"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Quando a ANTRAM diz não poder pagar os 1200€ mensais que efectivamente já paga aos motoristas de matérias perigosas o que nos está a dizer é que se o salário base aumentar de 600 e picos para 1200€, como pretende o sindicato, as empresas vão ter de dobrar o número de trabalhadores colaboradores para fazerem o mesmo serviço que é actualmente assegurado na base das horas extra na amplitude máxima permitida por lei com intervalos para primeira e segunda refeição e pausas a cada xis horas de condução [por exemplo início às 05:00 e fim às 17:00 mais duas horas = 19:00, ou 06:00 até às 18:00 + duas horas = 20:00, e assim sucessivamente], com refeições penalizadas, horas a 50 e 75%, extra diurno e extra nocturno, subsídios diversos, tudo a contar para o monte dos tais 1200€. E era muito mais transparente e de bom-tom para todas as partes envolvidas que as coisas fossem colocadas assim, directamente e sem subterfúgios, na opinião pública.
É legal? É. E está consagrado em papel de lei, código do trabalho e contratos colectivos diversos, tudo assinado pelos sindicatos e pelas confederações patronais em sede própria.
É moral e eticamente aceitável? Desde que o homem libertou o polegar que a ética e a moral não têm nada a ver com trabalho nem com pagamentos em troca de prestação de serviços.
E agora como é que vamos lutar contra o capitalismo em França, Alemanha, UK, Luxemburgo, Suíça, etc. , que dá emprego e paga salários justos aos injustiçados do capitalismo em Portugal, sem desestabilizar o sistema económico e social em cada país, já que o argumento terá obrigatoriamente de passar por mais emprego e salários mais justos para os nativos, pressionados pela emigração portuguesa, e com isso criar uma onda xenófoba e racista como reacção?
"E o Sol brilhará para todos nós"? [E a Venezuela aqui tão perto].
Exactamente o mesmo princípio que levou a direita radical no Governo da Troika a cortar o subsídio de desemprego para obrigar os "malandros", os "calaceiros", os "chulos da sociedade" a procurarem o trabalho que não havia nas empresas que todos os dias fechavam as portas.
A gente lê e não acredita na desonestidade intelectual de quem vê desde sempre os portugueses a cruzarem fronteiras em busca de melhores salários no estrangeiro.
«o país está "melhor" por ter "mais gente com emprego, mesmo que possa ser com o salário mínimo nacional", mas recusou a promoção de políticas "que convidem as empresas a contratar pelo mais baixo preço"». Pedro Passos Coelho em 5 de Maio de 2017.
O timing é perfeito para a novilíngua vir com "a fadiga das reformas" que é o eufemismo escolhido para suavizar o enjoo, o desagrado e a revolta que as pessoas começam a mostrar com o esbulho fiscal, o saque à classe média, o "elevador social" a funcionar sempre em sentido descendente com a diminuição de salários e pensões, com a fragilização e a precarização das relações laborais, por via do incentivo à rigidez patronal, em nome dos amanhãs que cantam e na melhoria das condições de vida de 1% da população mundial em offshores.
Não só a estapafúrdia regra dos 3% é cumprida como até fica abaixo da linha de água e o resto é conversa. A conversa dos dois éfe éme is que ciclicamente aparecem para nos atormentar, o éfe éme i bom, com o relatório a apontar o erro de reduzir salários e pensões, o éfe éme mi mau, a avisar que não só é preciso conter salários e pensões como é urgente cortar ainda mais. Siga.
Se em 2013 o horário de trabalho dos trabalhadores do Estado passou de sete para oito horas por dia e de 35 para 40 horas por semana sem que os abrangidos pela medida tivessem visto o seu salário aumentado na respectiva proporção, logo não havendo aumneto da despesa para o Estado, porque é que em 2016 o regresso a sete horas diárias/ 35 semanais vai implicar custos para o erário público?
[Imagem "An English Summers Day Southend on Sea, Essex, Saturday 17 August 1974", Homer Sykes]
Dos 195, a ganhar o salário mínimo nacional, e das suas famílias já ninguém se lembra, o que vende jornal, assanha a inveja e faz Prós e Contras na televisão é o senhor Américo em primeiros no top of the pops dos mais ricos de Portugal.
Quando o que ele quer dizer é que do lado dos patrões "sempre temos defendido que mais vale ter um posto de trabalho mal remunerado do que diminuir a mais-valia ao patrão e/ ou ao accionista.
Como se fossemos todos muito burros e nunca tivessemos assistido pela televisão ao homenzinho responsável João Proença, de gravata e prenhe de sentido de Estado, ao lado do patrão a celebrar mais um acordo para a competitividade e o crescimento da economia e a salvaguarda do emprego.
Pedro Passos Coelho, líder do PSD, o maior partido com assento parlamentar, o maior partido da coligação que suporta o Governo, liderado pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, candidato, em coligação com o CDS-PP, a novo mandato de 4 anos, tem um "problema" com os salários. Sublinhe-se, caso não tenham percebido nestes 4 anos que passaram, os salários dos portugueses são um "problema" para Pedro Passos Coelho. Depois não digam que não foram avisados.