alentejo e nas zonas urbanas anteriormente conhecidas por "cinturas industriais", para depois a sondagem Aximage para os Notícias, Diário - Jornal, e TSF deitar tudo por terra.
O dia em que ficámos todos a saber que o PS, com 37,6% nas intenções de voto, é ultrapassado pela direita "graças ao fôlego dos liberais", com uns estratosféricos 5,7%. Mas como é que possível a alguém que circula a 6 à hora ultrapassar outrem que vai a 40, seja pela direita ou seja pela esquerda? É que "a soma dos partidos à direita volta a ser superior à projecção eleitoral dos socialistas", apesar da soma dos partidos à esquerda - PS + BE + PCP + Livre, ser 52,4%, contra os 39,5% da direita - PSD + CDS + Iniciativa liberal + Chega. Maioria absolutíssima de esquerda [o PAN, por não ser carne nem peixe, sem piadismo, não foi considerado nesta soma].
Não se desse o caso de em Portugal cada vez menos gente ler jornais e ainda muito menos o Diário de Notícias e dos que lêem, quer à esquerda quer à direita, saberem fazer contas, isto era mais uma acção de propaganda manhosa para a maioria dos antigamente informados pela leitura das gordas.
Quando tens o partido que lideras a ser papado pelo sucedâneo de extrema-direita, incubado durante décadas entre portas com a capa do "sentido de Estado", depois legitimado em acordos para a governação, e a única coisa que te ocorre é chutar para canto com piadas sobre os comunistas.
"A brincar, a brincar, foi o macaco ao cu à mãe", vox pop.
Este é o gráfico posto a circular nas redes pelos minions do Ventas, à parte a "Pitágora & Sondagens PT" não existir, um peru menor, como diz o povo, as pessoas olham e vêm um gráfico impressionante, o Chaga como terceira força política, a morder os calcanhares ao PSD, a deixar lá bem no fundo da rua o CDS do Chicão, apesar dos esforços suados do Nuno Melo. O tipo [typography] com o dobro do tamanho do dos outros partidos políticos para encher o olho e tapar o cérebro, impactante, impressionante. Ninguém se dá ao trabalho de mais nada que não partilhar este fenómeno da política. Missão cumprida, a dos minions. Só que depois fazemos as contas e são 22 + 20 + 5 + 4 + 3 + 2 + 1 + 1= 58 deputados eleitos pelo distrito de Lisboa que elege... 48 deputados, menos 10. Até a Wikipédia sabe. Missão cumprida, a dos minions, discípulos de Goebbels.
Adenda: Uma sondagem sem indecisos, nulos, brancos, abstenção, ou não sabe/ não responde. Todo o eleitor em idade de votar, vota. Há que dar valor a tamanha capacidade de mobilização do eleitorado.
Dizia na televisão um habitante do concelho de Mação que o fogo deste ano seguiu exactamente o mesmo trajecto seguido pelo fogo de 2017. Não é muito difícil prever qual vai ser o sentido do fogo no ano de 2021. E é assim de há vinte e tal anos a esta parte, desde que inventaram o "petróleo verde", que ia tirar as pessoas da miséria, sem nunca ninguém ter informado as pessoas que as pessoas que sairiam da miséria eram outras pessoas e que davam pelo nome de accionistas e proprietários das celuloses, enquanto o dinheiro dos nossos impostos anda em bolandas todos os verões para resgatar pessoas e bens vítimas do petróleo verde já que a bio-diversidade e o ambiente caminham irreversivelmente para a desertificação, a seguir à desertificação humana às mãos das más escolhas políticas.
Daí o interessante da sondagem saída hoje no Jornal de Notícias, um dia depois depois do presidente da Câmara de Mação ter vindo apontar o dedo ao Estado, ler "o Governo", pelo incêndio, o tal que faz exactamente o mesmo trajecto todos os anos em que há incêndios, e no dia em que o presidente da Câmara de Vila de Rei aparece a repetir o mesmo missal, o falhanço do Estado, ler "do Governo".É que daqui até às eleições de Outubro ainda há muito Verão pela frente e muita campanha suja para fazer com préstimo impagável das televisões, todas no terreno sedentas de sangue e de miséria alheia.
Por motivos que não cabem aqui neste espaço este último mês passei-o em casa a ver televisão, sobretudo a ver a televisão do militante n.º 1 – a SIC Notícias, principalmente o Opinião Pública, com os convidados do pensamento único dominante com lugar cativo, com as entrevistas e directos de rua, nunca mas nunca a sul do Tejo e com raríssimas excepções a partir do litoral urbano, com as entrevistas e directos dos/ nos institutos superiores de educação, politécnicos e universidades para dar uma caução de credibilidade erudita, como refere o leitor na caixa de comentários:
«A este propósito, é de referir as entrevistas de rua que se vão fazendo sobre a política nacional. Nomeadamente a estudantes do ensino superior de áreas diversas.
E aqui o que custa é ouvi-los falar de "tradição" em vez de constituição, de governos ilegítimos (este do PS) e do governo escolhido pela maioria do povo – o da PaF.
Dói ouvir estas opiniões de estudantes universitários. Mas dói mesmo.
Que professores têm? O que lhes foi ensinado? Onde está a curiosidade e o contraditório próprio destas idades?
São tão velhos e doentiamente mais conservadores do que os pais.
O que fizeram ao ensino universitário? E aos ciclos anteriores?
A formatação deu resultados. Os exames também. A ênfase nas disciplinas estruturantes deu nisto. Os resultados quantitativos são o fim de tudo. O pensar não conta. Conta o empinanço e a sebenta.»
A direita a subir, a esquerda a subir e os inquiridos a dizerem "que Costa devia ter negociado à direita". A União Nacional 41 anos depois. Pedagogia precisa-se. E de noções básicas de democracia também. Educação.
Se, e segundo a agit-prop do Governo, Portugal é o país da União Europeia que mais cresce, se há mais empresas a abrir do que a fechar, o que não quer necessariamente dizer, e recorrendo a uma expressão cara a este Governo, empresas "a bombar", já que não nos é dito por quanto tempo é que as empresas abrem antes de tornarem a fechar e, como as empresas não podem falir ad eternum, tem de haver um ponto em que as empresas deixam de falir por já não haver mais "em stock" e portanto, a partir daqui, o saldo entre o deve e o haver só pode ser positivo, como e porque é que nos anseios do pagode para a nova legislatura surge, à cabeça, a criação de emprego pelo próximo executivo? Ou são pobres e mal agradecidos ou querem todos ter dois empregos para se empanturrarem em dinheiro, é o que é e só por si choca com a teoria vigente dos malandros do sul que não querem trabalhar.
E a clarividência política do Comité Central da Brigada Brejnev de Jerónimo de Sousa.
Mesmo que a sondagem não inclua o "fenómeno" Marinho e Pinto e o novo Livre de Rui Tavares, o Bloco-Lázaro-Central ressuscitado pelas mãos de Cavaco Silva, recuperado do abaixo de zero para onde os cidadãos o remeteram:
A menos que o princípio orientador na Soeiro Pereira Gomes seja o "quanto pior [para o povo e para o país] melhor", na caminhada do PCP para ser Governo, quando os portugueses assim o entenderem, Jerónimo dixit. A menos?
As respostas a esta nova praga de sondagens sobre o melhor e do pior primeiro-ministro de sempre, o político que mais representa o 25 de Abril e a liberdade, foram dadas por aqueles que elegeram Salazar como o "Grande Português", que apontam Salgueiro Maia como o português no lugar não-sei-quantos do ATP World Tour e Marcelo Caetano como um capitão de Abril, certo?