"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
É para levar a sério um manifesto/ convocatória pela dignidade, contra a precariedade, que sublinha a expulsão dos jovens das cidades, a crise da habitação, a degradação dos serviços públicos, e que tem como como 5.ª assinatura alguém que ganha a vidinha a dar a cara pela Uber Eats?
Está bem que o ramo de carreira é "o entretenimento informativo" mas para "que se lixe o circo" se calhar não era má ideia tratar com seriedade as coisas sérias para se ser levado a sério.
Para dar voz ao país que não se contenta com o entretenimento informativo, no próximo sábado, dia 3, exigimos que a salvação do SNS se transforme numa verdadeira emergência nacional. Que se lixe o circo
Como é que o Partido Socialista vai ficar para a história, como o partido do "pai" do Serviço Nacional de Saúde ou como o partido que destruiu e enterrou o Serviço Nacional de Saúde?
O chamado "argumento do caralho", em português corrente, na base do qual nenhum governo governava em lado nenhum do planeta, à excepção das democracias chinesa, norte-coreana, ou bielorussa, claro.
O programa do presidente da câmara para o ambiente [por exemplo] não foi aprovado pela maioria dos municipes, mas apenas pela maioria dos que votaram. O programa do Presidente da República não foi aprovado pela maioria dos portugueses, mas apenas pelos que votaram. O programa do bastonário da Ordem dos Médicos não foi aprovado pela maioria dos médicos, mas apenas pelos que votaram. O comissário político do PSD na Ordem dos Médicos tirou o mandato para gozar com os portugueses.
Luís Montenegro, no congresso do PSD, a lamentar o desinvestimento socialista na saúde e escola pública e a criticar o estado lastimoso em que o PS meteu o Serviço Nacional de Saúde e a educação, enquanto por dentro rejubila com o meio caminho andado para a privatização do que resta caso chegue um dia a primeiro-ministro, implícito no discurso do Estado que atrapalha a iniciativa privada e no "preconceito ideológico".
André Ventura com a mesma lengalenga do pai da criança, Passos Coelho nos idos do Governo da troika com Vítor Gaspar sentado à direita, do valor miserável do subsídio de desemprego e RSI que era urgente reduzir, no montante a pagar e na duração temporal, para obrigar os calaceiros e manhosos, que involuntariamente se viram na situação de desempregados, a procurarem os empregos que não havia por causa das milhares de falências de empresas e negócios no ajustamento de "ir além da troika", e a aceitarem por qualquer preço o que lhes aparecia pela frente. Ou na redução da indemnização a pagar pelos patrões, ainda assim não surgisse uma vaga de novos milionários à sombra da bananeira. Um diz que o passado se chama Passos, outro o que diz remete para Passos.
Mas quem será? mas quem será? mas quem será? O pai da criança, eu sei lá, sei lá, eu sei lá, sei lá
[Link na imagem print screen da conta Twitter do Ventas do Chaga]
Como correram bem para o Estado, e com grande proveito para o erário público, o bolso do contribuinte, a qualidade dos serviços prestados - não obrigatoriamente por esta ordem, as privatizações das telecomunicações, dos CTT, da GALP, das barragens, da rede eléctrica, da EDP, das celuloses e cimenteiras, começa agora uma "vaga de fundo" para a privatização da saúde, quer seja pela retirada de competências ao Serviço Nacional de Saúde, quer pela entrega de hospitais públicos a grupos privados de saúde. Até quando as pessoas vão engolir que o privado - particular, que é condicionado ou reservado, é melhor que o público - para o uso de todos, relativo ou pertencente ao povo, à população?
"blah blah blah... aaa... blah blah blah... aaa... blah blah blah... aaa...", nunca tínhamos visto a dona Marta Temido tão temida e enrolada no próprio discurso. António Costa, chegado há bocado de Neptuno, e que não é primeiro-ministro há quase cinco anos nem pouco mais ao menos, reconheceu que "há um problema no Serviço Nacional de Saúde". É um bom começo de conserva, perdão, conversa, conserva, or ever, para a "comissão de acompanhamento" que o Governo vai nomear, e que, na velhilíngua, significa que o Governo se está a borrifar para o assunto e vai deixar empastelar a coisa durante uns meses, até o pico das festas com feriados e as férias de verão passarem. Na melhor das hipóteses uns anos até se voltar a falar nisto outra vez. A dona Marta Temido diz que o Governo, que não abre a mão do dinheiro dos contribuintes para pagar decentemente aos profissionais de saúde, está disponível para estudar acordos com privados. Foi você que pediu uma maioria absoluta e um Orçamento de Estado mais à esquerda desde que existe Orçamento de Estado e esquerda?
De certeza há uma boa razão, ou várias, para os profissionais de saúde contratados para suprir faltas no Serviço Nacional de Saúde ganharem três vezes mais que profissionais da mesma área/ especialidade com vínculo ao Estado.
De certeza há uma boa razão, ou várias, para as empresas de trabalho temporário intermediárias na colocação de profissionais de saúde no Serviço Nacional de Saúde ganharem três vezes mais que os contratados que fornecem.
Se o Partido Socialista fosse um partido liberal diria "é o mercado a funcionar" assim diz o quê?
Rui Pedro da Silva Afonso, cabeça de lista do Chega pelo círculo eleitoral do Porto, e com sérias possibilidades de ser eleito deputado da Nação, classifica o orçamento do Serviço Nacional de Saúde como "rede de interesses do PS". Isto, mais que ignorância, é o triunfo da imbecilidade.
A direita, que desde o início da pandemia clama que o Serviço Nacional de Saúde e a escola pública estão em falência por falta de médicos, enfermeiros, professores, auxiliares, et cætera, profissionais dispensados, ou não contratados para colmatar faltas e falhas nos serviços, com o argumento do "emagrecimento do Estado" quando a direita foi poder, é a direita que agora protesta contra o maior aumento de funcionários públicos nos últimos nove anos, por via do "despesismo socialista" que não olha ao dinheiro do contribuinte. Confusos? Nope, a ideia é desmantelar o Estado social e meter o contribuinte a pagar o lucro do negócio da saúde e do ensino privado. Pelo caminho diz que a esquerda é contra o lucro.
Deu de novo à costa a fazer o que o definiu e caracterizou enquanto político, exímio na arte de apontar aos outros os defeitos de que padece e o radicalismo de que padece. O maior cego ideológico da história da democracia portuguesa. O tempo volta para trás?
Quando as pessoas perceberem que os médicos alemães destacados para reforçar o Serviço Nacional de Saúde no combate à Covid ficam instalados num hospital privado porque a esmagadora maioria dos médicos e enfermeiros portugueses que aí prestam serviço fazem-no como segundo emprego, por ausência de exclusividade no SNS, e que afinal a desaproveitada "capacidade instalada" no privado se resume a tecto, cama e ferramentas de trabalho e não por "cegueira ideológica" do Governo, como invoca a direita da saúde negócio.