"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Tal resolução, aplicada indiscriminadamente, obrigará que a mão de obra suba, em alguns casos, cerca de 100%, nossos prejuízos na execução de encomendas destinadas a exportação já em carteira, subida futura nas tabelas que ocasionará perda fatal de tais mercados, e também aumento substancial do preço no mercado nacional, com consequente aumento do custo de vida interno. Pretendemos, portanto, alertar Vossa Ex.cia para este grave problema, solicitando medidas cautelares capazes de impedir a falência deste sector com inevitável desemprego dos seus trabalhadores".
"Em vez de querer grandes aumentos do salário mínimo dever-se-ia instituir um escalão negativo no IRS, em que os menores rendimento recebem um subsídio"
Vamos todos repetir em uníssono com os apóstolos e escudeiros da direita radical de plantão ás redes sociais e com avenças nas televisões do pensamento único dominante que o aumento do Salário Mínimo Nacional é mau para os pobres e as convenções laborais são prejudiciais ás empresas e à economia.
"A redução do peso do salário mínimo no total dos trabalhadores por conta de outrem pode ter várias explicações e uma delas tem a ver com o facto de mais de metade (51%) das convenções colectivas com alteração de tabela salarial publicadas entre o primeiro e o terceiro trimestres de 2018 fixarem salários mínimos superiores a 580 euros."
João César das Neves, autor do livro As Figuras do Presépio e professor na Universidade Católica.
Joseph Stiglitz, ex-presidente do Conselho de Assessores Económicos [Council of Economic Advisers] de Bill Clinton, Vice-Presidente Sénior para Políticas de Desenvolvimento do Banco Mundial, Prémio Nobel da Economia.
A primeira página do dia não é a vichyssoise na primeira página do jornal do militante n.º 1 ["Marcelo enganou quase toda a gente], repetida ad nauseam nas televisões do militante n.º 1 [SIC e SIC Notícias] em todos os noticiários a todas as horas certas, apesar de ser desmentida, nem 48 horas eram passadas, por Marques 'moço de recados' Mendes também na televisão do militante n.º 1 ao afirmar taxativamente que não tinha conhecimento de nenhuma decisão sobre a recondução da Procuradora-Geral da República. Toda a gente ouviu e toda a gente fingiu não ter ouvido, o que interessava era o circo do "debate" sobre o nome excluindo o cargo. Não. A notícia do dia é no Portugal de 2018 haver um professor numa universidade prestigiada a nível mundial que continua a dar aulas com base numa lição de 1938, dos pobres pobrezinhos e honrados.
"Lamentavelmente, desde a altura em que fiz essas declarações até hoje, ao contrário do que seria desejável para o país, e não apenas para nós, as condições têm vindo a degradar-se. A produtividade — um fator determinante para a melhoria da nossa competitividade –, tem vindo a degradar-se já desde o ano passado. De facto, os sinais não são positivos para que possamos alimentar essa esperança"
"A Standard & Poor's constata que os custos laborais em Portugal continuam muito abaixo da média da zona euro [...]. Os aumentos consecutivos do salário mínimo, acompanhados de medidas para compensar em parte os custos dos empregadores, dificilmente enfraqueceram a competitividade dos produtos e serviços portugueses."
Como todos os Governos anteriores a este, António Costa descartou-se e passou o ónus do aumento do Salário Mínimo Nacional para a Concertação Social, uma espécie de "câmara alta" do Parlamento, não eleita, inventada por Mário Soares nos 80's com o intuito de esvaziar o poder negocial aos sindicatos, ler "CGTP", depois de ter inventado a meias com Sá Carneiro um sindicato, a UGT, para assinar de cruz tudo o que convinha aos patrões. Os patrões que fazem o barulho da praxe só para não se dizer que aceitam calados e assinam a contragosto os aumentos do salário mínimo negociados como grandes vitórias da UGT e sempre em troca de uma retirada qualquer de um direito ou de uma garantia, de uma mexida no Código do Trabalho em prol da rigidez patronal, uma facada qualquer na contratação colectiva, em nome dos amanhãs que cantam no crescimento económico e da riqueza nacional. Desde então tem sido sempre a descer para o lado do trabalho na exacta proporção em que a riqueza aumenta para o lado do capital. Agora, de repente e sem que nada o fizesse prever, os patrões vêm de esmola esticada propor para 2019 um aumento do Salário Mínimo Nacional acima do previsto e do proposto pelo Governo, na garantia da manutenção das "alterações que desejamos produzir ao nível da melhoria dos factores de produção", e só estas aspas são todo um programa. E se o PS, como António Costa disse há bem pouco tempo, "está onde sempre esteve", a coisa vai ser decidida em sede de Concertação Social com mais uma grande vitória negocial da UGT e com os resultados na linha do que têm sido desde que Torres Couto apareceu, a preto-e-branco na televisão do Estado, de cálice de vinho do Porto erguido a brindar com Cavaco Silva.
Isto nem de propósito na semana em que Banksi pintou mais um mural em França [na imagem].
Porque, como é por todos sobejamente sabido, quanto mais elevado é o salário mais malandro é o trabalhador colaborador e mais dificuldade têm as empresas e os patrões empresários em contratar.
"Essa foi talvez a única importante reforma que não conseguimos completar [...] durante estes quatro anos. Mas será um objectivo seguramente importante para cumprir nos próximos anos. Nós temos de conseguir ser mais atractivos para o investimento [...] no que respeita ao custo do trabalho para as empresas", Pedro Passos Coelho aos nove dias do mês de Abril do ano de 2015.
Um grande homem que nos governou, dizem eles e ainda não se calaram com isso desde o dia em que se foi embora.
O senhor Saraiva não acredita no capitalismo, o que, vindo do presidente de uma confederação de patrões, industriais, não deixa de ser surpreendente. Ou o senhor Saraiva acredita no capitalismo mas não sabe o que é o capitalismo - a versão bondosa, o que, vindo do presidente de uma confederação de patrões, industriais, não deixa de ser menos surpreendente. O senhor Saraiva e os associados do sindicato a que preside. Caso contrário saberiam que o capitalismo funciona e prospera quando as pessoas têm dinheiro no bolso para gastar, à farta, e não quando chegam ao dia 15 do mês a contar os dias que faltam para o dia 30.
O senhor Saraiva quer fazer depender o aumento do salário mínimo nacional do aumento da produtividade, na mesma linha de pensamento do falecido senhor Azevedo, sem perceber as razões que levam a que os melhores trabalhadores do mundo em França, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Luxemburgo, não sejam lá grande espingarda aqui, em Portugal.
O senhor Saraiva, que veio fazer o elogio fúnebre do senhor Azevedo como o independente que não queria saber do Estado para nada e quase desprezava o poder político, um exemplo a seguir por todos os empresários, passados, presentes e futuros, quer o apoio do Estado para os associados do sindicato a que preside, seja ele pelo corte de feriados, pela diminuição dos dias de férias, pela baixa do preço da hora extra, pelas indemnizações a pagar por despedimento, pela baixa do IRC, pelos estágios pagos, não interessa, o que importa é que o Estado entre, que se dane a independência exemplar do senhor Azevedo.
O senhor Saraiva, que não acredita no capitalismo, ou que se acredita não sabe o que é o capitalismo, nunca foi à América, a pátria do capitalismo, nem sequer alguma vez falou com 'amaricanos' que lhe explicassem a velha máxima capitalista "You pay peanuts you get monkeys".
Quando tocou a eliminar feriados e dias de férias, sem qualquer compensação salarial para os trabalhadores, não veio daí grande mal para as "confederações patronais"; quando tocou em a baixar o preço da hora extra, os dias de férias e as indemnizações por despedimento, em nome da criação de emprego que nunca aconteceu, não veio daí grande mal para as "confederações patronais"; já baixar a mais-valia aos patrões e accionistas é que não pode ser, a menos que se baixem os impostos às "confederações patronais" de modo a pôr os contribuintes, e os trabalhadores que auferem o salário mínimo nacional, a pagar o aumento do salário mínimo nacional que as "confederações patronais não podem aumentar nem pagar.