"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No tempo do PS, e não foi há tanto tempo quanto isso, era "o caos nos hospitais", "a destruição do Serviço Nacional de Saúde", pior que o Deus me livre, agora, na normalidade adquirida e na tranquilidade nas televisões, a responsabilidade de tudo o que era pelouro do Governo passou a ser responsabilidade dos administradores hospitalares. Os agora "inimigos do povo" continuam a representar o papel de idiotas úteis que lhes foi atribuído. Pobres criaturas.
Há cerca de 745 mil funcionários públicos em Portugal. Na visão da IL, quantos deveria haver?
Nos últimos anos foram admitidos cerca de 90 mil funcionários, nos governos de António Costa - 90 mil funcionários a mais do que havia quando iniciou funções. Para uma legislatura, aquilo que estamos a dizer, se com esta média de saída de 20 mil funcionários, 15 mil por ano, estaríamos a dizer que reduziríamos cerca de 40 mil funcionários públicos até ao fim da legislatura. Sempre com este mecanismo de reforma, não estando aqui em causa nenhum tipo de negociações antecipadas e outras questões.
Pessoa que aguardava há 10 horas na urgência para ser atendida dava entrevistas para as televisões na porta do hospital para a abertura dos telejornais. Os telejornais, que voltaram às urgências cheias depois de se terem fartado de estar nos centros de saúde, cheios de pessoas que não foram urgências porque para tal não se justificava ou por para lá terem sido encaminhadas pelo Saúde 24. As urgências estavam cheias porque coise e logo os centos de saúde porque coise estavam cheios. Um processo histérico-induzido para atrair papalvos na luta pelas audiências. Ao volante de uma ambulância na porta do hospital um cidadão com sotaque brasileiro deixava "os caras estão fazendo tudo direito lá dentro, o caso é que há gente a mais". 15 minutos de fama, imbecilidade jornalística, e não nos fodam, com efe grande.
O doutor António diz que não houve tratamento de privilégio nas duas vezes em que recebeu o doutor Nuno no seu gabinete enquanto secretário de Estado, e com isto ficou exposta a sua total falta de noção porque o tratamento de privilégio começa exactamente no momento em que o doutor Lacerda Sales aceita receber, não uma, o que já seria grave, mas duas vezes, o doutor Rebelo de Sousa "para a presentar cumprimentos, dado que não o conhecia", como se um secretário de Estado do Governo da República recebesse no seu gabinete os anónimos e sem nome de família Antónios desta vida que não conhece, não fazia mais nada, nesta República dos portugueses de primeira, de segunda e de terceira, e dos portugueses que crescem ao lado uns dos outros, andam nas mesmas escolas, vivem nos mesmos círculos, e se dão uns com os outros desde o tempo dos bisavós, seja ele qual for o regime e a opção política. Esta gente goza com a gente?
O Serviço Nacional de Saúde, que "é de má qualidade", que "presta um mau serviço às populações", que "é um sorvedouro de dinheiros públicos", para já não falar nas constantes greves e paralisações, e que por isso é para privatizar ou para transformar numa imeeeeensa ADSE, afinal é o preferido pelos portugueses que vivem e trabalham em países alegadamente muito mais desenvolvidos, onde a saúde é um negócio a cargo dos seguros ou do cheque-saúde, as propostas apresentadas pela direita, os exemplos que vai buscar como solução para os males do SNS.
As propostas da direita para a saúde e para o SNS desmontadas por quem menos se esperava e que fez oportunisticamente saltar dos buracos "em sua defesa" aqueles que querem acabar com ele tal e qual o conhecemos, dos sem problemas em assumirem ao que vêm aos que camuflaram o programa depois de publicamente desmontado.
É justo, correcto, honesto, alguém que nunca descontou para a Segurança Social poder por via da obtenção de nacionalidade usufruir do Serviço Nacional de Saúde, benefício extensível aos seus descendentes?
Preencher o espaço [__________] a gosto, e consoante as necessidades do pedinte, TAP, gémeas brasileiras, qualquer área da governação. É a Lambe-cus School of Politics. Resta saber quando e onde este princípio imperou, e não só com este Governo.
Décadas de desinvestimento, sub orçamentação, retirada de competências ao Serviço Nacional de Saúde em prol do negócio privado da saúde para agora o programa eleitoral resumido consistir em acabar com o preconceito ideológico e contratualizar com o sector privado, o sector social, as IPSS, as Misericórdias e o mais que seja, como forma de colmatar as falhas do Serviço Nacional de Saúde. Embarcar neste parlapié manhoso no dia do voto só pode ser como na canção do Robert Palmer, "doctor, doctor, gimme the news I got a bad case of lovin' you" que é como quem diz quanto mais me lixam mais eu gosto deles.
Um e-mail do "doutor Nuno", a forma patética como Marcelo refere o filho para passar ao pagode a ideia de um distanciamento que não existe, levou o Presidente a reencaminhar o dito para a Casa Civil, que por sua vez o reencaminhou para alguém, que o reencaminhou para outrem, ao fim e ao cabo um e-mail do "maior aliado político" do Governo. E agora que agora ninguém sabe quem foi quem e onde pára a correspondência e respectivos dossiers, na falta de haver uma agência de viagens com o dom da adivinhação, levou Marcelo a convocar os jornalistas no dia a seguir a uma rábula de Ricardo Araújo Pereira na televisão com um Pai Natal que diz "oh-oh-oh" e outro que diz "bo-bo-bo", alegadamente.
Obviamente Marcelo não tem nada a ver com tudo isto de que se vai lembrando aos poucos e poucos. Are you talking to me?
É "A vitória eleitoral de Wilders explicada aos pequeninos" por José Rentes de Carvalho no seu blogue Tempo Contado. Se agarrarmos em duas gémeas brasileiras, naturalizadas portuguesas em tempo recorde, a receberem tratamento milionário no Serviço Nacional de Saúde com um medicamento de eficácia duvidosa, segundo os especialistas, sem um número de segurança social atribuído, e com cadeiras de rodas eléctricas atribuídas a custarem o que muitas famílias não auferem em salário num ano, temos um dos ingredientes do caldo para a explicação das sondagens que dão a subida vertiginosa do Chega.
De valor era marcar um dia e uma hora com toda a gente na janela a aplaudir o alegado ministro da Saúde pelo excelente desempenho do SNS, hospitais e centros de saúde.
[Imagem de autor desconhecido]
Adenda: o Governo dos prémios de consolação, Medina nas Finanças por ter perdido a câmara do Porto, Pizarro na Saúde por os eleitores não confiarem nele para o Porto.
Portanto, alguém levar um ordenado decente para casa no final do mês obriga estar 14 horas à disposição da entidade empregadora, pública ou privada. Das 6 às 20 horas, sendo que para entrar às seis tem de se levantar da cama pelo menos uma hora antes para se preparar, higiene pessoal, vestir, etc, e ainda mais algum tempo para quem trabalha longe de casa. E depois sair às oito da noite, pelo menos mais uma hora para entrar na porta da rua às 21 horas, até já acabou o telejornal. E depois faz o quê? Janta e vai para a cama porque está todo partido e no dia seguinte tem de repetir a rotina. Nem televisão, nem saída à noite com a mulher ou os amigos, nem ida ao teatro, ao cinema, a um concerto, e se tiver filhos o crescimento e a educação passam-lhe completamente ao lado.