"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando o pico da Covid-19 era liderado pela região norte com os gráficos todos a fazerem tilt lá em cima: é o povo que trabalha, o povo que mantém a economia e o país a funcionar enquanto Lisboa recolheu ao aconchego do lar em teletrabalho.
O pico passa para Lisboa e Vale do Tejo, pelos miseráveis do salário mínimo e horário máximo por conta dos grandes grupos económicos, da região norte, ou escravos do contrato apalavrado com empreiteiros, ausência de horário de trabalho, férias, segurança social, sem direitos nem garantias: é a miséria das câmaras comunistas.
Nunca acabem nem deixem de ser como são que o povo agradece.
Morreu o homem que advogava a mão-de-obra barata como forma de criar emprego, e que filosofava só ser possível pagar salários alemães em Portugal quando os portugueses fizessem três ou quatro vezes mais por hora, como fazem os trabalhadores alemães na Alemanha, para onde emigram os portugueses que recusam o modelo de baixos salários e precariedade por ele defendido, para ganharem três ou quatro vezes mais por hora, pagos por empregadores alemães que os preferem como os melhores trabalhadores do mundo e com isto demonstrando por A + B que o problema é a classe patronal portuguesa e não os índices de produtividade de quem empregam. Viveu e morreu com isto.
O que o "camarada" Belmiro não explicou foi porque é que os trabalhadores portugueses, os melhores do mundo, segundo os empresários e patrões bifes e boches, e segundo também o Governo, quando quer puxar dos galões para se armar ao pingarelho, os mesmos que prestam pouco, ou mesmo para nada, cá, produzem lá, na Alemanha e na Inglaterra, "de facto", "uma coisa igual, parecida", ou até melhor, que "um trabalhador alemão ou inglês, seja o que for", a trabalhar menos horas por dia, com mais dias de férias, com mais regalias, dadas pelas empresas, com apoios e protecção social, para os próprios e para as famílias, da parte do Estado, e com um salário incomparavelmente mais elevado.
Tem razão o "camarada" Belmiro, é "através da educação das pessoas", e, em Manuel Machadês, "um vintém é vintém e um cretino é um cretino":
A mesma maçã riscadinha de Palmela que o banco do Estado, pejado de administradores nomeados pela maioria PSD/ CDS-PP, decidiu "condenar", enquanto salvava da condenação o projecto falido, de uma imobiliária falida, para o entregar de mão beijada ao "camarada" Belmiro de Azevedo, como aqui se dá conta.
É o mui famoso "regresso à terra" e investimento na agricultura que este Governo, com especial ênfase para os ministros do CDS, Paulo Portas, Assunção Cristas, Pires de Lima, não se cansam nunca de papaguear.
Lembram-se do liberal Pedro Passos Coelho que, antes de ser primeiro-ministro, queria privatizar a Caixa Geral de Depósitos para retirar o "peso do Estado" da economia e que, depois de chegado ao Governo, exige que a mesma Caixa Geral de Depósitos financie mais a economia ou "vamos de ter mudar a administração" [ler "substituir os boys nomeados"], lembram-se?
Do que ninguém se lembra é de ter ouvido Pedro Passos Coelho falar sobre que tipo de financiamento à economia exige, a que género de economia é que se refere, coisa desnecessária para os boys nomeados que perceberam bem a irritação do chefe, o "posto de trabalho" em risco, e conhecem como ninguém as prioridades económicas do Governo das marcas e das grandes empresas. A ministra Cristas, do partido da lavoura, essa continua calada. Ou a rezar para que pare de chover que já estamos quase em Junho.
E já antes tínhamos tido administradores da Sonae a fazer o pino e o flic flac em programas de opinião nas televisões.
Os que lá estiveram querem esquecer, os novos não querem saber – nem sequer se preocupam em, e os que se preocupam olham como quem olha para um passado distante de um país distante, que não é o seu, com um povo distante vítima de uma ditadura fascista e potência colonial. Tão ou mais vitima como os povos distantes dos colonizados países distantes. A nossa assumpção da culpa funciona em moldes completamente diferentes da assumpção da culpa pela Alemanha em relação ao Reich. Não adianta vir mexer na merda com uns pauzinhos 50 anos depois que não cola, o resultado é igual a zero.
Não sei quais são os critérios que levam a que determinada notícia seja manchete de primeira página. Não sei mas posso por enquanto especular desconfiar.
Num mundo perfeito, ambas as margens do Sado seriam um enorme resort administrado por um engenheiro e o seu clã, livre de desdentados, e habitado por “gente bonita” wearing Gant & Lacoste by day, e Hermés & Saint Laurent by night, servidos por figuras pálidas e andrógenas pagas a recibos verdes.
(Na imagem do fotógrafo setubalense Américo Ribeiro, “Tendas feitas com velas de bateiras, remos e varas na Caldeira de Tróia, década de 1950”, no local onde o senhor engenheiro planeia construir mais um condomínio privado e por onde passam os catamarãs e ferries que não fazem mal nenhum aos roazes corvineiros)
Grândola terra da fraternidade, 36 anos depois do 25 de Abril faz sentido. Património natural e ambiental comum a todos a saque, via projectos PIN, para benefício de meia dúzia. Fraternidade para os grupos Sonae e BES. Para a coisa se compor só falta o Recreativo Grandolense começar a galgar divisões de futebol por aí acima.