"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Se fosse hoje, esta foto tirada por Paul Fusco e Thomas Koeniges, ao serviço da Look Magazine, durante o cortejo fúnebre do senador Robert F. Kennedy, from New York to Washington a 8 de Junho de 1968, seria possível ver, no lugar dos gelados, as mãos ocupadas com ai fones, ai pades, e androides…
Foi preciso esperar 56 anos [a contar da data do início das emissões regulares da RTP - 7 de Março de 1957] para que em Portugal, a primeira e a última potência colonial, o país que "inventou" o mulato, que deu novos mundos ao mundo e essas coisas todas que são bonitas dizer, fosse possível ver na televisão publicidade, dirigida à classe média, com casais multirraciais. Vão ser precisos outros 57 anos para ver publicidade com casais do mesmo sexo?
Nos idos do "sindicatos paralelos, sindicatos amarelos" palavra de ordem, por [muito] menos se enchiam ruas num clamor de protesto, manifs cercavam prédios, se convocavam conferências de imprensa com discursos inflamados.
Não vejo como um insulto, não vejo como sinal de amorfismo dos alegadamente insultados. Normalização da vida democrática. O povo que aprendeu o discurso político-sindical é o mesmo povo que aprendeu a linguagem publicitária. E sabe distinguir um do outro. Só isso.