"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Alexandra Leitão, secretária de Estado da Educação, desmonta a posição da direita radical nos contratos de associação recorrendo a um texto enviado ao Tribunal de Contas pelo Ministério da Educação do Governo da direita radical – PSD/ CDS.
Nuno Godinho de Matos, o rosto da promiscuidade entre política e negócios, apoia António Costa. E um gajo que assaltou uma mercearia, o rosto da pequena criminalidade, que apoia António Costa. E outro que teve sexo com uma galinha, o rosto da depravação, que também vota em António Costa.
Jorge Reis Novais, Professor Associado do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa dá, na televisão pública e em horário nobre, uma aula de Direito Constitucional e Direitos Fundamentais ao deputado do CDS/PP João Almeida e ao aprendiz de feiticeiro Ricardo Arroja. Se lhes foi proveitosa ou se lhes ficou alguma coisa dentro das cabecinhas ocas são contas de outro rosário.
Oliver Hirschbiegel realizou um filme sobre alguém que pensava assim, "Se eu falhar a minha missão é o país que falha", de seu nome A Queda e, ao contrário do que muitos possam pensar, o filme não é sobre a guerra, não é sobre o nazismo, não é sobre ideologia, nem sequer é sobre a Alemanha e os alemães, é sobre a insanidade e a loucura. Só mais uma, ou ainda mais esta: "Fui escolhido talvez na época mais difícil para Portugal desde 1974". Não foi eleito, foi escolhido. O Homem. Isto começa a tomar proporções assutadoras.
Ouvir umas bestas, e estou a ser minimamente educado, que não deram em alcoólicos apesar de crescidos e educados e formados num país de tabernas de portas abertas, defender, num programa de televisão, ao vivo e em directo, o fechar de portas das smartshops porque os filhinhos podem cair no mundo da droga e da toxicodependência. Se isto não é a assumpção da sua total falência enquanto pais e educadores…
E serviço público de televisão era, de cada vez que nos debates televisivos interviesse um paineleiro, passasse em rodapé o curriculum vitae do ilustre. Por exemplo, no Prós e Contras desta segunda-feira, falava António Borges e apareciam ali as letrinhas a correr devagarinho da direita para a esquerda:
Vice-Governador do Banco de Portugal, ex-Vice-Presidente do Conselho de Administração da Goldman Sachs, ex-Administração do Citibank, ex-BNP Paribas, ex-Petrogal, ex-Sonae, ex-Cimpor e ex-Vista Alegre, ex-qualquer coisa no FMI, actual conselho de administração da Jerónimo Martins e ministro do Governo PSD-CDS/PP para as privatizações.
Falava depois Vítor Bento e novamente o rodapé deslizante:
Conselheiro de Estado, director do Departamento de Estrangeiro do Banco de Portugal, ex-presidente do Conselho de Administração da SIBS, administrador da Galp.
E assim sucessivamente.
E desta forma o cidadão mais distraído destas coisas do debate da Economia ficava a perceber melhor o que é que querem dizer quando lhe falam em baixar salários e em cortar reformas e pensões.
O função do programa Prós e Contras, todas as segundas-feiras na RTP1, com ilustres opinadores que vão desde sociólogos da Nação a psicólogos da Pátria, passando por opinion makers e líderes [natos e inatos], vendedores de banha da cobra e profissionais de ballet, tal é a facilidade com que andam em bicos dos pés, serve para o cidadão comum aferir semanalmente o seu índice de normalidade e perceber que há uma minoria lá fora, e fora da vida real, a viver numa realidade paralela e a necessitar urgentemente de tratamento. Ontem foi a confirmação definitiva. Serviço público de televisão, portanto.
"Portugal está onde estão os portugueses e os seus interesses" ou "Portugal está onde estão os seus interesses e os [dos] portugueses", o que para o caso vai dar no mesmo, disse, mais ponto menos vírgula, Paulo Portas na Grande Entrevista da RTP1 e a propósito do encerramento das embaixadas.
É por isso que encerrámos a embaixada em Andorra e mantivemos uma embaixada em Roma e outra no Vaticano, separadas entre si por meia centena de metros, digo eu.
Se eu não tivesse estado no congresso do PSD em Mafra e visto, ao vivo e a cores, Alberto João Jardim levantar-se da cadeira, atravessar meia sala, e ir sentar-se ao lado de Paulo Rangel, até era homem para levar a sério a não ida de Pedro Passos Coelho às ilhas adjacentes na campanha eleitoral. Cá se fazem cá se pagam e há mais marés que marinheiros e essas coisas assim.
Também gostei daquela parte dos grandes cortes na despesa terem sido incorporados pelo anterior Governo e da “novidade” que foi a RTP gastar mais que a Presidência do Conselho de Ministros, e menos que o Canal 18 que só passa enlatados e entalados [parafraseando, esta última parte é da minha responsabilidade mas agrada-me particularmente].
De qualquer forma dei por bem empregue o tempo, sempre desenjoou de ser sempre Mário Crespo na SIC Notícias aquela hora, e o rapazito, o entrevistador, safa-se, serviço público.
Adenda: Pareceu-me ter ouvido qualquer coisa sobre empresas que têm de ser vendidas nem que seja a €1. Deixa-me deitar a adivinhar... É Mira Amaral quem vai comprar?
Uma coisa que toda a gente há muito percebeu é que o PCP controla a CGTP. Uma coisa que José Sócrates nunca há-de perceber é que as pessoas não saem para a rua em manifs. só porque o PCP, por interposta pessoa a CGTP, as manda sair. Quando José Sócrates e o PS conseguirem ir mais longe que a lengalenga dos “sindicatos responsáveis” e quase “com sentido de Estado” vão perceber o que toda a gente também já há muito percebeu, que a UGT está para os governos - quaisquer que eles sejam - desde a data da sua criação, como a CGTP está para o PCP. E quando daqui por uns anos se fizer a história do fim do sindicalismo em Portugal, o papel reivindicativo, que é disso que vivem os sindicatos, fica para a CGTP, e o papel de coveiro para o senhor responsável. Neste caso, literalmente responsável.
(Na imagem War Protest, 1935, fanada no Chicago Tribune)
Em entrevista a Judite de Sousa, o camarada secretário-geral “temos profundas inquietações” e como tal o camarada secretário-geral “acompanhamos profundamente” e “consideramos” que os “profundos problemas” do “nosso” ponto de vista” porque “somos eleitos e respeitamos o mandato”.
Camarada secretário-geral, não é por nada, mas ao dono deste blogue vai-nos faltando a paciência para quem, “profundamente”, nos fala na primeira pessoa do plural.