Inferno
[Link na imagem]
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
[Link na imagem]
Vamos brincar à coesão territorial e recriar um tempo em que o país todo trabalhava para e em função de Lisboa. O contribuinte paga, está calor e as bebidas são frescas. "De luxo, ao alcance de poucos".
[Link na imagem]

Fazer a árvore genealógica da família não é o mesmo que limpar o rabo a meninos. Nem pouco mais ou menos. Guerras e pilhagens, roubos, incêndios, terramotos e outras calamidades que levaram ao desaparecimento e/ou à destruição dos documentos, no tempo em que o Registo Civil era o padre que o fazia “lá” na igreja, tornam a tarefa quase, e na maioria dos casos, impossível de concretizar.
Vamos andando às arrecuas, todos lampeiros, e a páginas tantas a coisa desagua, ou num beco sem saída ou em ramificações várias. Quando é beco sem saída temos pena, arrumamos a mochila e damos por concluída a tarefa; quando a hipótese é escolher “ao calhas” uma das várias ramificações ali à disposição, a graaaaande maioria opta pelo antepassado Marquês ou Conde ou com um brasão cheio de armas e leões e, inevitável e invariavelmente, quase todos os portugueses são netos de D. Afonso Henriques mesmo que o nome seja Pires ou Pereira ou Silva.
Nós por cá, com várias gerações de nativos setubalenses da parte a mãe, mas com costela alentejana da parte do pai, metemos mãos à obra pela parte mais difícil: o pai, e (guess?) não chegámos ao Alentejo e já vamos na Serra de Estrela.
Corria o ano de 1860 quando o barbudo e com cara de poucos amigos na foto que ilustra esta posta, e que fazia anualmente a transumância, desde Manteigas na Serra de Estrela até ao Alentejo, resolveu assentar ferro no local da Boa Fé, distrito de Évora, mesmo ao pé de Santiago do Escoural, o tal, o das grutas. Casou com Prisca Maria, tornou-se lavrador e proprietário e deixou descendência de cinco rapazes e uma rapariga. E nunca mais voltou à Serra. E na Serra nunca mais dele souberam. Morreu pelo caminho, foi assaltado, assassinado por causa do gado; pensaram. E pensaram mal até um dia lhes aparecer a bater à porta um tal de José Simões Prisca que dizia ser o filho mais novo do desaparecido pastor da transumância. (Mais um bico-de-obra na árvore genealógica: o Simão passa a Simões e o nome de família é o da mãe).
O elo ficou restabelecido, mas sempre foi muito ténue e espaçado. Este fim-de-semana vamos lá. Um montão de gente, de Setúbal, Alentejo, Algarve, eu sei lá, mais de 200 contando com os que lá estão, que isto a fazer filhos é pior que os coelhos. A ver vamos se conseguimos recuar mais no tempo.
Ah, e o barbudo da foto é o meu octavô, e parte desta história vem contada no Notícias de Manteigas de Maio de 2007.
(Post em piloto automático, uma das boas funções do SAPO)
Será mesmo necessário, assim que cai o primeiro nevão do ano na Serra de Estrela, que as televisões se mudem para lá de armas e bagagens, e é entrevistar as famílias-turistas, as famílias-autóctones, os comerciantes, os donos dos hotéis e restaurantes, os GNR’s de serviço, o empregado do limpa neves, o presidente da Região de Turismo, o pastor, o presidente da Câmara da Covilhã, o criador de cães e o mais que venha pelo caminho. Com abordagens da treta a receberem de volta respostas da treta, cheias de lugares-comuns, iguaizinhas às dos anos anteriores?
Todos os anos, desde que me lembro. Só que agora é vezes 6 – quatro canais generalistas, mais a SIC N e a RTP N.
Já que pelos vistos tem de ser, e como diz o povo “o que tem de ser tem muita força”, não era mais fácil – e mais barato – ir buscar umas imagens ao arquivo?
(Imagem roubada ao Scott Polar Research Institute)