"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Assim mesmo, como se usava, antes de ter perdido o "que tem o" para "do". É o spot promocional que a televisão pública passa em tudo o que é intervalo e separador para depois remeter para o site "A história da extrema-esquerda em Portugal". PCP igual a "extrema-esquerda" no canal público de televisão, repetindo a lengalenga que o pensamento único dominante repete a todas as horas, em todos os espaços de comentário político, em todas as televisões e escamoteando o papel que os comunistas portugueses tiveram na estabilização e consolidação do sistema político, até mesmo como força de contenção à dita extrema-esquerda. E quando a RTP resolver fazer a história da extrema-direita em Portugal abre o spot promocional com imagens do famoso cerco ao congresso do CDS no Porto?
Uma administração naïf que não percebe que a RTP não é para ser rentável nem viável nem para concorrer em pé de igualdade com as televisões privadas;
Uma administração naïf que não percebe que a RTP não é para promover nem para prestigiar, antes pelo contrário, é para descredibilizar ao olhos das audiências até ao ponto em que a opinião pública seja maioritariamente a favor da privatização que há-de ser pelo preço da uva mijona que os “investidores” a mais não estão dispostos por uma empresa que vale zero;
Uma administração naïf que nem sequer soube ver que foi nomeada e empossada por um Governo público ao serviço dos interesses privados:
«De acordo com um estudo de viabilidade pedido pela estação pública, o retorno ascende a 5,8 milhões de euros por ano, 2,8 de publicidade e 3,3 milhões de custos de oportunidade.
E se dúvidas ainda houvesse, a RTP não é para ser financeiramente equilibrada e sustentável, o serviço público de televisão nunca foi uma variável da equação, a RTP é para desmantelar e destruir, sair da frente e não atrapalhar [por concorrer em pé de igualdade com] as televisões privadas. A verdadeira face do Governo da direita, eleito em eleições livres e democráticas: ao serviço dos interesses privados em prejuízo do interesse público.
Cento e um – 101 – cento e um anos de República e laicidade: a RTP 1 abre o telejornal da hora do almoço com um directo do santuário de Fátima. Serviço Público.
Mais de um milhão de pessoas nas ruas do Cairo e a RTP começa o telejornal com 47 portugueses que passaram a noite ao relento no aeroporto do Cairo à espera de repatriamento. O costume. Um furacão arrasa o México e a televisão pública começa o telejornal com 30 portugueses que ficaram com as férias estragadas. Coitadinhos.
Podia cair o Governo que a RTP começava o telejornal com uma reportagem sobre os buracos no pavimento em frente ao Parlamento e que a Câmara de Lisboa nunca mais manda calcetar.
Foi a reportagem no telejornal da RTP1 sobre os confrontos na Voz do Operário.
“(…) foi dentro do edifício que aconteceu (sic) a maior parte dos conflitos” e continua em voz off com a imagem fixa num portão onde é possível ver um cartaz a apelar à greve geral do próximo dia 24 de Novembro. Serviço público é relacionar os confrontos entre uma centena de energúmenos arruaceiros e uma greve que, quer se concorde ou não com os princípios e objectivos, foi legitimamente convocada pelos sindicatos ao abrigo do direito à manifestação?
É reles. O inenarrável Ângelo Correia ministro da Administração Interna na primeira greve geral pós-25 de Abril não teria feito melhor.
A RTP envia uma equipa à serra para fazer uma reportagem sobre “O Frio” perante a indiferença, e o “mata-bicho” na taberna, de populações que já por ali vivem, pelo menos, desde os tempos de D. Afonso Henriques.
A seguir deve ir a caminho uma fornada de psicólogos, formados e acabadinhos de sair do ISPA, para prestar apoio psicológico às populações martirizadas e traumatizadas por tamanha frente fria.
«O Mais Gasolina é um directório interactivo de postos de abastecimento de Portugal, com a localização de vários postos, o preço actualizado dos combustíveis e outras informações úteis aos automobilistas.»