"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O líder da revolução socialista bolivariana para o século XXI tem os seus bens no Império do Mal a salvo dos desvarios revolucionários do louco que governa a Venezuela com uma inflação estimada de 2000% e o povo em horas de espera na fila para um pão com senhas de racionamento. Quinta-feira o Avante! explica.
Carlos Moedas, herói nacional, de parabéns pelo árduo trabalho na Comissão Europeia em defesa do seu legado de quatro anos como "grilo falante" da troika. A medalhar por Marcelo Rebelo de Sousa. Como diz o outro, "há muita fraca memória na política e nos políticos...".
Uma vez que andou a rezar a Jesus Cristo, a Nossa Senhora, a todos os santinhos, e ao duende da poncha, para que as sanções caíssem em cima de Portugal com toda a força da ira divina;
uma vez que a sua sobrevivência política depende da desgraça de Portugal e dos portugueses e que, entre a desgraça do país, a miséria dos seus concidadãos e a sua sobrevivência não hesita na escolha, como não hesitou em 2011 ao empurrar Portugal para os braços da troika para se alçar ao poder e se lambuzar no "pote";
uma vez que o traste, pela ausência de coluna vertebral, não se demite, nem sequer faz acto de contrição, há ainda algum vertebrado no partido que outrora se reclamou da social-democracia e que, com responsabilidade e movido pelo sentido de Estado, o empurre de vez borda fora?
Quando na Alemanha abordamos as políticas de combate à chamada crise europeia falamos sempre da história de sucesso de Portugal. Estamos muito confiantes e não há nenhum problema.
Portanto tem razão Maria Luís Albuquerque quando, sentada ao lado de Wolfgang Schauble para grego ver, diz que fosse ela ministra das Finanças e nada disto acontecia, com as metas sempre ajustadas de modo a que a realidade encaixasse na teoria. Na realidade são bombardeamentos preventivos, com o alvo aferido para não sair do caminho definido pelos representantes das Goldman Sachs na União Europeia, não com tanta intensidade como na Grécia porque, afinal de contas, o Partido Socialista é o campeão da Europa e da integração europeia e não uns syrizos-trotskistas quaisquer, ainda que os trotskistas estejam hoje exactamente no mesmo sítio onde estavam os partidos ditos do socialismo democrático na Europa dos anos 50/ 60 do século XX, tal foi a viragem à direita e a perda de identidade.
Um dos princípios do Estado de direito democrático é do da irretroactividade das leis, já o da punição preventiva, e por antecipação ao que o futuro nos reserva, parece ficar ao critério de quem lhe apetecer e ao sabor das circunstâncias, que até podem riscar, de uma assentada, a máxima da direita radical-liberal que é o aumento dos impostos sobre as empresas ser inimigo da captação de investimento, contrário ao desenvolvimento económico e à criação de riqueza [não interessa para o bolso de quem].
Se isto faz algum sentido, se não andam todos à nora...
Bruxelas quer aplicar sanções a Portugal em 2016 por Governo ter aplicado a política de Bruxelas em 2015 e para prevenir que os objectivos que Bruxelas exige cumpridos por Portugal em 2016 sejam atingidos pela implementação de políticas contrárias ao cânone seguido por Bruxelas.
Por uma vez miss Swaps fala verdade quando diz "se eu fosse ministra as sanções não se colocavam" porque Maria Luís no ministério das Finanças servia para sentar ao lado de Wolfgang Schäuble nas reuniões do Eurogrupo como exemplo do bom aluno e do virtuosismo da austeridade expansionista a atirar à cara da Grécia de Varoufakis, e porque as sanções não são contra o Governo da direita radical PSD/ CDS de que foi ministra das Finanças, nem sequer contra Portugal e contra os portugueses, as sanções são contra um Governo de esquerda, suportado por uma maioria de esquerda no Parlamento, que ousa seguir uma política económica oposta à linha definida pelo Eurogrupo, uma instituição que legalmente não existe dentro da União Europeia, um eufemismo para legitimar o pensamento de Wolfgang Schauble.
E o que tem a dizer Carlos Moedas, comissário europeu na Comissão Europeia que quer aplicar sanções a Portugal, por o Governo de Carlos Moedas, secretário de Estado, ter ultrapassado em uma décima [3, 1%] a meta do défice estabelecida para 2015?
Não digo o patriotismo que podiam interpretar como uma indirecta para a máxima de Samuel Johnson e corria o risco de levar com um processo em cima, mas o sentido de Estado do ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, palpita-me que ainda vamos ficar a saber que também o ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas afinou pelo mesmo diapasão, preocupados com a execução orçamental do Governo 'Geringonço', com os sacrifícios dos portugueses e com a imagem de Portugal nos mercados [a ordem é arbitrária]. "Se descontarmos uma medida que não foi tomada por nós [o Banif] tivemos um défice de 3%". Se descontarmos que 10 dos 12 meses do ano foram da sua [deles] responsabilidade; se descontarmos quem é que escondeu o Banif debaixo do tapete do Banco de Portugal para maquilhar as contas e não estragar a narrativa da saída limpa e do relógio de Aljubarrota em marcha à ré no Largo do Caldas; se descontarmos quem é que depois se escondeu atrás do biombo do Governador do Banco de Portugal, como já se tinha escondido com o BES; se descontarmos isto tudo e ainda se descontarmos a comunicação social câmara de eco que vai repetir, subserviente, a lengalenga ad nauseam; se descontarmos os paineleiros-comentadeiros do pensamento único dominante, nas televisões a tecerem loas e a cantarem hossanas à atitude responsável e desprovida de calculismos eleitorais; se descontarmos até merece um elogio o voluntarismo e uma medalha no 10 de Junho e o nome numa praça ou numa avenida quando a história os julgar.
Interessa é ver a reacção das ruas de Miami e o que vai escrever o editorial do Avante! na próxima quinta-feira, ainda para mais, e vale para os dois lados, com um Papa de permeio. Th-th-th-that's all folks!
No fundo a nova "reforma" da Política Agrícola Comum é mais do mesmo, quando os agricultores portugueses, em particular, e os europeus, em geral, eram pagos para não produzir e para manter a paz social nas auto-estradas e vias de comunicação entre a Espanha, França, Itália e a Alemanha. Agora os contribuintes europeus vão pagar 125 milhões de euros aos agricultores europeus afectados pelo embargo russo ou, como diz a comunicação social, a UE vai dar 125 milhões de euros aos produtores afectados pelo embargo russo. Quando a Argentina e o Brasil começarem a suprir as necessidades russas no campo da pecuária cá estarão os contribuintes europeus, perdão a União Europeia, para manter a paz social e a livre circulação de pessoas e bens nas auto-estradas e vias de comunicação entre o Pays-Bas, a França e a Alemanha.
Preocupamo-nos muuuuuito com a europeização da Ucrânia democracia na Ucrânia e a estalinização de Putin mas fomentamos o caos e a anarquia na Líbia e e no Iraque, negociamos com as cleptocracias africanas e as ditaduras árabes e fechamos os olhos aos atropelos aos direitos humanos na China. Se calhar é porque o dinheiro do contribuinte europeu não chega para tudo.