"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Poderia, em liberdade, começar uma limpeza no grupo e expulsar estes criminosos travestidos de nacionalistas", porque há uma diferença entre espancar um emigrante na rua, até o deixar em estado de coma, vai lá para a tua terra; graffitar ou vandalizar uma mesquita, porque o Deus deles não é o mesmo Deus de Abraão; ou até matar um preto ou um cigano, porque um é mais escuro, o outro mais encardido e porque sim e o "tráfico de droga, roubo e extorsão", isso não que são atentados graves à propriedade privada, à integridade da pessoa humana e à estrutura da família.
A direita neoliberal e crente no Deus mercado maquilha os seus pit bulls de caniches, sempre ali à mão para o trabalho sujo nas ruas e pela calada da noite. É assim desde 1921, com a direita do Partido Popular Nacional Alemão a fechar os olhos ao terror das SA nas ruas de Munique. Depois tratamos deles, diziam. Problemático e criminoso para a direita neoliberal são os anarkas-okupas e anti-globalização que não respeitam hierarquias e se recusam obedecer à autoridade do poder político capturado pelo poder económico, crime lesa-mercados, logo lesa-Deus e, ainda por cima não casam, nem sequer pelo registo e dormem homens com homens, mulheres com mulheres, pretos com brancas e brancos com pretas, uma promiscuidade. O amor é uma coisa linda, pelo menos desde Eva e Adolfo.
(Imagem roubada num dos raros blogues dedicado exclusivamente ao fenómeno graffiti)
Leio que foi assinado um protocolo entre a Câmara de Lisboa e diversas entidades, entre as quais a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa e o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, que visa aplicar a sanção da «proibição de frequentar o Bairro Alto durante dois anos» a quem for detido em flagrante delito a fazer graffiti no bairro.
Em 1995 Alcindo Monteiro é assassinado no Bairro Alto pelos capangas de Mário Machado, a tropa de choque de Pinto Coelho, aquele senhor que não gosta de imigrantes. Já antes de 1995 se entretinham aos fins-de-semana no Bairro Alto a distribuir cacetada por todos aqueles que tinham uma tez de pele mais escura. (Curioso como nunca tenham olhado com olhos de ver para o líder Mário Monteiro. Se o fulano não é marroquino, eu vou ali e já venho. Adiante). Assim como a distribuição da cacetada continuou alegremente, se bem com menor intensidade, depois do assassinato de 1995.
Nunca passou pela cabeça de ninguém proibir os skinheads de frequentar o bairro.
Uma parede cagada, perdão, a propriedade privada, na balança municipal, tem mais peso que a integridade física e psicológica dos munícipes. São preocupações legítimas de quem tem tanto “património disponível” para gerir.
Além do mais quem é que manda aos pretos ir passear para o Bairro Alto nas noites de fim-de-semana? Não lhes chega Chelas?