"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
De certeza há muito boas razões para andarmos há duas semanas a falar de segurança e da falta dela e para os telejornais abrirem com longos directos e entrevistas de rua a propósito de uma rixa que não há muito tempo era motivo de rodapé na televisão da especialidade, a do Correio da Manha, sem til.
"[...] criticou a imagem de que o país está numa situação “sem rei e sem roque” no que à segurança diz respeito. [...] Estamos a assistir a um momento de desinformação, ‘fake news’ e ameaças híbridas e é isso tudo que leva a fundamentar a perceção de insegurança [...]"
Luís Montenegro na hora do jantar, ladeado por duas nulidades políticas - as ministras da Justiça e da Administração Interna, vem chatear os poucos que não estão com o Benfica na Champions para bolsar meia dúzia de vacuidades e lugares comuns, enquanto usa as polícias para mais uma manobra reles de propaganda. O Governo de Marcelo em todo o seu esplendor, parlapié: muito; propaganda: mais que muita; trabalho feito: zero; calimerismo: top.
"Segundo o Índice Global de Paz, Portugal é o terceiro país mais seguro do mundo. Subiu uma posição em comparação com o ano anterior. Em 2013, Portugal ocupava o 18º lugar."
"A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, visitou este sábado a esquadra da PSP na Amadora, Lisboa, para sublinhar o compromisso de apoio do partido às polícias e alertou para "um sentimento de insegurança" dos cidadãos."
Diz que 38 participações de violência em discoteca depois o Estado e o Estado de direito falharam numa das funções básicas, a segurança do cidadão. O Estado e o Estado de direito não falharam coisíssima nenhuma, o Estado e o Estado de direito só falharam até àquele ponto em que era de todo impossível o Estado e o Estado de direito continuarem a falhar, e que é uma conquista recente das sociedades liberais democráticas e fruto do capitalismo reprodutivo: a imagem, o direito à imagem e a massificação/ democratização das ferramentas que permitem captar imagem, por via da mais riqueza disponível no bolso das pessoas e que lhes proporciona também o acesso ao lazer e diversão, mesmo em locais sistematicamente reportados como violentos, porque não leva porrada quem quer, leva porrada quem pode, no microcosmo das tribos urbanas, das zonas delimitadas e nas hierarquias a ocupar.
"Por questões de segurança" relacionadas com condenações saídas do martelinho de partir tenazes de sapateira, vulgo “malhete”, do meritíssimo juiz, não são de certeza.
"Por questões de segurança" relacionadas por mandar Ricardo Salgado tratar da vidinha a troco de uma caução paga com dinheiro que se calhar está a fazer falta noutro lado, nomeadamente no banco que já foi BES, também não deve ser. Nem o senhor doutor banqueiro é o Salvatore Riina no que à violência diz respeito.
"Por questões de segurança" relacionadas com a investigação ao caso submarinos também é de excluir porque isso são águas passadas.
"Por questões de segurança" relacionadas com o processo José Sócrates não são de certeza, nem o ex-primeiro-ministro é Mario Moretti ou Andreas Baader, nem o PS é a Fracção do Exército Vermelho ou as Brigadas Vermelhas.
Resta a hipótese das "questões de segurança" que pressionem o meritíssimo juiz a não fazer o seu trabalho como nos “bonecos", venda nos olhos, balança numa mão e espada na outra, ou "questões de segurança"-questões de segurança, daquelas comuns a todos os mortais, tipo cair o tecto ou abrir-se o chão debaixo dos pés, ou ainda "questões de segurança" relacionadas com o recato e a privacidade e não com o segredo de justiça, cirúrgico e a conta-gotas, na primeira página do Correio da Manha e do Sol.
O que me encaganita é a coincidência do alarde das "questões de segurança" no alarmismo da praça pública, agora, neste preciso momento e com este preciso juiz. Sublinho coincidência que não quero cá confusões, por questões de segurança.
E vai deixar de andar de Correio da Manha [sem til] debaixo do braço e de fazer visitas à baixa de Setúbal a propósito de problemas no Bairro da Bela Vista na alta. Um valentão.
Assim como a seguir à revolução de Abril de 74 proliferavam os partidos com "m-l" e "r" [de Reconstruído] em letras miudinhas a seguir à sigla, temos agora o CDS-PP [ex]. De "já foi", não de abreviatura de exemplo.
“Esqueceram-se” que nos idos do PREC havia uma míriade de grupelhos marxistas-leninistas-maoistas, com as efígies individualmente ou conjugadas na bandeira [por acaso de onde saíram a grande maioria dos paineleiros do comentário telivisivo, deputados, ministros dos Governos da “normalização”, e até um Presidente da República], com expressão residual nas urnas e impotentes na rua, muito, mas mesmo muito, pelo travão imposto pelo PCP e pela CGTP.
Aconselha-se que comecem a acompanhar os bifes com cogumelos de lata. É mais seguro.
Invocar as vésperas da Cimeira da NATO não é exagerar demasiado a real importância do senhor e dos servicinhos por si chefiados, quer para a segurança da Cimeira quer para a segurança nacional? Alguém no seu perfeito juízo acredita que a segurança da Cimeira esteve/ está a cargo do SIED? Dito de outra maneira, os americanos deixam a segurança do Presidente estas coisas ao Deus-dará em mãos alheias?
O exemplo acabado do fait-divers para consumo interno e para alimentar redacções de jornais e aberturas de telejornais.
By the way, podem colocar à frente dos serviços um daqueles PIDES a quem Cavaco Silva primeiro-ministro concedeu uma pensão vitalícia. Ao menos sempre justificava o dinheiro que ganha.
Uma notícia que só é notícia porque, em Portugal, a memória da PIDE da Legião e da restante bufaria ainda está fresca, e porque em Portugal há – confusão é curto –, uma promiscuidade deliberada entre partido do Governo (qualquer que ele seja), Governo e Estado, e ainda porque não existe um sistema, eficiente e isento, de contrapesos entre os diversos poderes.
Aqui chegados importa pensar por que razão(ões) uma banalidade que é norma em todas as democracias ocidentais faz primeiras páginas de jornais, cá.
Os putos iam de excursão de Finalistas. Ser Finalista é ter entre 17 e 19 anos, não mais. Levavam uns charros para fumar na viagem e nos 10 dias de soltura dos pais. Leva charros para fumar na excursão de Finalistas quem fuma charros, seja ou não finalista, vá ou não de excursão. E os charros são vendidos dentro da escola ou à porta da escola. Depois das viaturas policiais “Escola Segura” terem ido embora. O que acontece sempre logo depois dos pais terem deixado os filhos na escola. Estão lá nas horas de entrada e nas horas de saída para cumprir a sua função: serem vistos pelos pais.
Ficamos todos muito mais descansados. Há menos bêbados na estrada e menos duas pistolas no distrito de Setúbal. Os nossos filhos foram sem droga para Lloret de Mar.
E quando lá chegarem vão andar por portas e travessas para a comprar. A quem não conhecem. Sujeitando-se a sei lá o quê e relacionando-se sei lá com quem. Mas isso já é problema da Guardia Civil. E vai sair no relatório espanhol do ano de 2009.
António Costa, “n.º 2” do PS, ex-ministro da Administração Interna do Governo PS, reúne com a Governadora Civil de Lisboa, nomeada pelo Governo PS ao qual António Costa pertenceu antes de ser candidato pelo PS à presidência da Câmara de Lisboa, para reclamar e protestar contra o encerramento de esquadras policiais na capital e, pelo caminho, largas umas alfinetadas ao Governo PS ao qual pertenceu, e ao ministro nomeado seu sucessor, pelo secretário-geral do PS.
Se as eleições não estivessem à porta, eu até era levado a acreditar que as políticas do Governo e as estratégias de governação, não passavam pelo PS, pelo secretário-geral do PS, e pelo “n.º 2” do PS.