"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Isto foi dito por um magistrado do Ministério Público, um sindicalista presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, na Europa das liberdades e garantias, na Europa dos Direitos Humanos, em Portugal, no século XXI, no Portugal que fez a transição da ditadura para a democracia com a migração dos juízes do Tribunal Plenário para o tribunal do Estado de Direito democrático. 41 anos depois igual a 41 anos antes. Já houve julgamento e condenação e nós nem demos por nada. Ou demos, em directo, todos os dias nas manchetes dos jornais e nas aberturas dos telejornais.
«Em declarações à Lusa, António Ventinhas salientou a necessidade de os portugueses decidirem se querem "perseguir políticos corruptos, se querem acreditar nos polícias ou nos ladrões, ou em quem investiga ou nos corruptos"
Um Governo em uníssono e todos os ministros a solo podem criticar as decisões do Tribunal Constitucional que é a democracia e a liberdade de expressão e o coise.
Os deputados da maioria que enfeita o Governo na Assembleia da República podem questionar a competência dos juízes do Tribunal Constitucional e até deixar cair aqui e ali que não foi para isto que foram nomeados pelos partidos da maioria que enfeita o Governo na Assembleia da República que é a democracia e a liberdade de expressão e o coise e o coise e tal.
O bochechas, revoltado e com pouca paciência, não pode dizer o que lhe vai na alma nem apontar o dedo ao conluio entre a Justiça, das fugas de informação cirurgicas, e a imprensa, na figura de um jornal e de uma televisão, que são declarações "indignas de um [antigo] Presidente", de uma República presidida por um Presidente que maquina, em conjunto com a imprensa, na figura de um jornal, uma inventona de escutas aos seu gabinete de Presidente que suporta um primeiro-ministro que suporta uma ministra da Justiça que não tem pudor em atirar lama e denegrir o bom nome de dois funcionários da Polícia Judiciária para sacudir a água do seu pacote de incompetência profissional e política.
A turba reage por impulso e tem memória curta e eles valem-se disso.
É não perceber que para “denegrir” e “deteriorar a imagem dos magistrados perante a população” o Governo não precisa de fazer absolutamente nada. Basta-lhe ficar quieto e mudo e esperar que senhores juízes e os senhores juízes-sindicalistas, na vertigem mediática, venham para os jornais e para as televisões com as habituais declarações e reivindicações.
Fosse um sindicato da CGTP, um sindicato fato-macaco, e há já muito que o “problema” estava assinalado nos media através duma orquestrada campanha massiva de descredibilização, independentemente da(s) razão(ões) que lhe pudessem assistir. O “problema” (se assim lhe podemos chamar), é ser um sindicato fato e gravata, do “arco do poder”, com muuuuuito “sentido de Estado” e sem agenda escondida. Vamos lá chamar os boys pelos nomes.
António Cluny, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público.
Por que cargas de água, numa democracia representativa, um Governo, eleito em eleições livres e justas, tem de explicar a um dirigente sindical os critérios usados numa nomeação assente numa base legal?