"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Circula por aí um clip onde Maria João Avillez, alegada jornalista, questiona Ricardo Costa sobre a oficialidade [veracidade] dos números apresentados pela polícia que deitam por terra a teoria da direita, cada vez mais radical, da insegurança pela percepção, "um relatório estranhíssimo". E a senhora por lá vai continuar, em horário nobre, a deturpar realidades e a truncar informação, como diria o outro, a torcer a estatística até que ela diga o que a dona Maria João quer que seja dito. E não, isto não tem nada a ver com liberdade de expressão. E não, isto não tem nada a ver com cancelamento. Isto tem a ver com sanidade e rigor, porque a seguir vamos ter, também em horário nobre, um chalupa anti-vacinas, um terraplanista, ou um criacionista, a questionarem todo edifício cientifico que nos trouxe até ao séc. XXI, o retrocesso civilizacional pela casa dentro desde a caixa da televisão. Por coincidência, e só por coincidência, todos na órbita da direita política.
Dois dias depois de Ricardo Costa, "Jornalista @sic.sapo.pt e @Expresso.sapo.pt Retweets are not endorsements; views are my own" e blah-blah-blah [bio na conta Twitter], ter chamado a atenção para um texto de Mônica Bergamo da Folha de S. Paulo sobre o tratamento abaixo de cão dos jornalistas na tomada de posse de Jair Boldonaro e, tão importante como o texto, "é lerem os comentários que se seguem", [as caixas de comentários e as redes sociais e o anonimato e a cloaca e o coise, estão a ver?], a TVI convida para o programa da manhã de Luís Goucha o neo-nazi Mário Machado, um criminoso condenado por roubo, coacção agravada, detenção de arma ilegal, danos e ofensa à integridade física qualificada, difamação, ameaça e coacção a uma procuradora da República, homicídio de Alcino Monteiro, o preso em Portugal que mais tempo passou numa prisão de alta segurança, apresentado como o "Nacionalista desde da adolescência, esteve preso por dois anos e meio por escrever um texto na internet a apelar à mobilização dos nacionalistas".
Voltando ao início do post, as caixas de comentários e as redes sociais e o anonimato e a cloaca e o coise e blah-blah-blah, estão a ver [o papel do jornalismo]?
Ricardo Costa: "Como é que reage quando lhe lembram a Cimeira das Lajes e o papel que teve na Cimeira das Lajes [...]?"
Durão Barroso: "Bom... como é que reajo... ouço as críticas, conheço as críticas, [...] aaa... aliás na altura com o apoio [o rosto ilumina-se-lhe com um esboço de sorriso] do Parlamento português e com o apoio do Presidente da República de Portugal doutor Jorge Sampaio [...]"
Durão Barroso não foi o mordomo das Lajes. O mordomo das Lajes foi Jorge Sampaio. O mordomo das Lajes foi Durão Barroso porque Jorge Sampaio e o Parlamento disseram que sim. O mordomo das Lajes não foi um foram dois, foram Jorge Sampaio e o Parlamento português com Durão Barroso no papel de mordomo do mordomo, se calhar até contra vontade.
Caso as eleições por cá fossem a uma quinta-feira, como na Bifelândia, íamos ter os opinadores publicados, que agora não se cansam de perguntar “porque é que em Portugal as eleições não são a uma quinta-feira como na Bifelândia?” no dia a seguir à publicação dos resultados divididos em duas sub-categorias distintas, descendentes da categoria mãe, a do "lá fora é que é bom:
A primeira: a categoria "é como a Maria Piça tudo o que vê cobiça", a escrever textos inflamados contra o patrão que não deixou o trabalhad... colaborador sair para votar na hora do expediente, que se quiser que vá votar na hora do almoço que trabalho é trabalho e democrac... coganc é cognac, mas na hora do almoço é para almoçar, aqueles que têm hora de almoço, para já não falar naqueles que trabalham nas fábricas a quilómetros da cidade e que nem na hora do almoço quanto mais, mais aqueles que nem tiveram tempo para se coçar numa correria de casa para o trabalho e os miúdos na escola e as compras para o jantar, e só os calaceiros das câmaras e da função pública é que foram, votar vejam só.
A segunda: a categoria "a mulher do outro é sempre melhor que a minha", caladinha, quase sem respirar para não mexer os lábios não vá alguém pensar que querem dizer alguma coisa, a esfregar as mãos de satisfação dentro dos bolsos, contentinha da silva por a abstenção ter sido de tal forma elevada que beneficiou o partido que convinha beneficiar, para a próxima fazemos as eleições a uma segunda-feira a seguir a um fim-de-semana de 3 dias com feriado na sexta.
Porque é que nós não temos um Guardian, um Independent ou um Telegraph? Falta de assunto é isto.
Um deputado do PSD, à imagem da bancada parlamentar que integra, resolveu fazer o papel daqueles senhores que no teatro estão dentro duma caixinha na boca do palco, o ponto, a dar as deixas quando os actores têm uma branca ou se baralham todos, só que deste vez o beneficiário do frete, travestido de iniciativa parlamentar para dar respostas às preocupações dos cidadãos, não foi o Governo mas o Governador do Governo da Banca no Banco de Portugal, com uma pergunta "combinada" [entre aspas], de molde a Carlos Costa ter uma saída limpa e airosa do affair "indultados" do BES [pena o senhor deputado não se ter lembrado de inquirir o senhor Governador aquando da aquisição do filho de Durão Barroso para o plantel do banco central. Adiante...].
Há bocado Ricardo Costa, do Expresso, na televisão do regime do pensamento único, a SIC/ SIC Notícias, em tom irónico dizia que, com esta iniciativa, o PSD estava a fazer o papel do Bloco de Esquerda. À parte o Bloco não ter feito o papel do Bloco, e que seria encostar Carlos Costa à parede e não fazer um frete a Carlos Costa, este comentário do ainda director do ex "há 40 anos a fazer opinião" actual "liberdade para pensar" e futuro "plantador oficial de spin" mostra bem a dimensão jornalística e cidadã do cidadão e jornalista Ricardo Costa: caladinhos, respeitinho, não fazer ondas nem perguntas incómodas ou complicadas. Governa e decide quem pode, obedece e faz quem deve. E a imprensa à frente do palco dentro da caixinha
Independentemente da gravidade dos factos e do mais que ainda há para saber e do que vier a seguir, a pouco e pouco a agulha vai sendo deslocada para o lado de Silva Carvalho como forma de desviar as atenções do lado de Miguel Relvas.
O Expresso versão Hola: Cristiano Ronaldo namora (namorava) com Nereida Gallardo, e é tudo absolutamente normal, não há adultério, nem incesto, e tal, mas como não badalou para todo o mundo saber, nós publicamos as fotos.