"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Cuba, Venezuela, heróis cool, Che Guevara, blah-blah-blah, os valores liberais na pessoa de um rei do séc. XIX transpostos e assumidos por pessoas no séc. XXI, directamente sem "evolução das espécies".
O excelentíssimo presidente da câmara municipal da antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto é genuinamente pateta ou é só mais uma vítima da silly season e do sol a mais na moleirinha?
Só um irracional e profundo ódio a "Lisboua", à moirama, pode explicar as bojardas de alguém que anda há dezenas de anos no futebol e conhece como ninguém o comportamento dos adeptos bifes nas deslocações ao estrangeiro e a países sem restrição de venda de bebidas alcoolócias.
A TAP, como empresa privada que é, não quer ganhar dinheiro e por isso só retoma três rotas a partir do Porto?
A TAP, como empresa privada que é, está apostada em perder dinheiro com as 73 rotas a partir de Lisboa, que não fazem falta ali mas noutro ponto cardeal?
A administração da empresa privada TAP optou por 73 rotas a partir de Lisboa e três a partir do Porto só para chatear Rui Moreira, o PS Porto, Rui Rio, Pinto da Costa e qualquer um que apareça a falar do centralismo de Lisboa?
A TAP, como empresa privada que é, devia começar já com 10 voos de manhã e mais 10 à tarde, do Porto para algum lado e para lado nenhum, só porque tem as cores da bandeira portuguesa?
A TAP, como empresa privada que é, devia ter gestão pública de atirar dinheiro para aviões vazios porque o Estado detém 50% do capital e é o último a falar e quando chega a sua vez fica calado porque não tem voto na matéria?
É que convinha esclarecer uma quantidade de coisas antes de termos todos de gramar com mais populismo, agora em modo regionalismo-futeboleiro.
- a da eleição dos juízes dos tribunais pelo voto popular depois de animada campanha patrocinada pelos caciques e barões diversos dos partidos?
- a da instituição de um tribunal a jeito por cada futura região administrativa a criar, caso o povo se decida por votar "Sim" em novo referendo à regionalização?
Resumo da entrevista de Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, à SIC Notícias:
- O Porto vai sair da Associação Nacional de Municípios porque a Associação Nacional de Municípios, por unanimidade de votos dos seus membros, tomou posição à que, enquanto presidente da Câmara do Porto, considero contrária aos interesses da cidade, merecedora do estatuto de Estado-nação.
- O Tribunal de Contas, com o devido respeito, age como "força de bloqueio", com o devido respeito, porque, como dizem os 'amaricanos', no seu papel de "checks and balances" consagrado na Constituição da República Portuguesa, toma posições que eu, enquanto caudillo eleito, com o devido respeito, considero contrárias aos interesses da cidade do Porto, merecedora do estatuto de Estado-nação.
E remata com "o Poder político é a expressão do povo em democracia" depois de ter passado toda uma entrevista a criticar as decisões do poder político democrático. Com o devido respeito.
A seguir o PS, e o PS Porto que é uma espécie de PS-nação dentro do PS nacional, vai aparecer com falinhas mansas depois de ter andado anos a chocar o "ovo da serpente".
O dia em que uma parte do eleitorado descobriu que os independentes e impolutos, regeneradores da vida política e da cidadania, não só enfermam dos mesmos vícios do establishment político-partidário, velho de tantos anos quantos os anos da democracia, como também daqueles truques e 'malabarismos' contra os quais os cidadãos se organizaram em formações políticas para concorrem em eleições a cargos de administração e defesa da cousa pública.
O Partido Socialista, enquanto partido fundador da democracia, é que se devia sentir incomodado por ter sido capturado por um caudillo regionaleiro-futeboleiro com pensamento político-ideológico abaixo de zero.
Paulo Portas que, na noite do rescaldo das autárquicas 2013, apareceu em bicos dos pés nas televisões a reclamar vitória na Câmara do Porto, vai agora aplaudir o "seu presidente" portuense nas "taxas e taxinhas" que Pires 'Soldado Disciplinado' de Lima, de uma forma 'bastante peculiar' [para não ser deselegante], criticou em António Costa na Câmara de Lisboa?
«O alvo dessas alegadas tentativas de “condicionar” teria sido Luís Valente de Oliveira, de acordo a descrição à SÁBADO de duas fontes próximas de Rui Moreira. Alguém muito próximo de Cavaco Silva terá tentado convencê-lo a não apoiar o independente Rui Moreira. Mas Valente de Oliveira, que é o presidente da Assembleia Municipal de Porto, não se deixou "afectar", pelo menos tendo em conta o discurso público do novo presidente da Câmara do Porto. O ex-ministro cavaquista (foi 10 anos ministro de Cavaco e integrou o Governo de Durão Barroso) acabou por ser o mandatário da candidatura independente.
Rui Moreira estava convencido que o Presidente da República desejava a vitória de Luís Filipe Menezes, candidato oficial do PSD, por achar um risco para o sistema partidário o sucesso de um independente numa cidade tão importante. Não terá sido indiferente, também, o facto de ter sido o Palácio de Belém a advertir a Assembleia da República para a gralha na lei de limitação de mandatos: onde se lia presidente "da" câmara, devia ler-se presidente "de" câmara, o que poderia originar uma interpretação da lei mais favorável a Luís Filipe Menezes, que atingira o limite de mandatos em Gaia. Daí ter incluído o recado no discurso.
Há Menezes, um candidato "fora da lei" e campeão nacional do endividamento autárquico, o que por si só é um sério teste à inteligência e sanidade mental dos cidadãos do Porto, e Moreira, que nos intervalos das outras coisas [desde o futebol ao aeroporto de Alcochete], é presidente da Associação Comercial do Porto. É por isso que a gente gosta muuuuuito da democracia, as pessoas podem fazer com o seu voto o que muito bem entenderem.
Com o apoio da nobreza e com a bênção do clero, está prestes a rebentar uma espécie de guerra da Jugoslávia nessa espécie de “país”, esse (E)estado de excepção permanente, da justiça às leis do trabalho e com passagem pelo futebol e às vezes tudo misturado, que dá pelo nome de “Norte”.
Onde se transcreve excerto da entrevista de Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, concedida ao Público / Rádio Renascença, que mui bem ilustra o sentimento de claustrofobia referido pelo deputado Paulo Rangel no discurso comemorativo do 25 de Abril, proferido no Ano da Graça de 2007. Fica o blogue a aguardar futura entrevista em que o tema seja, o sentimento de claustrofobia, quando o poder político fica refém das decisões do poder económico. Não é o caso nem o momento. Mas acontece. E com mais frequência do que possa parecer.
(O negrito nas respostas é da responsabilidade do escriba-copista.)
Não acha estranho que seja um tabu saber quem financiou o estudo apresentado pela CIP?
- Não. A Associação comercial do Porto iria financiar de uma forma assumida, como estava previsto no início (ver edição de ontem do Público). Numa sociedade civilizada e num país desenvolvido, é impensável que quem financia um estudo destes se tenha que esconder. Infelizmente, o que acontece é que alguns empresários – e não só, outras pessoas também – têm receio de sofrer as consequências. E isso é gravíssimo.
Que consequências?
- Que qualquer posição que seja entendida como hostil ao Governo possa ter consequências nas suas empresas, nos negócios e tudo mais. Que isso é um sentimento patente na sociedade portuguesa, é. O meu colega (da direcção da ACP) Paulo Rangel, que é um ilustre deputado, no discurso do dia 25 de Abril disse tudo o que tinha a dizer sobre a claustrofobia que se vive.
E o senhor assina por baixo?
- Ah, completamente. Assino por baixo, completamente.
Mas isso é um mito ou uma realidade?
- Não é um mito. É uma realidade. Passa-se nas empresas. Quem está ligado a este mundo associativo ou das empresas, compreende que, se uma empresa tomar determinadas atitudes que contrariem a vontade dos governantes, pode amanhã ser penalizada por isso.
Mas é um fenómeno que acontece só com este Governo ou que se tem passado com outros?
- Não é especificamente com este Governo. Mas já havia algum ruído de fundo relativamente a esta coisa. Se calhar é mais patente porque o país vive uma contradição maior, porque está em crise. Neste momento, sente-se mais, embora sempre se tenha sentido. E eu percebo que as empresas se queiram proteger, que um empresário diga: “Eu dou cinco mil contos para isso, mas não quero ter maçadas”. Desculpem a expressão, mas é um pouco essa. Mas que maçadas? Maçadas com o Governo, amanhã vou ter um problema qualquer, vou ser mal visto. É um pouco isso.
E acha que isso é um dos entraves ao desenvolvimento da economia portuguesa?
- Ai com certeza que é. Quanto mais informalidade tivermos, quanto menos transparente for a nossa economia, quanto menos transparente for quem são os donos das empresas, quem são os clientes, quem são as pessoas que fazem os estudos e para quem são… Acabamos por ter um poder-sombra, porque esse não é o poder em que nós votamos. Quando cada um de nós vota num partido, não vota nisso, num poder que não está devidamente estruturado e, em rigor, é antidemocrático. Mas, além disso, tem um efeito muito nefasto na economia portuguesa, na medida em que uns são afastados, que podiam ser os melhores para desempenhar uma tarefa. E acabamos por escolher os segundos, que são os piores. Nessa medida, é péssimo. È um péssimo sintoma.