"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Como correram bem para o Estado, e com grande proveito para o erário público, o bolso do contribuinte, a qualidade dos serviços prestados - não obrigatoriamente por esta ordem, as privatizações das telecomunicações, dos CTT, da GALP, das barragens, da rede eléctrica, da EDP, das celuloses e cimenteiras, começa agora uma "vaga de fundo" para a privatização da saúde, quer seja pela retirada de competências ao Serviço Nacional de Saúde, quer pela entrega de hospitais públicos a grupos privados de saúde. Até quando as pessoas vão engolir que o privado - particular, que é condicionado ou reservado, é melhor que o público - para o uso de todos, relativo ou pertencente ao povo, à população?
"blah blah blah... aaa... blah blah blah... aaa... blah blah blah... aaa...", nunca tínhamos visto a dona Marta Temido tão temida e enrolada no próprio discurso. António Costa, chegado há bocado de Neptuno, e que não é primeiro-ministro há quase cinco anos nem pouco mais ao menos, reconheceu que "há um problema no Serviço Nacional de Saúde". É um bom começo de conserva, perdão, conversa, conserva, or ever, para a "comissão de acompanhamento" que o Governo vai nomear, e que, na velhilíngua, significa que o Governo se está a borrifar para o assunto e vai deixar empastelar a coisa durante uns meses, até o pico das festas com feriados e as férias de verão passarem. Na melhor das hipóteses uns anos até se voltar a falar nisto outra vez. A dona Marta Temido diz que o Governo, que não abre a mão do dinheiro dos contribuintes para pagar decentemente aos profissionais de saúde, está disponível para estudar acordos com privados. Foi você que pediu uma maioria absoluta e um Orçamento de Estado mais à esquerda desde que existe Orçamento de Estado e esquerda?
Requisição civil dos estivadores por uma greve, reivindicativa salarial e contra a precariedade, que bloqueia a economia? Pode.
Requisição civil dos hospitais privados por causa de uma pandemia que mata, entre outros, os estivadores necessários à economia paralisada pela Covid? Não pode.
Que é o que consta nos programas, que ninguém lê, do Chaga e do Iniciativa Liberal, privatizar a saúde e a educação, liberdade de escolha, bla bla bla, a excelência do privado, bla bla bla.
Jorge Roque da Cunha, ex deputado do PSD, presidente no Sindicato dos Médicos, e Ana Rita Cavaco, ex-conselheira nacional de Pedro Passos Coelho, comissária política do PSD na Ordem dos Enfermeiros, nas televisões preocupados com a fuga de profissionais qualificados do Serviço Nacional de Saúde para o estrangeiro, saídos da "zona de conforto", atraídos pelos altos salários que não há no país onde "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer". Não ter a puta da vergonha na cara é isto.
"Ontem foi dada a garantia ao CDS, por parte do senhor Presidente da República, de que no quadro do próximo estado de emergência não está equacionada uma requisição civil dos serviços de saúde" do setor privado e social"
Liberais que não só acham um salário mínimo, que garanta um mínimo de dignidade a quem o aufere, impedimento para a criação de emprego e gerador de desemprego e miséria, como defendem uma economia a competir pelos baixos salários, muitas horas por dia e poucos dias de descanso, incomodados com o "trabalho escravo" que é a hipótese defendida por Ana Gomes da requisição pelo Estado dos hospitais privados para fazer face à segunda vaga da Covid 19. Que a saúde nunca vos falte para aprenderem a diferença entre trabalho escravo, regulação do mercado do trabalho, requisição civil e parvoíce disfarçada de teoria económica.
Uma pessoa desequilibrada agride uma médica numa urgência psiquiátrica e o evento é apresentado no telejornal da RTP 1 como exemplo de agressão a profissionais de saúde num trabalho sobre as agressões no Serviço Nacional de Saúde [nos idos de Correia de Campos todos os dias nascia uma criança numa ambulância].
O que se espera da televisão pública é informação de qualidade e isenção que as televisões privadas não têm, subjugadas que estão à agenda da saúde privada [principal beneficiária da campanha cerrada de desinformação e ataque, em curso contra o SNS], pela dependência das receitas publicitárias, provenientes dos grupos económicos proprietários de hospitais privados, seguros de saúde, e com participação accionista nos media, quer pela orientação política e ideológica da redacção, nomeada pelo accionista, perante o qual responde através de resultados e objectivos pré estabelecidos pelo grupo, numa lógica de funcionamento em circuito fechado.
"Existe um sentimento de impunidade porque estes julgamentos demoram demasiado tempo". Não, o bastonário da Ordem dos Médicos, no Opinião Pública/ SIC Notícias, não se estava a referir às participações na Ordem que "bastoneia" por má prática médica, era da recente vaga de agressões a médicos e profissionais de saúde agressões falava. Da justiça pública, não da justiça privada-corporativa da Ordem dos Médicos, das eternidades e dos arquivamentos.
Os médicos são os mesmos, os enfermeiros são os mesmos, os técnicos de diagnóstico são os mesmos, os funcionários administrativos são os mesmos, os auxiliares são os mesmos. Agarramos e pregamos com eles no hospital de Setúbal, no hospital de Almada, ou até deixamo-los ficar onde estão e mudamos a administração do privado para o Estado, já em 2021 como programado pela 'geringonça' com grande alegria e satisfação, para os resultados serem diferentes e voltarmos ao tradicional descalabro dos custos a dispararem, rebaldarias de entradas e saídas, atrasos acumulados, desperdício de recursos, atendimento por obrigação como se todo o mundo lhes devesse. Tudo se resume a hierarquia, autoridade e disciplina. E vale para toda a administração pública por mais que custe à esquerda.
E se todas as mal-formações foram mesmo todas detectadas pelo obstetra mas não declaradas por o senhor ser contra o aborto, via interrupção médica da gravidez, contra os seus princípios religiosos, um fundamentalista católico?
Rui Rio "quer financiar hospitais públicos em função de resultados". Rui Rio quer aplicar ao Serviço Nacional de Saúde a mesma receita que os liberais do "menos Estado" e da "liberdade de escolha" aplicaram à educação, meter os hospitais a escolher os doentes que recebem, deixar de fora os mais problemáticos e aqueles onde a idade e a esperança de vida sejam um factor determinante nos resultados a apresentar, "martelanço" de resultados para atingir a ambicionada verba meta do financiamento público. Rui Rio quer hospitais de primeira e de segunda para portugueses de primeira e de segunda. Rui Rio desconhece a máxima "com a saúde não se brinca" e quer mudar o nome ao ministério, da Saúde para da Trafulhice.
"A primeira e maior preocupação do @_CDSPP em relação à Lei de Bases da Saúde é que as populações sejam servidas com qualidade e com tempo. Queremos servir todos os portugueses e servi-los com qualidade e com o menor custo possível para o contribuinte, certamente.", Assunção Cristas no Twitter.