"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Um mundo à parte, este onde os cidadãos se revoltam contra as seguradoras, por patifarias diversas nos contratos e nas letras miudinhas, ao invés de se revoltarem contra um Estado que se demite de proteger o cidadão em benefício do negócio da saúde.
[A imagem da prisão de Luigi Mangione dá uma boa capa de um disco de hip hop, rap metal ou hardcore punk]
Que é o que consta nos programas, que ninguém lê, do Chaga e do Iniciativa Liberal, privatizar a saúde e a educação, liberdade de escolha, bla bla bla, a excelência do privado, bla bla bla.
"Apesar de 60% da população estar isenta de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS), são as classes média, média baixa e baixa que mais contratam seguros, ou seja, a motivação não se prende com a poupança". E é a mesma classe média baixa e baixa que toma o pequeno almoço fora de casa, que compra bilhete a bordo nos transportes públicos ao invés do passe mensal, que faz refeições habituais nas cadeias de fast food, que só veste roupa de marca e com a marca bem visível, e por aí. Portanto há aqui um padrão e tem a ver com educação, organização, economia e gestão do orçamento familiar, não ter nada a ver com a denominada "falência do Estado" e a "degradação do Serviço Nacional de Saúde", argumentos usados pela direita para cavalgar a notícia, na esperança de que ninguém se lembre das décadas de políticas de desmantelamento do Estado social em prol de interesses privados, nos seguros de saúde, na saúde negócio a cargo de privados, nos planos privados de reforma, de que ninguém se lembre que a falência do Estado e a degradação do SNS têm pai e mãe, não nasceram de geração espontânea.