"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
As prestações televisivas do Sebastião Maria são todas excelentes quando não geniais, as de Catarina Martins e Cotrim de Figueiredo são por causa da sua [deles] experiência política. Comentariado mais ideologicamente comprometido não deve haver em televisões nenhumas por essa Europa fora. Puta que pariu.
No dia 23 de Maio, ontem, o Público entrevistou Sebastião Maria. E fez disso primeira página dando-lhe o quadrado merecido. No dia 24 de Maio, hoje, o Público entrevistou Taylor Swift. Não. O Público entrevistou Marta Temido. As mesmíssimas páginas dadas a Sebastião Maria, a 10 e a 11, mas o quadrado na primeira página... É assim que se fazem as coisas. Aprendam com quem tem estudos.
Assim como temos a certeza que o sol nasce todos os dias também temos a certeza que Sebastião Maria vai ganhar os debates, mesmo antes deles acontecerem, nas pontuações distribuídas pelos paineleiros de serviço em todos os canais. Todos. É obra. Sebastião Maria ganha mesmo os debates em que não participa. Além de que a Sebastião Maria é dada a prerrogativa de interromper, perguntar, comentar, baralhar, dirigir o debate. Quando um burro fala o outro baixa as orelhas e o outro é o alegado moderador, que cada um é para o que nasce. Sebastião come tudo, tudo, tudo. Sebastião come tudo sem colher. Sebastião fica muito barrigudo. O resto vocês sabem.
Disse João Cotrim de Figueiredo, em entrevista no telejornal que era do Mário Crespo na televisão do militante.º 1, que se avalia melhor que os comentadores que nos pós debate gastam meia hora para avaliar o que ele disse em 10 minutos. Ele e a generalidade dos espectadores que vêm o debate pelo debate e não como uma luta de galos onde ganha quem interromper mais, quem fizer mais barulho, quem usar a linguagem corporal para invadir o espaço do oponente, veja-se Sebastião Bugalho, a abrir os braços sem cerimónias, quase a tocar fisicamente Francisco Paupério, candidato pelo Livre, sem respeito por ninguém naquela mesa. Só que uma vitória atribuída a Cotrim de Figueiredo num painel enviesado, e escolhido a dedo para ser enviesado, era uma impossibilidade já antes de haver debate, e era mais que uma derrota de Sebastião Bugalho, era a derrota da coligação PSD-CDS, o pavor da direita velha, o desmontar da mediocridade Bugalho e da mediocridade que o promove.
Insuspeito eu de ser ilusionista liberal ou votar sequer no senhor João.
Marcelo encontrou-se por acaso com Teresa Leal Coelho num semáforo de Lisboa; Marcelo encontrou-se por acaso com Carlos Moedas na Feira do Livro ao Parque Eduardo VII; Marcelo encontrou-se por acaso com Sebastião Bugalho na Ovibeja; Marcelo só não se encontrou por acaso com Luís Montenegro na FIL ao Parque das Nações porque por acaso um climático despejou uma lata de tinta. Somos uma cambada de cornos, é a conclusão óbvia a retirar.
Num feliz resumo do curriculum vitae, o comissário marcelista para o Dia da Raça em Portalegre, "rapidamente construiu uma rede de contactos e de amizades", e uma nulidade política sem substância foi insuflada, insuflada, insuflada, até encher um ecrã de televisão. Agora é fé que a forma produza resultados contados em votos. O grau zero da política.
A gente liga a televisão e dá com painéis plurais de aventesmas, todos os dias do ano, a todas as horas do dia, em todas as televisões, com raciocínios dignos do cérebro de uma ervilha, se as ervilhas tivessem cérebro, com um "vamos à análise com o/ a", e a análise é a esquerda ser pior que o "Deus me livre", que os males de que padece este país se devem aos quase 50 anos de socialismo, que a solução está à direita do Parlamento, que a direita é que são uns senhores que sim senhor, incluindo o Chaga que é um partido do "quadro democrático", um upgrade do "sentido de Estado" que se aplicava ao CDS, uns rapazitos que sim senhor, e que entretanto foi morto e enterrado por Rui Rio e agora ressuscitado por Luís Montenegro, e a gente fica a pensar "como é que a direita não ganha sempre as eleições, não tem sempre maiorias parlamentares, como é que a direita não governa ininterruptamente desde que Mário Soares meteu o Freitas do Amaral a ministro, depois deste empenho todo analista-comentadeiro pago a peso de ouro?" ou, como se excreve nas redes, WTF?!
O Sebastião Bugalho acha que Rui Rio ganhou a António Costa. Depois de Rui Rio ter ganho a Catarina Martins. Depois de Rui Rio ter ganho a Rui Tavares. Depois do Chicão ter ganho a toda a gente. Depois do Ventura ter ganho a toda a gente, menos ao Chicão.
Um puto palerma levado ao colo para a mesa dos adultos, vá-se lá saber por quem e porquê.