"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Da primeira vez era só ignorância e desconhecimento do funcionamento dos Parlamentos nas democracias parlamentares constitucionais, daí a confusão naquelas cabecinhas quando o primeiro dos últimos, o Partido Socialista, o partido que ficou em segundo lugar nas eleições, ter formado uma 'geringonça' e constituído Governo.
Da segunda vez, aprendida a lição dada pela esquerda sobre o funcionamento das democracias parlamentares constitucionais, e uma vez que não são burros, nem pouco mais ou menos, é só má-fé e desonestidade. Chamar "coligação negativa" a partidos com assento parlamentar que se limitam a cumprir o que consta no programa com que se apresentaram a votos. Eles, useiros e vezeiros que são em prometer uma coisa em campanha eleitoral e fazer exactamente o seu contrário uma vez alçados ao poder, Deve ser complicado encaixar.
50 anos do 25 de Abril e continuam as interpretações sui generis da direita sobre o funcionamento da casa da democracia.
Onde é que fica o princípio do utilizador-pagador se aqueles que moram lá, e que são quem mais utiliza, estão isentos de pagar? Interessante é ver neste caso, o Governo, sem coragem, escudar-se na lei comunitária e não recorrer à cantilena da "imagem que lá fora têm de nós", sem a vergonha nem os pruridos que mostra noutras intervenções sobra a intervenção estrangeira e a perda da soberania, por ser alguém vindo do exterior a chamar à atenção para o óbvio e a pôr ordem na casa.
Já que falamos em justiça e em "auto-estrada da justiça", o eixo Évora-Beja (Vila Verde de Ficalho)-Faro continua, não esquecido mas ignorado, talvez porque pela densidade populacional dá poucos votos (isto sou eu a especular). E Beja que vai ter aeroporto, além de não ter auto-estrada a ligar a Lisboa e a Espanha (Sevilha é mesmo "ali ao lado") não tem comboio, pelo menos um comboio pelos padrões europeus dos finais do séc. XX. Visão estratégica.
Meia dúzia de maduros (não é preciso mais) sai nas respectivas viaturas para a auto-estrada, em marcha lenta - de preferência nas entradas/ saídas dos grandes centros urbanos - e com a mão em cima do cláxon. Os outros, os milhares que anseiam por chegar a casa, ao trabalho, buscar os filhos à escola, or ever, desesperados com a lentidão do trânsito e a ver a vidinha a andar para trás, começam a stressar e desatam a buzinar como forma de escape. Está feito o maior buzinão da história, em protesto contra a introdução de portagens nas SCUT. Mais fácil que limpar o rabo a meninos.
Adenda: os jornais, isentos e descomprometidos destas coisas do regionalismo-futeboleiro, informam as horas e os locais das concentrações. È aproveitar a info e não passar por lá.
Em parceria com os idiotas úteis do lado de cá da fronteira, empresários da região com as portagens mais caras de toda a Espanha protestam contra a introdução de portagens nas Scut.
A região com as portagens mais caras de toda a Espanha e onde nalguns casos, como entre Tuy e Santiago de Compostela, se chega a pagar 3 – três – 3 vezes portagem sem sair da mesma auto-estrada, é contra a introdução de portagens nas SCUT.
Abel Caballero, presidente do Eixo Atlântico, em declarações à Antena 1 (a partir do minuto 01:01)
Uma coisa é o big brother, travestido de chip portageiro, na matrícula da viatura. Ninguém, e muito menos o Estado, tem alguma coisa que saber por onde andam os deixam de andar os cidadãos. Outra coisa é o princípio do utilizador-pagador. Justo. As “barraquinhas” para o pagamento da portagem à entrada e à saída das auto-estradas.
Com o apoio da nobreza e com a bênção do clero, está prestes a rebentar uma espécie de guerra da Jugoslávia nessa espécie de “país”, esse (E)estado de excepção permanente, da justiça às leis do trabalho e com passagem pelo futebol e às vezes tudo misturado, que dá pelo nome de “Norte”.
E de repente, como que por artes mágicas e pela boca dos mesmos, passámos do imperativo de justiça e do princípio do utilizador-pagador para a discriminação negativa da região, desigualdade de tratamento e indicadores socio-económicos.
(Imagem October 2, 1923. Danish athletes at the Pension Building in Washington, D.C. National Photo Company Collection)