"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que as empresas vão mostrar o seu encargo com a TSU dos trabalhadores porque "temos [têm] de combater a ideia de que se se olhar para a Segurança Social estamos a pôr em causa as pensões" e mais outras coisas muito importantes, em economês tudo resumido: coitadinho do patrão e o Estado ladrão. E depois disto tudo mostrado as empresas vão também mostrar no recibo de vencimento a mais-valia com cada um dos trabalhador... colaboradores. Se calhar é melhor não.
[Imagem "British prime minister Margaret Thatcher covering her face with her hand at the 1985 Conservative Party Conference"]
Das soluções milagrosas escondidas na manga e dos euros prometidos em campanha eleitoral "nem mais um cêntimo". Ponto. Até porque a quebra de receita com a baixa do IRC vai servir para distribuir dividendos pelo patrão e pelo accionista e o dinheiro investido na economia vai ser zero porque o trickle down não funciona e porque o tempo do "capitalismo reprodutivo" já lá vai.
O negócio não encerra definitivamente por falta de empregados, por quebra das receitas, por custos insuportáveis, por isto ou por aquilo. O negócio encerra temporáriamente [com acento e tudo] por falta de funcionários, não que faltem ao trabalho, mas que pura e simplesmente não aceitam trabalhar, vá-se lá saber porquê. Tanta coisa a dizer sobre encerramento...
"Entre salários, prémios, bónus, contribuições para planos de pensões e outras remunerações monetárias, as 15 empresas do PSI pagaram um total de 31,9 milhões de euros aos seus presidentes executivos [atuais e antigos] em 2021, de acordo com os cálculos do ECO com base nos valores recolhidos nos relatórios e contas das empresas do índice português. A soma representa uma forte subida de 89,9% face ao valor de 2020, ano em que os CEO ganharam 16,5 milhões de euros [...]."
O problema eram os salários, ser competitivo pelo ordenado a pagar, "baixar os custos do trabalho blah-blah-blah", andaram anos a servir de câmara de Economia a isto, chegarmos ao nível do farol norte da Europa, o norte da Europa que paga os salários mais altos, tem os custos mais altos para o empregador e a mais alta carga fiscal. E a propaganda a torcer gráficos dura, dura, dura...
As pessoas não querem trabalhar 10, 12, ou mais horas por dia, a horários impróprios com impróprias horas de refeição, com dias de folga que não lembram ao diabo e com férias quando ninguém as quer ter, a aturarem desde a maior besta do mundo ao cavalheiro mais simpático e educado, com contratos de trabalho a termo incerto e na maioria apalavrados, pelo preço de um salário mínimo nacional e gorjetas a dividir por todos. A solução passa por pagar-lhes, no mínimo, salários de hospedeira, já que servem "cafés, laranjadas e chás"? Nope, "a solução para esta falta de mão-de-obra passa por um programa de imigração organizado", Odemiras a perder de vista, se calhar apoiadas pelo Governo e subsidiadas com o dinheiro dos impostos dos que ganham de salário de hospedeira para cima.
O salário nunca ser tido nem achado na equação já não causa surpresa a ninguém. Numa zona do país há décadas sangrada para a emigração a solução passa trazer imigrantes, com a benção da câmara municipal, uma Odemira a norte. Não ouviram o Joe Biden, não sabem falar 'amaricano'.
"Todas as empresas do setor, sem exceção, estão a necessitar de pessoal para satisfazer encomendas, mas não encontram. Está a ser dramático."
"Censos 2021 – Portugal a perder população, pela primeira vez desde a década de 60/70 do século passado. Não é uma grande surpresa. Mas é uma enorme preocupação. Provavelmente o problema mais sério que o país tem pela frente."
Imigrantes qualificados para trabalharem nas estufas de Odemira ou na construção da futura barragem do Pisão. Na homilia semanal, com conversa de Chega, herdada do CDS, muito preocupado com a míngua de pessoas de que padece o território, sem explicar por que cargas de água um país que exporta os mais qualificados da Europa para o mundo precisa de "imigração qualificada", já que o obrigava a chegar aos salários dignos, ao mérito, ao reconhecimento, e a contrariar a narrativa do "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer" que é o ADN do PSD.
Quando a ANTRAM diz não poder pagar os 1200€ mensais que efectivamente já paga aos motoristas de matérias perigosas o que nos está a dizer é que se o salário base aumentar de 600 e picos para 1200€, como pretende o sindicato, as empresas vão ter de dobrar o número de trabalhadores colaboradores para fazerem o mesmo serviço que é actualmente assegurado na base das horas extra na amplitude máxima permitida por lei com intervalos para primeira e segunda refeição e pausas a cada xis horas de condução [por exemplo início às 05:00 e fim às 17:00 mais duas horas = 19:00, ou 06:00 até às 18:00 + duas horas = 20:00, e assim sucessivamente], com refeições penalizadas, horas a 50 e 75%, extra diurno e extra nocturno, subsídios diversos, tudo a contar para o monte dos tais 1200€. E era muito mais transparente e de bom-tom para todas as partes envolvidas que as coisas fossem colocadas assim, directamente e sem subterfúgios, na opinião pública.
É legal? É. E está consagrado em papel de lei, código do trabalho e contratos colectivos diversos, tudo assinado pelos sindicatos e pelas confederações patronais em sede própria.
É moral e eticamente aceitável? Desde que o homem libertou o polegar que a ética e a moral não têm nada a ver com trabalho nem com pagamentos em troca de prestação de serviços.
E agora como é que vamos lutar contra o capitalismo em França, Alemanha, UK, Luxemburgo, Suíça, etc. , que dá emprego e paga salários justos aos injustiçados do capitalismo em Portugal, sem desestabilizar o sistema económico e social em cada país, já que o argumento terá obrigatoriamente de passar por mais emprego e salários mais justos para os nativos, pressionados pela emigração portuguesa, e com isso criar uma onda xenófoba e racista como reacção?
"E o Sol brilhará para todos nós"? [E a Venezuela aqui tão perto].