"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Onde é que fica o princípio do utilizador-pagador se aqueles que moram lá, e que são quem mais utiliza, estão isentos de pagar? Interessante é ver neste caso, o Governo, sem coragem, escudar-se na lei comunitária e não recorrer à cantilena da "imagem que lá fora têm de nós", sem a vergonha nem os pruridos que mostra noutras intervenções sobra a intervenção estrangeira e a perda da soberania, por ser alguém vindo do exterior a chamar à atenção para o óbvio e a pôr ordem na casa.
Já que falamos em justiça e em "auto-estrada da justiça", o eixo Évora-Beja (Vila Verde de Ficalho)-Faro continua, não esquecido mas ignorado, talvez porque pela densidade populacional dá poucos votos (isto sou eu a especular). E Beja que vai ter aeroporto, além de não ter auto-estrada a ligar a Lisboa e a Espanha (Sevilha é mesmo "ali ao lado") não tem comboio, pelo menos um comboio pelos padrões europeus dos finais do séc. XX. Visão estratégica.
Meia dúzia de maduros (não é preciso mais) sai nas respectivas viaturas para a auto-estrada, em marcha lenta - de preferência nas entradas/ saídas dos grandes centros urbanos - e com a mão em cima do cláxon. Os outros, os milhares que anseiam por chegar a casa, ao trabalho, buscar os filhos à escola, or ever, desesperados com a lentidão do trânsito e a ver a vidinha a andar para trás, começam a stressar e desatam a buzinar como forma de escape. Está feito o maior buzinão da história, em protesto contra a introdução de portagens nas SCUT. Mais fácil que limpar o rabo a meninos.
Adenda: os jornais, isentos e descomprometidos destas coisas do regionalismo-futeboleiro, informam as horas e os locais das concentrações. È aproveitar a info e não passar por lá.
Em parceria com os idiotas úteis do lado de cá da fronteira, empresários da região com as portagens mais caras de toda a Espanha protestam contra a introdução de portagens nas Scut.
A região com as portagens mais caras de toda a Espanha e onde nalguns casos, como entre Tuy e Santiago de Compostela, se chega a pagar 3 – três – 3 vezes portagem sem sair da mesma auto-estrada, é contra a introdução de portagens nas SCUT.
Abel Caballero, presidente do Eixo Atlântico, em declarações à Antena 1 (a partir do minuto 01:01)
Uma coisa é o big brother, travestido de chip portageiro, na matrícula da viatura. Ninguém, e muito menos o Estado, tem alguma coisa que saber por onde andam os deixam de andar os cidadãos. Outra coisa é o princípio do utilizador-pagador. Justo. As “barraquinhas” para o pagamento da portagem à entrada e à saída das auto-estradas.
Com o apoio da nobreza e com a bênção do clero, está prestes a rebentar uma espécie de guerra da Jugoslávia nessa espécie de “país”, esse (E)estado de excepção permanente, da justiça às leis do trabalho e com passagem pelo futebol e às vezes tudo misturado, que dá pelo nome de “Norte”.
E de repente, como que por artes mágicas e pela boca dos mesmos, passámos do imperativo de justiça e do princípio do utilizador-pagador para a discriminação negativa da região, desigualdade de tratamento e indicadores socio-económicos.
(Imagem October 2, 1923. Danish athletes at the Pension Building in Washington, D.C. National Photo Company Collection)
Do ponto de vista de utente também seria levado a concordar que o Governo se está precipitar. Questões técnicas à parte, do ponto de vista de contribuinte e utilizador esporádico – nalgumas nem nunca sequer passei –, penso que já ontem era tarde.
Até eu, que de liberal só ao nível de costumes, nada ou quase nada na economia, sou um defensor do princípio do utilizador-pagador, por uma questão de justiça social; nomeadamente nas Scut.
Mas há liberais, com “éle” grande, daqueles mesmo, mas mesmo liberais, que arrumam o liberalismo na gaveta em favor do cumprimento de promessas por parte do Governo. Mesmo que essas promessas impliquem um custo de cerca de 300 milhões de euros ao erário público.
É o liberalismo em versão regionalista, onde são permitidas excepções: para o futebol; para as SCUT. Até ver, que a procissão ainda vai no adro.
Recorrendo a um termo ultimamente muito em voga: liberais de meia-tigela.