"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Haviam de ter uma imprensa hard-core como a britânica, que descasca a vida pública, e familiar até à 5.ª geração, incluindo todas as variantes da árvore genealógica, nas primeiras páginas dos jornais, com fotografias e tudo. Mas isto já sou eu a pensar alto
«As suas percepções de movimentos e de coisas não lhe lembravam outros movimentos e outras coisas mas sensações e sentimentos: e não se lembrava dessas sensações e desses sentimentos como uma coisa passada, antes os vivia de novo, como se se tratasse de algo presente: não se lembrava de vergonha ou de repugnância, mas envergonhava-se e sentia repugnância agora que se lembrara sem ser capaz de recordar as coisas que lhe causaram vergonha e repugnância. A mistura de repugnância e de vergonha era tão forte que todo o seu corpo começou a tremer.»
Peter Handke, "A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty".
Pressão é começar a fazer contas de subtrair logo a partir do dia 15 de cada mês; pressão é aguentar tudo e mais alguma coisa ao patrão, perdão, ao empresário, porque se tem lá em casa 2 filhos para alimentar e educar; pressão é ir de férias sem subsídio e na volta encontrar a fábrica fechada porque sim. Querem falar sobre pressão?
«Ricardo Rodrigues é um grande deputado que teve um acto irreflectido sob pressão e saberá tirar disso as consequências com elevação.», Carlos Zorrinho dixit.
E como vai agora começar a espiral dos recursos, continua sentado no Parlamento, deputado eleito da Nação, membro do Conselho Geral do Centro de Estudos Judiciários e da Comissão Parlamentar para a Ética, a Cidadania e a Comunicação.
A sucessão de Carlos César no Governo Regional dos Açores justifica a atitude contraproducente que é o Partido Socialista continuar a apostar em personagens deste calibre?
Ricardo Rodrigues tem de aparecer, tem de ganhar notoriedade, tem de ser mediático, tem de entrar na calha para a sucessão. No jogo de cumplicidades políticos/ media, media/ políticos é um risco que o PS arrisca correr, quiçá alicerçado na máxima de Jorge Coelho de que “há muita fraca memória na política e nos políticos”. E nos eleitores?
O senhor deputado que se viu envolvido num caso de «burla qualificada e falsificação de documentos» e que por acaso ironia do destino é o representante do PS numa comissão parlamentar – sublinho parlamentar – para a corrupção, é um apologista da máxima salazarista do “o respeitinho é muito bonito”; um tiranete em potência e, quiçá, membro do clube daqueles que colocam “doutor” antes da assinatura.
Definitivamente este grupo parlamentar do PS foi escolhido a dedo. Cada escavadela cada minhoca:
A pessoa que nos quis fazer crer que havia algo mais para além da verdade oficial é a mesma pessoa que jura a pés juntos que não sabia nada mais para além da verdade oficial. Entre um que abre a boca só “porque sim” e outro que abre a boca só para “sair asneira” ficamos todos com a estranha sensação de que toda a gente sabe do que constam as escutas… excepto nós, e que se as escutas fossem tão graves como as pintam, há já muito que tinham aparecido plasmadas na primeira página dum jornal ou na abertura de um telejornal “de referência”, nem que fosse “de referência” criminosa.
É o que o povo chama de “ir à merda com uns pauzinhos” e faz-me lembrar aquela anedota do fulano que ia na rua e viu uma massa orgânica de cor acastanhada no passeio: “isto parece merda de cão…”, agachou-se, cheirou, “isto cheira a merda de cão…”, com o dedo tira um bocado e leva aos lábios para provar, “isto sabe a merda de cão… ainda bem que não pisei!”
(Na imagem November 23, 1912, Providence, Rhode Island, Photo and caption by Lewis Wickes Hine)