"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O “alvoroço” instalou-se na classe politica europeia.
A causa: Ségolène Royal, a candidata escolhida pelo Partido Socialista Francês – com 60% de votos – para a chefia de Estado.
Ninguém melhor que António Vitorino, na sua coluna de hoje do “Diário de Notícias”, para se perceber o reboliço.
Diz Vitorino: “ (…) uma candidata socialista caracterizada pelo realismo, por um discurso menos centrado na “grande politica” e mais virado para a gestão das expectativas e dos sentimentos do quotidiano dos franceses.”
Isto tudo? Ou; só isto?!
Encontram-se aqui algumas analogias entre Ségolène Royal e o famoso discurso de Cavaco Silva, quando deixou meia praça ofendida e chocada ao dizer que não era politico profissional.
Daí, como acontece com Ségolène, a empatia recíproca eleitor/ eleito.
Correndo o risco de me tornar repetitivo; já por várias vezes aqui tenho escrito que o cidadão ao votar para cargos políticos, aposta em pessoas que resolvam o complicado e que não compliquem o que é simples. Em suma: Não inventem.
Que surpresa, vista “do lado de cá”, poderá haver em alguém que como refere António Vitorino se caracteriza pelo realismo e usa um discurso que aponta para a resolução dos problemas quotidianos, indo assim de encontro às expectativas e sentimentos da população? Nenhuma!
A surpresa só o é, para a classe politica de que António Vitorino é parte, de corpo e alma. Aquela classe que se passeia entre Lisboa e Bruxelas e nas escalas entre aeroportos ainda arranja um tempinho para uma passagem pelas televisões.
Tenho um amigo que em tom de brincadeira costuma dizer, “entreguem o Ministério das Finanças e a elaboração do Orçamento de Estado à minha mãe e à minha sogra, e em menos de um foguete o País endireita”.
É partindo desta base que se pode compreender o sucesso de Ségolène e a surpresa de Vitorino.
A classe da “grande politica” tarda em perceber que ao comum do cidadão não interessam questões de “filosofia” politica nem jogadas de bastidor. A vida, aqui na terra, passe a redundância, é mais terra-a-terra.
E ninguém, na classe da “grande politica”, pára para pensar.