"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O estado da Nação: um Presidente da República que aparece na zona das entrevistas rápidas, reservada a jogadores e treinadores, para comentar um jogo da selecção; um bando de parolos eleitos, constituído grupo parlamentar, que posa para a foto devidamente fardados.
A gente vê na televisão o presidente dos Estados Unidos da América, seja ele qual for, seja ele de que partido seja, entrar numa sala e toda a gente largar o que está a fazer e levantar-se da cadeira em sinal de respeito. A gente vê o Presidente da República Portuguesa, seja ele qual for, entrar na assembleia de voto no dia das eleições e ninguém, nem sequer o presidente da mesa, levanta o rabinho da cadeira. Vá lá um aperto de mão, que o bacalhau está caro. A gente vê o Cristiano Rónáldo [com dois acentos como na televisão] oferecer uma camisola da selecção ao Presidente Cavaco Silva e dizer “esperamos que você”.
By the way, as tropas partem, com a bandeira nacional cosida no ombro do camuflado, numa missão de paz da ONU e têm o ministro da Defesa no aeroporto, o futebol vai em tournée para a Polónia e é recebido pelo Presidente no Palácio de Belém. Que parolice.
Pelo menos temos uma selecção que joga um futebol à imagem do discurso do seu seleccionador: aos soluços, com muitos "aaa…" em cada frase, e a repetir a última palavra para tomar balanço para a segunda. Quando acaba já ninguém se lembra como é que começou. Falta um dente na cremalheira que pensa [o jogo].
No rescaldo do Portugal:2 - Polónia: 2, ouvi Nuno Gomes na zona de entrevistas rápidas dizer: "O futebol é mesmo assim... e o jogo termina quando o árbrito apita."