"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Ainda para mais quando não é de saque ao Estado que se trata, via privatizações, schnell, schnell. É de contestação social, greves, barulho nas ruas, qual é a pressa? Pode esperar. E pode cair no colo do próximo. Que se lixem as eleições.
Nada de mais, deve ser o famoso "we' ve got to get in to get out" que o Peter Gabriel cantava nos idos dos Genesis. E nada de mais também não fora as reposições serem atiradas [acredite quem quiser], para o próximo executivo, seja ele qual for, por parte de quem está sempre com a boca cheia do "a herança que deixamos às gerações futuras".
O que aqui não está bem não é o facto de dizerem uma coisa hoje e fazerem precisamente o seu contrário, logo no dia seguinte e sem sequer um intervalinho para assentar a poeira do esquecimento, porque isso não é defeito é feitio, é a natureza deles. O que não está aqui bem é, depois de tudo isto, e isto é só mais uma para a colecção, continuar a haver quem se disponha no dia das eleições a fazer a cruzinha no boletim de voto nos quadrados ao lado dos símbolos do PSD e do CDS. Isto é um case study.
Roma Locuta, Causa Finita Est, pelo "membro alinhado" e depois do "soldado disciplinado". Panem et circenses. Sobra o circo, falta o pão e ainda há Spartacus. Cada vez mais.
Adenda: a frase é em latim mas não é "dos romanos", é de Santo Agostinho. Começa a faltar-me a paciência para a fauna que pensa que a História começou com A Riqueza das Nações do senhor Smith.
E também disse outras coisas bonitas de se dizer e de se ouvir como "muitos dos nossos agentes políticos não conhecem o país real, só conhecem um país virtual e mediático" e que "precisamos de uma política humana, orientada para as pessoas concretas, para famílias inteiras que enfrentam privações absolutamente inadmissíveis num país europeu do século XXI. Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza que corroem a nossa unidade como povo" e reforçou "a pessoa humana tem de estar no centro da acção política. Os Portugueses não são uma estatística abstracta. Os Portugueses são pessoas que querem trabalhar, que aspiram a uma vida melhor para si e para os seus filhos. Numa República social e inclusiva, há que dar voz aos que não têm voz".
Mas isto foi em Março de 2011, com outro Governo, de outro partido, com outro primeiro-ministro, que urgia abater rapidamente e queimar na praça pública, nem que para isso se inventasse uma conspiração de escutas ao Palácio de Belém ou que em plena campanha eleitoral se atiçassem os colégios privados a sair para a rua em protesto, "um sinal de vitalidade da nossa sociedade civil", de forma a antecipar eleições e entregar o poder "a quem de direito", depois do eleitorado devidamente doutrinado por doses maciças de propaganda.
Depois disso foi o que se viu e o que se vê, e o que não se vê mas que se desconfia, quando as trapalhadas do Governo de iniciativa presidencial caem na praça pública pela boca dos ministros e secretários de Estado.
A seguir o excelentíssimo secretário de Estado da Administração Pública vem dizer que um escalão único de IRS é mais justo porque toda a gente desconta o mesmo. Vale uma aposta?
E com muito sofrimento, como oportunamente a mãe e Ângelo Correia e Santana Lopes e ainda mais algum reforço de última hora, hão-de explicar, em não menos oportunas entrevistas, que o homem por detrás dos botões de punho, de valor acima do valor mínimo para a tesourada na pensão de sobrevivência [mas ele trabalhou para isso, merece], se cala perante a "TSU dos pensionista"” e investe no aceita o "cisma grisalho".
A fronteira que Paulo Portas não pode deixar passar é assim a modos como as fronteiras dos embriões dos futuros Estados europeus na Idade Média, um dia encolhiam perante a investida do inimigo, noutro dia alargavam com o contra-ataque. No meio andavam as populações sobreviventes ao sabor dos caprichos.
«o Governo "está a preparar um roubo às pensões dos funcionários públicos e está aberta a porta para que esse roubo seja extensível ao privado"»
E o sofrimento da mãe, pelo sofrimento do filho, since Setembro de 2012, e uma ida a Fátima dependente da rotura eminente, constantemente revogada, e revogável, pelo espírito de sacrifício na luta pela independência do "protectorado".
Diz o povo que os cães têm medo mas não têm vergonha porque voltam sempre ao “local do crime”. Estes, vá-se lá saber porquê, têm vergonha mas não têm medo.
Adoptam-se políticas que destroem a economia e as empresas, provocam a recessão e o desemprego [já são 952 200 oficiais e estão para chegar mais 30 000 provenientes da Função Pública, não contando com um êxodo bíblico para a emigração como não havia desde os idos do velho de Santa Comba], reduzem-se e eliminam-se as prestações e apoios sociais e, não contentes com isso, atacam as pensões e as reformas de quem, depois de velho e de uma vida inteira de trabalho e privações, vê de volta a casa os filhos e os netos, vitimas do desemprego, do subsidio de desemprego que acabou, da renda da casa que não se consegue pagar. Esta gente não presta.
Com o pior Governo da curta história da Democracia portuguesa preso pelos fios do pior Presidente da República da curta história da Democracia portuguesa; com o país prestes a entrar na pior crise social e económica de que há memória, a melhor maneira de dividir os trabalhadores e de os colocar uns contra os outros passa por expor à opinião pública, sem qualquer tipo de comentário ou observação, só as coisas como elas são, a "equidade" entre o sector privado e o sector público. É triste mas é verdade.
Enquanto o esbulho dos salários e dos subsídios foi direccionado para os mais de 500 mil de uma estigmatizada Função Pública, em grande parte por culpa dessa mesma Função Pública, diga-se em abono da verdade, a coisa foi indo, com mais ou menos contestação, mais nas televisões do que nas ruas, e Portugal foi passando a imagem da carneirada obediente a Deus e aos Mercados, de pin de bandeira meide in Xaina na lapela do casaco. Como a coisa não resultou, não podia resultar, foram avisados e fizeram orelhas moucas, querem estender o saque aos 9 milhões e meio que sobram. E vai piar mais fino. É o princípio do fim deste [des]Governo. E para isso, apesar de não adiantar grande coisa, também estão avisados.
Os gestores são pagos para gerir, os administradores são pagos para administrar, os dirigentes são pagos para dirigir.
O Estado em tempo de vacas magras comporta-se como uma empresa privada em tempo de vacas gordas. Como prémio, já devia ser considerada a sua nomeação política para cargos que, na maior parte das vezes, não têm a menor qualificação profissional para desempenhar, com o respectivo reflexo na produtividade e na qualidade do serviço prestado.
(Imagem A theater poster,1898, for The Air Ship - A Musical Farce Comedy by J.M. Gaites, The Fly Cop)
Sabem muito estes UGT’s. O próximo coelho a sair da cartola é: seja um não sindicalizado paga a quota e não bufa, e viva a Liberdade e a Democracia e o direito à diferença e mais a opção da livre escolha.
A UGT – e de caminho, se bem que por diferentes razões, a CGTP – deviam parar para pensar porque é que há tantos trabalhadores não sindicalizados, apesar da opção de escolha entre duas centrais sindicais de ideologias diametralmente opostas. Essa é que é essa.
(Na imagem graffiti encontrado por aí numa parede)